Ponto
final numa polémica à portuguesa
Jaime Nogueira Pinto
Jaime
Nogueira Pinto escreve sobre o caso da conferência cancelada.
"Depois do que deveria ter sido o fim, houve quem quisesse, à
minha custa e à custa da verdade, reescrever em sua defesa a
história"
17 Março 20171.421
Contra minha
vontade, acabei por ser o centro de uma polémica à portuguesa,
misturando mentiras, verdades, ofensas públicas e desculpas
privadas, histerias e solidariedades ideológicas, verdadeiras
tiradas de ignorância, intolerância e fanatismo, vindas de supostos
baluartes da intelectualidade, tolerância e liberdade.
Mas, graças a Deus,
houve também provas de honestidade intelectual e de seriedade – e
de amizade, solidariedade e simpatia – de gente que ideologicamente
não tem nem nunca teve nada que ver comigo.
Não estando na
política partidária, a popularidade e a impopularidade
interessam-me pouco e esta polémica já foi muito além daquilo que
em tempo e espaço mereceria. Só volto a este ponto final porque,
depois do que deveria ter sido o fim, houve quem quisesse, à minha
custa e à custa da verdade, reescrever em sua defesa a história,
levantando o frenesim de algumas almas perturbadas e a eventual
dúvida a quem, de boa fé, acompanhou este folhetim. É para esses
que fica o que se segue:
O cerne da questão
foi a falsa insinuação de que eu teria concordado com o adiamento
da minha conferência na Universidade Nova desde o princípio e antes
do tempo da sua (não) realização. Coisa que, obviamente, não fiz.
Os factos
1. Fui convidado
pela Nova Portugalidade (NP) a fazer uma conferência na Faculdade de
Ciências Sociais e Humanas (FSCH) da Universidade Nova de Lisboa
(UNL) no dia 7 de Maio às 18h30. O tema da conferência era
“Populismo ou Democracia? Brexit, Trump e Marine le Pen”.
2. No domingo, 5 de
Março, Rafael Borges da NP informou-me das pressões da direcção
da Associação de Estudantes junto da Direcção da FCSH para o
cancelamento da conferência, acrescentando que o Director tinha
resistido a tais pressões e que a conferência se mantinha.
3. Na segunda-feira,
6 de Março, por volta das 15 horas, o Director da FSCH, Prof.
Francisco Caramelo, telefonou-me a dizer que a Associação de
Estudantes da FCSH, reunida em RGA, se opusera à realização da
conferência, e que, dada a situação latente de confrontação e
violência, temia pela minha segurança. Sugeriu-me por isso fazer
uma conferência mais tarde em ambiente mais cordato.
Sublinhei
ainda que me parecia um mau princípio que uma instituição se
deixasse amedrontar e dissuadir por grupos minoritários
Rejeitei a proposta
de adiamento e respondi-lhe que estava comprometido com os alunos da
FCSH da UN que me tinham convidado e que por isso faria a
conferência. Sublinhei ainda que me parecia um mau princípio que
uma instituição se deixasse amedrontar e dissuadir por grupos
minoritários, a julgar pelo número de intervenientes na RGA que se
opunha à realização da conferência e pelas razões ideológicas
que alegava.
Não deixei, no
entanto, de acrescentar que, sendo o Prof Francisco Caramelo o
Director da FCSH, a decisão de cancelar a conferência seria dele.
4. Na sexta-feira,
10 de Março, quatro dias depois do cancelamento da conferência e na
sequência do impacto mediático que teve, fui contactado pelo Prof
Fernando Rosas a pedido do reitor, Prof António Rendas, para uma
conversa na reitoria da UN, onde estive reunido com o Reitor, o Prof
Fernando Rosas e o Prof Caramelo.
A conversa foi muito
clara: uma vez que a conferência tinha sido cancelada por decisão
do Director da FCSH alegando razões de segurança e que o texto ia
ser publicado no dia seguinte no jornal Expresso, não faria sentido
algum repeti-la. Discutiu-se então, e só então, um “colóquio”
a organizar e a realizar a seu tempo para que o caso não
comprometesse o nome da Universidade e o do director da Faculdade e
se encerrasse o assunto. Concordei de boa-fé com o dito colóquio.
No dia 13 de Março,
o Director da FCSH fez sair, também em comunicado, uma versão
deturpada dos acontecimentos
O comunicado do
Conselho da Faculdade é uma explicação oficiosa, e por todos
entendida como tal, baseada numa proposta feita a posteriori para
sanar e encerrar o assunto sem que o bom nome da UN saísse
prejudicado.
5. No entanto, no
dia 13 de Março, o Director da FCSH fez sair, também em comunicado,
uma versão deturpada dos acontecimentos: a conferência nunca tinha
sido cancelada e a Direcção da FCSH nunca cedera à pressão e às
ameaças dos que, por razões ideológicas, “tudo fariam para que
não se realizasse”. Limitara-se a adiar a conferência com a minha
concordância dado “o clima de violência latente”.
Este comunicado do
Prof Francisco Caramelo e algumas repercussões mediáticas, de que é
exemplo o artigo de Daniel Oliveira no Expresso “O dia em que me
deixei enganar por Jaime Nogueira Pinto”, obrigaram-me hoje a este
esclarecimento.
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