( …) “Mas lembro
que foi aprovado unanimemente em reunião de Câmara e pela Direcção
Geral do Património Cultural. “( ESTHER MUCZNIK )
Aprovado pela
Comissão Técnica de Apreciação ou Comissão Facilitadora
"neutralizadora" do PDM garantindo uma Via Verde a Manuel
Salgado servindo a “obra de autor” em assumida ruptura e
arrogante desprezo pela envolvente Patrimonial e pelo contexto
histórico? Não se discute o direito à existência do Museu Judaico
neste local. Discute-se a violência afirmativa por demarcação e
arrogância autista da linguagem arquitectónica escolhida e
"aprovada"!
OVOODOCORVO
Museu
judaico, assim? Sim!
Não “corta com a
tradição do bairro”, reata com ela evocando os tempos em que aí
viveu uma comunidade judaica.
ESTHER MUCZNIK
21 de Março de
2017, 7:59
O processo que
tornou possível a criação do Museu Judaico de Lisboa data de 1996.
Foi precisamente há 21 anos que, em nome da Comunidade Israelita de
Lisboa, fiz a proposta ao então presidente da Câmara de Lisboa,
João Soares. A proposta foi bem acolhida, mas não havia meios
disponíveis. Apesar disso, ao longo dos anos nunca desistimos:
falámos com todos os presidentes que se sucederam, elaborámos
programas museológicos, projectos de arquitectura, estudos de
viabilidade, visitámos espaços diferentes, em locais diferentes.
Mas os meios escasseavam de um lado e do outro. Até que a
oportunidade surgiu ainda no mandato de António Costa e
principalmente na gestão de Fernando Medina o que, ao desbloquear a
situação, nos permitiu receber o apoio financeiro fundamental da
Fundação Lina e Patrick Drahi, viabilizando o Museu.
Lisboa vai ter assim
um museu judaico. Um museu que vai contar pela primeira vez ao grande
público português e estrangeiro, a longa e rica história da
presença judaica em Portugal e da sua cultura específica. Uma
história que se inicia antes mesmo da nacionalidade, mas que dela
faz parte integrante. Um trecho dessa história aconteceu em Alfama,
onde ainda se pode ver uma rua a “ Rua da Judiaria” que vai ter
directamente ao Largo de São Miguel onde será o futuro museu. Foi
aí que os judeus criaram no reinado de D. Pedro I um dos seus
bairros judaicos, a Judiaria de Alfama. Aí também edificaram a sua
sinagoga entre 1373-74 cuja localização identificada por Augusto
Vieira da Silva se situava no nº 8 do Beco das Barrelas, a poucos
metros do espaço previsto para o Museu Judaico. Foi aí que terão
vivido até ao édito de expulsão e baptismo forçado em 1496-97.
Por tudo isto, sim, tem todo o sentido o museu situar-se no local
onde viveu uma comunidade judaica. E não, não “corta com a
tradição do bairro”, reata com ela evocando os tempos em que aí
viveram, em convivência com a população em redor.
É essa convivência
que o Museu Judaico procurará sempre manter com a população em
redor, associando-a às suas actividades e procurando interagir com
ela. Esta vontade de integração e interação no bairro esteve
sempre presente na mente dos seus fundadores e contrariamente ao que
tem sido dito, reflecte-se no também no projecto de arquitectura do
Museu: na sua altura, em primeiro lugar, que está precisamente ao
mesmo nível dos prédios do Largo; no respeito, em parte
significativa da sua fachada, das características dos imóveis que o
rodeiam. Mas é verdade que outra parte da fachada traz um elemento
contemporâneo inovador: no seu formato, no tipo de material
utilizado, na estrela de David estilizada. E por que não? Existem
por todo o lado inúmeros exemplos de convivência harmoniosa entre
velho e novo, antigo e contemporâneo, popular e “obra de autor”.
Levantaram quase sempre protestos veementes: basta lembrar como foram
recebidos na altura o Centro Georges Pompidou em Paris ou o Centro
Cultural de Belém, em Lisboa, para já não falar do ícone da
capital francesa, a Torre Eiffel ou, provavelmente, o Elevador de
Santa Justa.
Não pretendo
comparar o incomparável e admito perfeitamente que haja quem não
goste do projecto do Museu judaico de Lisboa. Mas lembro que foi
aprovado unanimemente em reunião de Câmara e pela Direcção Geral
do Património Cultural. Não é pois nenhum equipamento selvagem e
muito menos ao arrepio dos moradores: há vários anos que uma grande
tela no espaço previsto para o museu, anuncia a sua instalação
exibindo a imagem prevista para a fachada…. E contrariamente ao que
tem sido escrito não se trata de nenhum “mamarracho intrusivo”
em conflito com os prédios que o rodeiam, nem tirará nenhum
“protagonismo” à Igreja de São Miguel com a qual viveremos,
estou certa, em diálogo ameno…
Estudiosa de temas
judaicos
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