Derrocada
na Graça: “Os moradores não vão pagar nada. No fim, logo se vê
quem paga a conta”
MARTA
GONÇALVES
02.03.2017
às 20h27
Fernando
Medina fala numa “situação de tragédia”. Até ao momento, 78
moradores da rua Damasceno Monteiro, junto à Graça (uma das zonas
históricas de Lisboa), foram obrigadas a deixar as suas casas devido
à derrocada do muro de um condomínio privado. Os moradores
asseguram que “há anos” que alertavam as autoridades. A Câmara
está a apurar responsabilidades e, por agora, vai cobrir todas as
despesas
Já são 78 as
pessoas afetadas pelo aluimento de terras ocorrido no início da
semana na Graça, em Lisboa. Esta quarta-feira, mais um prédio teve
de ser evacuado. Ainda não foi apurada a causa para aquilo que
Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa, classificou como
“situação de tragédia”. As traseiras dos números 102, 104,
106, 108 e 110 da rua Damasceno Monteiro estão a ser inspecionadas
para que sejam apuradas responsabilidades.
“Da pequena
vistoria que foi realizada esta quinta-feira pelo departamento de
obras da Câmara Municipal de Lisboa, não sê necessidade de demolir
algum prédio, ao contrário do que já se ouvia por aí”, diz ao
Expresso fonte da autarquia.
O muro em causa é
propriedade privada. Pertence ao condomínio Vila da Graça, no
bairro Estrela d'Oiro, e sustenta parte do jardim que fica ao nível
do último andar dos prédios que tiveram de ser evacuados.
Para poder resolver
toda a situação, a Câmara tomou posse administrativa do muro e da
área envolvente para que se possa dar início às obras de
requalificação. Já foi contactada e contratada “uma equipa de
especialistas exteriores para avaliar quais as condições para
proceder às obras”. Quanto aos custos, nesta primeira fase são
todos assumidos pela autarquia.
“Não há
provavelmente grandes prejuízos. A existirem serão relativamente
reduzidos. O prejuízo que há é na vida das pessoas, que tiveram de
ser realojadas”, diz ao Expresso fonte da Câmara de Lisboa. “Os
moradores não vão pagar nada. No fim, logo se vê quem paga a
conta. Por agora, é assegurado pela Câmara de Lisboa”,
acrescenta.
Pouco faltava para
as 6h de segunda-feira quando o muro ruiu devido a um deslizamento de
terras nas traseiras dos edifícios da rua Damasceno Monteiro.
Provocou danos em quatro edifícios de habitação e em algumas
viaturas.
CÂMARA JÁ TINHA
SIDO AVISADA?
“Há 15 anos”,
os moradores da Damasceno Monteiro deram o primeiro alerta de que o
muro poderia ruir. Há muito que, dizem, se espera que o bloco de
cimento erguido que sustentava o jardim do condomínio desmoronasse.
Havia fissuras e ervas a nascer. Era uma questão de tempo, apontam.
“Foram imensos os
alertas e temos a documentação em nosso poder, com as missivas que
foram enviadas tanto à Câmara como ao condomínio Vila da Graça,
alertando para esta situação”, acusa Rui Rodrigues, representante
do prédio número 108, citado pela agência Lusa.
Questionada pelo
Expresso, a Câmara Municipal diz ainda estar a apurar se estes
alertas existiram.
“Há sucessivas
chamadas de atenção por parte de moradores relativamente aquele
muro, em que a Câmara vez ouvidos moucos e que não deu qualquer
desenvolvimento. O problema passa, essencialmente, pelos serviços da
Câmara se focarem naquilo que são obras de embelezamento da cidade
e o resto acaba por ser absolutamente secundário. É uma gestão de
maquilhagem”, acusa o vereador do CDS João Gonçalves Pereira, que
refere ainda que os prédios na rua Damasceno Monteiro não são caso
único na capital. “Um exemplo é uma escarpa no bairro Caramão,
na Ajuda”, diz.
“A questão é
saber se porque é que as Câmara não agiu atempadamente. Se porque
desconhecia, o que me parece preocupante, ou se desconhecia e não
agiu, o que me parece ainda mais grave”, considera António Prôa,
vereador do PSD.
Para João Ferreira,
do PCP, “há o dever, quando existem estruturas particulares que
comportam risco para a segurança de pessoas e bens, de intervir no
sentido de resolver a situação e depois imputar os custos aos
proprietários e isso não foi feito”.
Durante a visita ao
local, Fernando Medina listou prioridades: a primeira é “proteger
as pessoas”, a segunda “recuperar a segurança do espaço físico
afetado” e por último “apurar integralmente as
responsabilidades”.
“Todas as questões
relativamente à responsabilidade da ocorrência serão apuradas no
devido tempo”, frisou quando confrontado sobre o facto de a
autarquia já ter sido alertada pelos moradores.
Ainda é
desconhecido o tempo que as pessoas afetadas vão ficar afastadas de
suas casas. Por agora, estão previstas reuniões diárias entre a
Proteção Civil, a autarquia e os moradores de forma a apurar o
desenvolvimento dos trabalhos
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