Massificação
turística de Lisboa vai ser debatida em conferência internacional
May and Sturgeon
have set a wheel of fire rolling, and both will struggle to stop it
POR O CORVO • 31
MARÇO, 2017 •
Que consequências
pode ter para Lisboa a revolução turística em curso, nos últimos
anos? A questão tem feito correr muita tinta e sido acompanhada por
discussão apaixonada, à qual é difícil escapar. Quase toda a
gente tem opinião sobre um assunto que, pela dimensão, rapidez e
profundidade dos seus efeitos, se tem revelado no maior agente de
mudança da capital portuguesa. Tanto que será, pela primeira vez,
tema de uma conferência internacional de âmbito universitário, a
realizar a 17 e 18 de abril, no Instituto Superior de Ciências do
Trabalho e da Empresa (ISCTE). “Lisboa, que futuro?” terá
entrada livre, mediante inscrição prévia, e já está a superar as
expectativas iniciais dos organizadores, o DINÂMIA’CET-IUL –
Centro de Estudos sobre a Mudança Socioeconómica e o Território do
ISCTE.
Durante os dois
dias de discussão abertos à comunidade, será analisado o conjunto
de alterações pelo qual a maior cidade portuguesa tem passado, em
consequência do disparar da actividade turística, nos anos mais
recentes. Decorrerão ainda comparações com o que está a acontecer
no Porto, mas sobretudo noutras cidades a nível internacional que
viveram, ou estão a viver, fenómenos semelhantes ao de Lisboa.
Serão analisados os casos de Barcelona, Nova Iorque, Vancouver,
Paris ou Milão. “Há outras cidades que passaram por processos
semelhantes com aquilo que está a suceder em Lisboa, embora com as
suas particularidades”, diz a O Corvo Sandra Marques Pereira,
investigadora do DINÂMIA’CET-IUL e organizadora da conferência. A
ideia, explica, é “lançar um debate informado, equilibrando, não
polarizado e aberto à sociedade”.
Algo que acontece
quando as mudanças em Lisboa “estão numa fase inicial e estão
para durar”, considera. “É absolutamente urgente fazer um debate
nesta altura, em que estamos a atravessar um processo alterações
profundas, que é muito recente e muitíssimo rápido, e tentar
aprender com outras cidades”, afirma a professora universitária.
Pegando na expressão tanta vezes usada quando se discute este tema,
a gentrificação – a apropriação por classes favorecidas de
centros urbanos antes decadentes e ocupados por classes
desfavorecidas -, a conferência inaugural (17 de abril, 18h15), a
cargo de Sharon Zukin (City University of New York), fará um retrato
do que se passou na principal metrópole norte-americana. “A Field
Guide to Gentrification: Reflections from New York” é o nome da
palestra, que decorrerá logo a seguir à abertura oficial dos
trabalhos.
O segundo dia
começa (9h30) com um conjunto de comunicações feitas por
investigadores da entidade organizadora, sob o mote “Lisboa:
Ressurgimentos, Revitalizações, Gentrificações?”: “Lisboom: a
cidade ‘renascida’ em contexto de globalização”, de Sandra
Marques Pereira; “A minha gentrificação é melhor do que a tua:
o(s) direito(s) à cidade numa Lisboa em massificação”, de Pedro
Costa, e “Transformação e intervenção nos bairros históricos:
da Mouraria ao Príncipe Real”, Madalena Matos e Maria Assunção
Gato. Logo de seguida, e ainda de manhã (11h), haverá lugar a uma
mesa redonda com representantes dos pequenos comerciantes, do Turismo
de Lisboa, do Movimento Quem Vai Poder Morar em Lisboa e ainda com o
arquitecto José Mateus. Na parte da tarde, o painel Cidades Da
Europa Do Sul: Mudanças E Aprendizagens dará conta das experiências
vividas em Barcelona, Milão, Porto e Paris.
Sandra Marques
Pereira deseja que o debate sobre este tema, tão importante para a
vida da comunidade, não fique centrado no mundo académico. O
objectivo é que a discussão sobre as profundas transformações
causadas pelo turismo tenha utilidade para Lisboa, permitindo assim
“minimizar os aspectos negativos”. “Desejamos uma reflexão
aberta à sociedade, mas também que a conferência funcione como
pontapé de saída para uma linha de investigação mais sistemática
destas transformações”, explica. “As mudanças relacionadas com
o fenómeno turístico têm sido muito rápidas e diferentes de
bairro para bairro, e os dados que existem sobre o fenómeno são
muito anacrónicos. Há muito trabalho a fazer neste campo, um longo
caminho a percorrer”.
Programa completo e
informações: www.lisboaquefuturo2017.org
Texto: Samuel
Alemão
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