Jaime
Nogueira Pinto diz que cancelamento da conferência merece
esclarecimento
LUSA 9 de Março de
2017, 22:17
O professor e
politólogo Jaime Nogueira Pinto disse nesta quinta-feira que o
cancelamento da conferência na Universidade Nova de Lisboa (UNL)
onde participaria como orador merece “um esclarecimento” que
permita uma saída “airosa e honrosa para todos”.
À margem da
apresentação do livro O Efeito Trump e o Brexit, da autoria de
Jorge Castela, que decorreu na sede da Associação Industrial
Portuguesa (AIP), Jaime Nogueira Pinto disse não querer fazer “uma
grande história” da conferência cancelada na Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da UNL, mas entende que a situação
tem gravidade suficiente para merecer um esclarecimento.
“Acho que a única
coisa que é grave - e por isso valerá a pena algum esclarecimento,
e de alguma forma as coisas terem uma saída airosa e honrosa para
todos - é que de facto o princípio de que umas criaturas podem
proibir porque ideologicamente lhes apetece não é um grande
princípio”, disse Jaime Nogueira Pinto aos jornalistas.
O politólogo disse
não saber ainda se a conferência cancelada será reagendada, ou se
haverá uma nova conferência que a substitua, e que o reitor da UNL,
António Rendas ainda não falou, mas irá falar consigo sobre o
sucedido.
“Eu penso que
agora as pessoas hão de falar comigo e saber se é esta conferência,
se é outra. Agora também não tenho vida para andar a fazer
conferências, não sou conferencista profissional. Penso que eles
querem fazer uma espécie de reparação desta história que não foi
assim muito feliz, mas não há nada sobre isso ainda”, disse.
Jaime Nogueira Pinto
disse que o episódio recente “não foi uma coisa agradável”,
mas disse não ser “rancoroso” nem estar “ressentido”,
dispensando pedidos de desculpa públicos.
“Essas coisas dos
pedidos de desculpa, isso é para os políticos, eles é que querem
desculpas em público. Graças a Deus, isso dispenso perfeitamente”,
afirmou o professor, que considerou que o mediatismo que a situação
obteve “é capaz de ser um bocadinho falta de assunto, de outros
assuntos importantes”.
De agradável a
situação teve apenas, disse Nogueira Pinto, “ver que a maior
parte das reacções e das pessoas foram de facto bastante positivas
e críticas”, incluindo aqui a reacção do presidente da
República, Marcelo Rebelo de Sousa.
“Acho que [a
reacção do Presidente] foi aquela que foi tomada por muitas
pessoas. Uma vez que falou, não esperava outra”, disse.
A reitoria da
Universidade Nova de Lisboa rejeitou em comunicado que a liberdade de
expressão esteja em causa na instituição, depois do cancelamento
da conferência por deliberação duma associação de estudantes.
Num comunicado
sumário, a reitoria da universidade garantiu a continuação da
"cultura de liberdade de expressão" e afirmou que a
conferência, que estava agendada para terça-feira na FCSH, "foi
adiada" para que o tema proposto possa ser discutido "de
forma alargada e objectiva num clima sereno".
A instituição
espera por "condições de completa abertura e diálogo plural",
emitindo o comunicado horas depois de o Presidente da República ter
dito publicamente que esperava esclarecimentos sobre o cancelamento,
que considerou uma decisão absurda e incompreensível.
Promovida por alunos
de um movimento designado Nova Portugalidade, a conferência-debate
com Jaime Nogueira Pinto tinha como temas Populismo ou Democracia? O
Brexit, Trump e Le Pen em debate.
Em Reunião Geral de
Alunos (RGA), foi votada uma moção exigindo o seu cancelamento, com
o argumento de que o evento estava "associado a argumentos
colonialistas, racistas, xenófobos", e a Associação de
Estudantes alega ter ficado vinculada a essa moção.
O ministro que
tutela o ensino superior, Manuel Heitor, ligou ao reitor da UNL na
sequência do cancelamento, exigindo garantias de que não estava em
causa a liberdade de expressão, as quais lhe foram dadas, revelou no
Parlamento.
Já na quarta-feira
a associação de estudantes da FCSH denunciou ameaças por parte de
40 pessoas ligadas à extrema-direita, que invadiram as instalações
da direção da associação.
O Partido Nacional
Renovador (PNR) convocou para o dia 21 um protesto em frente à
faculdade “contra o totalitarismo do pensamento único e pela
liberdade de expressão para todos”.
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