sexta-feira, 3 de março de 2017

Derrocada na Graça: “Os moradores não vão pagar nada. No fim, logo se vê quem paga a conta


Derrocada na Graça: “Os moradores não vão pagar nada. No fim, logo se vê quem paga a conta”

MARTA GONÇALVES
02.03.2017 às 20h27

Fernando Medina fala numa “situação de tragédia”. Até ao momento, 78 moradores da rua Damasceno Monteiro, junto à Graça (uma das zonas históricas de Lisboa), foram obrigadas a deixar as suas casas devido à derrocada do muro de um condomínio privado. Os moradores asseguram que “há anos” que alertavam as autoridades. A Câmara está a apurar responsabilidades e, por agora, vai cobrir todas as despesas

Já são 78 as pessoas afetadas pelo aluimento de terras ocorrido no início da semana na Graça, em Lisboa. Esta quarta-feira, mais um prédio teve de ser evacuado. Ainda não foi apurada a causa para aquilo que Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa, classificou como “situação de tragédia”. As traseiras dos números 102, 104, 106, 108 e 110 da rua Damasceno Monteiro estão a ser inspecionadas para que sejam apuradas responsabilidades.

“Da pequena vistoria que foi realizada esta quinta-feira pelo departamento de obras da Câmara Municipal de Lisboa, não sê necessidade de demolir algum prédio, ao contrário do que já se ouvia por aí”, diz ao Expresso fonte da autarquia.

O muro em causa é propriedade privada. Pertence ao condomínio Vila da Graça, no bairro Estrela d'Oiro, e sustenta parte do jardim que fica ao nível do último andar dos prédios que tiveram de ser evacuados.

Para poder resolver toda a situação, a Câmara tomou posse administrativa do muro e da área envolvente para que se possa dar início às obras de requalificação. Já foi contactada e contratada “uma equipa de especialistas exteriores para avaliar quais as condições para proceder às obras”. Quanto aos custos, nesta primeira fase são todos assumidos pela autarquia.

“Não há provavelmente grandes prejuízos. A existirem serão relativamente reduzidos. O prejuízo que há é na vida das pessoas, que tiveram de ser realojadas”, diz ao Expresso fonte da Câmara de Lisboa. “Os moradores não vão pagar nada. No fim, logo se vê quem paga a conta. Por agora, é assegurado pela Câmara de Lisboa”, acrescenta.

Pouco faltava para as 6h de segunda-feira quando o muro ruiu devido a um deslizamento de terras nas traseiras dos edifícios da rua Damasceno Monteiro. Provocou danos em quatro edifícios de habitação e em algumas viaturas.

CÂMARA JÁ TINHA SIDO AVISADA?
“Há 15 anos”, os moradores da Damasceno Monteiro deram o primeiro alerta de que o muro poderia ruir. Há muito que, dizem, se espera que o bloco de cimento erguido que sustentava o jardim do condomínio desmoronasse. Havia fissuras e ervas a nascer. Era uma questão de tempo, apontam.

“Foram imensos os alertas e temos a documentação em nosso poder, com as missivas que foram enviadas tanto à Câmara como ao condomínio Vila da Graça, alertando para esta situação”, acusa Rui Rodrigues, representante do prédio número 108, citado pela agência Lusa.

Questionada pelo Expresso, a Câmara Municipal diz ainda estar a apurar se estes alertas existiram.

“Há sucessivas chamadas de atenção por parte de moradores relativamente aquele muro, em que a Câmara vez ouvidos moucos e que não deu qualquer desenvolvimento. O problema passa, essencialmente, pelos serviços da Câmara se focarem naquilo que são obras de embelezamento da cidade e o resto acaba por ser absolutamente secundário. É uma gestão de maquilhagem”, acusa o vereador do CDS João Gonçalves Pereira, que refere ainda que os prédios na rua Damasceno Monteiro não são caso único na capital. “Um exemplo é uma escarpa no bairro Caramão, na Ajuda”, diz.

“A questão é saber se porque é que as Câmara não agiu atempadamente. Se porque desconhecia, o que me parece preocupante, ou se desconhecia e não agiu, o que me parece ainda mais grave”, considera António Prôa, vereador do PSD.

Para João Ferreira, do PCP, “há o dever, quando existem estruturas particulares que comportam risco para a segurança de pessoas e bens, de intervir no sentido de resolver a situação e depois imputar os custos aos proprietários e isso não foi feito”.

Durante a visita ao local, Fernando Medina listou prioridades: a primeira é “proteger as pessoas”, a segunda “recuperar a segurança do espaço físico afetado” e por último “apurar integralmente as responsabilidades”.

“Todas as questões relativamente à responsabilidade da ocorrência serão apuradas no devido tempo”, frisou quando confrontado sobre o facto de a autarquia já ter sido alertada pelos moradores.


Ainda é desconhecido o tempo que as pessoas afetadas vão ficar afastadas de suas casas. Por agora, estão previstas reuniões diárias entre a Proteção Civil, a autarquia e os moradores de forma a apurar o desenvolvimento dos trabalhos

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