Ganhar
as autárquicas em Lisboa é, quase sempre, ganhá-las no país. E
perdê-las?
PSD
perspectiva mau resultado nas autárquicas, mas divide-se quanto à
antecipação do congresso. Marques Mendes diz que o “essencialíssimo
é saber se vai haver um confronto na liderança”.
SÓNIA SAPAGE e
MARGARIDA GOMES 20 de Março de 2017, 6:07
Os números dos
últimos 40 anos não enganam. O partido que ganha a Câmara de
Lisboa é, normalmente, o partido que acaba por conseguir mais
presidências no país. Se há câmaras importantes, a da capital é
uma delas e a do Porto será outra.
Há excepções. Em
2009, por exemplo, o PSD teve um bom resultado autárquico no país
todo, conseguindo 117 presidências sozinho mais 22 com o CDS e/ou
outros partidos, mas foi o PS que venceu em Lisboa. António Costa,
mais precisamente, conseguiu ser reeleito e era José Sócrates quem
liderava o Governo.
Também pode
dizer-se, com segurança, que quem está na oposição raramente
perde autárquicas, o que é uma pressão adicional para Passos
Coelho. Aconteceu assim em 2013, 2005, 2001, 1993, 1989. É preciso
recuar até 1985 para encontrar um partido que estava no governo e
conseguiu ganhar mais câmaras. O primeiro-ministro era Cavaco Silva,
mas a cena havia-se repetido com Pinto Balsemão e Mota Pinto.
A leitura nacional
das autárquicas será particularmente importante para o futuro do
PSD. Se ganhar a capital pode significar uma vitória no país. E
perder será derrota certa? Mesmo que fosse, que implicações isso
teria para a sobrevivência de Passos à frente do PSD? Marques
Mendes, antigo líder, reconhece que as eleições poderão ter uma
leitura mais ampla. “A meio de um mandato de legislatura essa
leitura nacional é ainda mais forte”. Em especial num período em
que a “liderança de Passos Coelho não está a atravessar uma boa
fase. Isso é consensual!”, refere.
“As autárquicas
vão ajudar a fortalecer a liderança ou vão ajudar a fragilizá-la,
é muito difícil ficar tudo igual. Se o líder ficar mais forte o
resultado tem uma leitura; se o líder ficar mais fraco pode ter
consequências e essa é que é a questão-chave”, declara Mendes
ao PÚBLICO, convencido que Passos não vai abandonar mesmo com um
mau resultado.
O ex-líder não
esconde que não acredita numa vitória do seu partido -
“manifestamente, não é provável que o PSD consiga ganhar” - e
adverte que “um mau resultado no Porto e em Lisboa agravam a
situação e tem implicações a nível da liderança”.
Mais dez menos dez
Muitos
sociais-democratas partilham desta leitura, mas divergem quanto à
antecipação de um congresso, previsto para 2018. Mendes não vê
vantagens numa antecipação, até porque, sustenta, “Dezembro e
Janeiro são dois meses suis generis e ninguém vai andar a fazer
campanha eleitoral”. Na sua opinião, o que é “verdadeiramente
importante” é saber se “em função do que tem acontecido e
depois com os dados das autárquicas vai haver uma disputa de
liderança”. “Para mim, o ponto essencialíssimo é saber se vai
haver um confronto na liderança”, vinca.
O antigo líder do
PSD não fala de nomes, mas Rui Rio, que vai somando apoios, já
deixou claro, numa entrevista ao Diário de Notícias no final do ano
passado, que pode ser uma alternativa e disputar as eleições
directas com Passos.
Discorda da
realização de um congresso antes da Primavera de 2018. Essa posição
ficou clara quando confrontado com a notícia de que apoiantes seus
teriam reunido assinaturas para a convocação de um. Nessa altura, o
antigo secretário-geral do PSD disse: “Um congresso antecipado só
faz sentido se o líder decidir sair, caso contrário o normal é
cumprir-se os prazos”.
Fonte do PSD
declarou ao PÚBLICO que a antecipação do congresso “vai ter de
ser necessária mesmo que o PSD ganhe mais dez câmaras que em
relação a 2013 [ano em que perdeu 30 concelhos face a 2009]”.
Porquê? “Porque não ganhando Porto e Lisboa, o resultado não é
suficiente para as pessoas olharem para Passos e dizer que ele vai
ser primeiro-ministro, nesse cenário, ele próprio terá a tendência
para clarificar a situação o mais depressa possível. Se, pelo
contrário, o PSD perder dez câmaras, a pressão vai ser tal que vai
acabar mesmo por ter de antecipar o congresso para os militantes
escolherem uma nova liderança”. “Vai ser difícil não
antecipar. As circunstâncias vão ser de tal maneira que apontarão
sempre para que o congresso se realize mais cedo. Só não será
assim, se o PSD ganhar as eleições contra todas as expectativas”,
acrescenta.
Também o presidente
do PSD-Porto, Miguel Seabra, admite que, se a derrota for pesada,
possa haver um conclave mais cedo, mas não afasta um novo combate
entre Passos Coelho e António Costa, salvaguardando, embora que “se
vivem tempos de muita incerteza, o que torna difícil perspectivar o
que aí vem. Mesmo assim, arrisca dizer que “se houver um novo
resgate até Outubro, o presidente do PSD fica na liderança do
partido e o povo vai dar-lhe razão”.
O pior e o melhor
No caso de Lisboa
ninguém no PSD assumiu metas para Teresa Leal Coelho, mas faz uma
década o PSD obteve o pior resultado em Lisboa, nas eleições de
2007 ganhas por Costa.
Carmona Rodrigues,
que não quis falar ao PÚBLICO neste momento, havia perdido a
confiança política do PSD e avançou como independente . O PSD
obteve 15,9%, pouco mais de 30 mil votos. O candidato do PSD era
Fernando Negrão.
Já o melhor
resultado de sempre, foi obtido por Kruz Abecasis, em 1979, quando
228.656 lisboetas confiaram o seu voto à AD. Foi a primeira vez que
um cabeça-de-lista do CDS venceu Lisboa, repetindo a façanha em
1982 e 1985, mas com menos votos.
Desta vez, PSD e CDS
concorrem separados. Unidos apenas no género das candidaturas,
protagonizadas por duas mulheres.
Desta vez, PSD e CDS
concorrem separados. Unidos apenas no género das candidaturas,
protagonizadas por duas mulheres.
Passos
geriu de forma “desastrosa” a candidatura a Lisboa
Mendes
classifica a gestão da candidatura à capital como "desastrosa".
O resultado que o PSD obtiver "não vai ficar bem ao líder",
afirmou na SIC. Mais uma semana com críticas demolidoras a Passos.
Vítor Matos
19/3/2017, 22:34
Uma “gestão
política mais ou menos desastrosa”, ou uma “gestão política
péssima”, em que Teresa Leal Coelho foi “vítima das
circunstâncias e do contexto”, e terá um resultado que “não
vão ficar bem ao líder do partido”. O comentador Luís Marques
Mendes voltou a fazer fortes críticas a Pedro Passos Coelho no seu
comentário semanal na SIC, desta vez por causa do processo de
escolha do candidato do PSD à câmara de Lisboa.
O ex-líder do PSD
reconhece que a candidata do seu partido à autarquia da capital é
“uma pessoa com qualidades, combativa, frontal, com grande
experiência política e parlamentar” e que pode agradar a setores
da esquerda “porque tem posições diferentes do que é tradicional
no PSD em temas fraturantes”. Mas trata-se de “uma escolha
solitária do líder, uma pessoa do seu círculo mais íntimo, do
círculo pessoal e político”, agravada porque “demorou uma
eternidade. Porquê tanto tempo?”, questionou Mendes.
Mais: “Sendo uma
decisão tão tardia, criou-se a expetativa de que o líder tinha um
coelho da cartola para tirar, que tinha uma surpresa no qual nenhum
de nós tinha pensado e não tinha”. Esta forma de escolher uma
candidatura tão importante terá consequências na liderança, de
acordo com o comentador: “Se correrem bem é mérito do líder. Se
correr mal é responsabilidade do líder.”
Mas Marques Mendes
não tardaria a vaticinar que as coisas vão correr mal ou muito mal
ao PSD em Lisboa, quando disse que “Medina já está eleito, resta
saber se é com maioria ou não”. Portanto, vão correr mal a Pedro
Passos Coelho. “Não vai ficar bem o líder nem o partido”,
afirmou, argumentado que seria “um certo choque o PSD ficar em
terceiro lugar em Lisboa”
Para o comentador, a
definição da estratégia devia ter começado um ano antes, para
quem “o desejável era uma coligação com o CDS”. Com esta
configuração de candidaturas, Mendes diz que haverá duas eleições:
uma, para saber se Medina tem maioria; a outra, “para saber se quem
fica em segundo lugar é Assunção Cristas ou o PSD”.
Marques Mendes sabe
o peso que a Câmara Municipal de Lisboa tem no partido, até porque
perdeu a liderança do PSD na sequência de uma derrota nas eleições
intercalares de 2008 que deram a autarquia a António Costa. Fernando
Negrão, um candidato de recurso — depois de uma recusa à última
hora de Fernando Seara –, teve apenas 15% e ficou atrás da lista
independente de Carmona Rodrigues que já tinha liderado a autarquia
em nome do PSD.
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