Lisboa.
Som dos bares ligado em tempo real à Polícia Municipal
Termina
o prazo de adaptação dado aos comerciantes. Multas para quem puser
música a partir das 23.00, sem limitador de som, começam nos mil e
podem chegar aos 15 mil euros
08 DE MARÇO DE 2017
Ana Bela Ferreira
A vida noturna na
cidade vai mudar a partir de amanhã. Depois das 23.00, só podem ter
música os estabelecimentos que tenham colocado um aparelho limitador
de som aprovado pela Câmara Municipal de Lisboa (CML). E as portas e
janelas têm de estar fechadas. Também as lojas de conveniência
passam a funcionar apenas entre as 06.00 e as 22.00. As alterações
abrangem toda a cidade, com exceção da zona ribeirinha onde não há
zonas residenciais.
As regras entraram
em vigor em novembro, mas os comerciantes tiveram 120 dias - que
terminam amanhã - para se adaptarem. Muitos ainda estão a fazê-lo
e não têm sequer uma decisão tomada, como constatou o DN junto de
vários bares e cafés do Cais do Sodré e com a Associação de
Comerciantes do Bairro Alto. "Ainda há muitas dúvidas que
precisam de ser esclarecidas", refere Hilário Castro, o
presidente da associação.
Segundo o
responsável, os bares e discotecas com espaço de dança já tinham
feito todas as alterações necessárias, faltando apenas "os
bares e casas de fado" que "estão a ponderar o que é
melhor, se fazer o investimento para o limitador ou eliminar o som
ambiente que faziam, depois das 23.00".
Essa é a grande
dúvida para alguns dos espaços. Se investem ou não, no aparelho
que vai medir em tempo real o som que produzem. O bar O"Gilins,
no Cais do Sodré, comprou o aparelho, que há de chegar, vindo da
Holanda, explica Joana Pinho. "Se não chegar a tempo vamos ter
de limitar o barulho, até que esteja tudo a funcionar. Há sítios
que não têm o aparelho ainda e que não vão abrir até terem, por
medo de serem multados", acrescenta a jovem que também trabalha
num bar no Bairro Alto.
No caso deste irish
pub, o investimento foi de "cerca de 1330 euros no limitador,
mais 100 a 150 euros na instalação do aparelho". Esta caixa
que fica ligada aos aparelhos que produzem som e tem um microfone no
meio da sala para apanhar o som ambiente tem que ser de uma empresa
aprovada pela autarquia. Depois é selada e fica a emitir em tempo
real para que a Polícia Municipal e para a CML. "Sempre que se
passar o nível médio definido a polícia recebe um sinal",
aponta Joana Pinho. As multas começam nos 1000 euros e podem chegar
aos 15 mil.
Na instalação do
aparelho "é medido o ruído no interior do espaço e na casa de
um vizinho para definir os decibéis médios que podem ser
atingidos", acrescenta. Além do limitador de ruído, este
espaço vai ter as portas fechadas a partir das 23.00. No bar do
Bairro Alto onde Joana trabalha, a porta pode ter de ser alterada por
causa desta regra. "É de madeira normal, se estiver fechada
ninguém percebe que ali é um bar", justifica.
Hilário Castro
defende que "devia haver isenções para espaços como
restaurantes com música ambiente ou casas de fado que funcionam até
às 02.00". Embora também reconheça que "esta medida se
compreenda e justifica, em certa medida". Até porque se trata
de "um regulamento para a cidade". "Há que melhorar
estas duas vivências: o comércio e habitação. Efetivamente
aqueles estabelecimentos que abusavam vão ter obrigatoriamente que
refazer a sua ideia de negócio, porque a partir das 23.00 têm que
trabalhar de porta fechada", aponta.
Trabalhadores de
outros locais no Cais do Sodré confessam que não sabiam das novas
regras. Nem como vai o espaço onde trabalham fazer a partir de
agora. É o caso de Tânia Jorge que trabalha no Café Tati. "Não
sei ainda como vai ser, o proprietário vai decidir se compensa ter o
limitador ou não ter música. Mas temos concertos três dias por
semana, às 22.00, e temos de ver como vai ser a partir de agora."
O DN questionou a
autarquia sobre quantos limitadores foram pedidos e as ações de
sensibilização feitas, mas não obteve resposta.
Lojas de
conveniência até às 22.00
Diferente vai também
passar a ser o horário das lojas de conveniência. Agora só podem
funcionar até às 22.00.
Uma mudança
aplaudida pela Associação de Comerciantes do Bairro Alto. "Foram
um problema que veio ajudar a agravar tudo o resto. Não passavam de
concorrência desleal aos bares. A partir do momento em que as
pessoas podem comprar um litro de cerveja numa loja e sentar-se à
porta dos bares a consumir, isso acaba por piorar as coisas. Esta
limitação só peca por tardia", diz Hilário Castro.
Sem comentários:
Enviar um comentário