Teresa de Sousa
COMENTÁRIO
O homem de
negócios continua a dormitar
A Alemanha
continua em hibernação, às voltas com o seu papel num mundo que deixou de
reconhecer. O peso que tem na UE, onde dificilmente se decide alguma coisa
contra a sua vontade, bloqueia qualquer tentativa de retirá-la do imobilismo.
Teresa de Sousa
10 de Fevereiro
de 2020, 19:37
1. “Se a Alemanha
é o coração da Europa, então é um coração a bater devagar de um homem de
negócios a dormitar no seu gabinete depois de um copioso almoço.” A frase é de
Timothy Garton Ash, numa das suas habituais colunas de opinião no britânico
Guardian. Data de finais de Novembro do ano passado, mas continua actual. “Para
o bem da Europa e da própria Alemanha, este coração precisa de bater um pouco
mais depressa.”
Provavelmente, a
súbita demissão da sucessora de Angela Merkel à frente da CDU e candidata a
chanceler não chega para acelerar o ritmo cardíaco do nosso homem de negócios.
A Alemanha continua em hibernação, às voltas com o seu papel num mundo que
deixou de reconhecer. O peso que tem na União Europeia, onde dificilmente se
decide alguma coisa contra a sua vontade, bloqueia qualquer tentativa de a
retirar do imobilismo e a pôr a olhar para os seus problemas internos e,
sobretudo, para os enormes desafios externos que enfrenta.
Mas a razão
próxima da demissão de Annegrett Kramp-Karrenbauer (“AKK”) não deixa de ser reveladora
da “indefinição” política em que o seu país mergulhou, provocada por muitas
razões de ordem externa e interna e cristalizada pela entrada em cena de um
partido de extrema-direita xenófobo e crítico da União Europeia. O dilema que
hoje atravessa a CDU, e que levou à demissão de “AKK”, está na sua relação com
a AfD – não a nível nacional, em que a questão não se põe, mas ao nível dos
Länder, em particular nos do Leste, onde o novo partido tem uma expressão
eleitoral difícil de contornar. Este dilema é a tradução mais simples de um
debate mais complexo que atravessa o partido: entre os que acusam a chanceler
de o ter “social-democratizado” e os que defendem que ele serviu bem os alemães
nos últimos 14 anos, o tempo que Merkel leva na chancelaria, que estão hoje
mais ricos, mais satisfeitos, mais contentes consigo próprios – como o homem de
negócios a descansar depois de um bom almoço.
2. O problema é
que é impossível olhar apenas para dentro. O mundo mudou tão rapidamente que o
homem de negócios alemão arrisca-se a sofrer de repente uma crise de arritmia.
Os dois pilares sobre os quais a República Federal foi construída e integrada
na ordem democrática ocidental – a relação com os EUA, via NATO, e a relação
com a França – estão em mutação.
Nos anos posteriores
à reunificação, a Alemanha estava bem posicionada num mundo em que a economia
era quase tudo. Hoje, esse mundo é muito mais complexo e muito menos seguro,
exigindo outros meios de poder de que a Alemanha não dispõe e (ainda) não quer
dispor. A pergunta é inevitável: pode continuar a depender dos EUA para
garantir a sua segurança? A resposta nem sequer tem directamente que ver com
Donald Trump. Outros presidentes antes dele e certamente depois dele não
aceitam que um país tão rico como a Alemanha se dê ao luxo de recusar gastar 2%
da sua riqueza com a defesa – a NATO fixou essa meta para todos os seus membros
em 2024. É, um pouco, a mesma atitude com que encara a integração europeia e
união monetária: as regras são definidas em Berlim, mas os riscos são
partilhados por todos.
O dilema que hoje
atravessa a CDU, e que levou à demissão de AKK, está na sua relação com a AfD –
não a nível nacional, onde a questão não se põe, mas ao nível dos Lander, em
particular nos do Leste. Este dilema é a tradução mais simples de um debate mais
complexo que atravessa o partido: entre os que acusam a chanceler de o ter
“social-democratizado” e os que defendem que ele serviu bem os alemães nos
últimos 14 anos
De Pequim a
Washington, de Moscovo a Paris, a pergunta é igual: o que quer a Alemanha? E se,
no mundo, o impacto da indecisão alemã se faz sentir moderadamente, na Europa
tem um efeito muito mais negativo. O statu quo não é opção que os europeus
possam manter por muito mais tempo.
3. As dúvidas
quanto ao seu próprio modelo de desenvolvimento, até agora considerado
“perfeito”, também se acumulam. Os mercados livres (a começar pelo Mercado
Único) e a globalização eram o ambiente ideal para a máquina exportadora alemã.
Hoje, graças ao proteccionismo americano, a um mercado chinês mais sofisticado,
às preocupações ambientais e à menor necessidade das economias emergentes das
máquinas que a Alemanha produz, esse modelo que tão bem lhe serviu começa a dar
sinais de cansaço.
Um relativo
atraso na digitalização da economia e uma capacidade inovadora longe de ser
excepcional tornam o futuro bastante mais exigente. Finalmente, a velha
Mitteleuropa, que sempre foi uma zona de influência da Alemanha e que se
revelou fundamental à deslocalização das indústrias alemãs, atravessa um
período de instabilidade e de incerteza: depende da Alemanha economicamente,
mas critica o seu modelo liberal e aberto aos outros, acusando a chanceler de
ter cortado com as raízes cristãs do seu partido. A saída do Reino Unido
representa também um desafio. Por um lado, a Alemanha teme a concorrência mais
forte de uma grande economia parcialmente liberta das regras europeias; por
outro, Berlim perde um parceiro na defesa do livre comércio e da globalização.
A saída de “AKK” é apenas um pequeno sobressalto.
tp.ocilbup@asuos.ed.aseret
Merkel’s
next successor might be a bust
The
crumbling of big tent parties is swallowing up their leaders.
By THORSTEN
BENNER 2/11/20, 2:15 PM CET Updated 2/11/20, 2:58 PM CET
Thorsten
Benner is director of the Global Public Policy Institute (GPPi) in Berlin and a
member of the global board of More in Common.
BERLIN —
Don’t blame Annegret Kramp-Karrenbauer for the crisis tearing apart Germany’s
Christian Democrats.
Sure, the
German defense minister has racked up more gaffes than wins since she took over
from Chancellor Angela Merkel as leader of the CDU a little more than a year
ago. The latest storm is the local political crisis in the eastern state of
Thuringia — where a liberal Free Democrat was elected as state premier with the
backing of the CDU and the far-right Alternative for Germany.
Outrage
over the election — and Kramp-Karrenbauer’s mismanagement of the fallout —
prompted her to announce she will step down as leader this summer and will not
stand for chancellor in the next election.
That was
likely the right decision. But it’ll do little to solve her party’s problems.
The reasons the CDU is splitting at the seams date back to well before her
tenure.
Today the
CDU’s ability to integrate competing views is seriously compromised.
When
Kramp-Karrenbauer was elected as party leader in December 2018, she called the
CDU “the last unicorn in Europe” — the only center-right party to have
preserved its status as a Volkspartei with a broad appeal across society.
This was a
party that allowed for compromises to be hashed out between different factions
on the center right, all within a single group.
The
unicorn, it turned, out was on its last legs. Today, the CDU’s ability to
integrate competing views is seriously compromised, and challenged from two
sides.
To its
right, the AfD is winning over conservative voters disillusioned with what they
see as the CDU’s move to the left during the Merkel years. And on its left, the
Green Party is luring away the party’s more cosmopolitan voters — people once
attracted to the CDU by Merkel’s policies but now hungry for more decisive action
on the climate crisis and the rise of the far right.
This
creates a dilemma for the party that goes well beyond Kramp-Karrenbauer’s
leadership or what just happened in eastern Germany.
Many CDU
voters are ready to move beyond the Merkel years but the party cannot agree on
the direction. The more it tries out conservative positions to win back AfD
voters, the more it drives its more cosmopolitan, left-leaning voters away. And
the more it prioritizes action on climate change, the more traditional
conservatives feel left behind.
A
captivating personality able to chart a future-oriented agenda may be able to
transcend that dynamic somewhat. But none of Kramp-Karrenbauer’s likely
successors as party leader and chancellor-in-waiting fit that bill.
North
Rhine-Westphalia state premier Armin Laschet heads up a smooth-running
coalition government in Germany’s most populous state. But to a national
audience he will likely come across as little more than a continuation of the
Merkel agenda both in substance and style. He will find it hard to win back
votes from the AfD.
Both former
CDU parliamentary leader Friedrich Merz and Health Minister Jens Spahn would
signal a more conservative turn. Spahn, who is 39, projects the possibility of
a youthful and dynamic alternative to the Merkel years but alienates more
cosmopolitan CDU voters with his forays into conservative identity politics,
from suggesting that the German language is under threat from too much English
being spoken in cafés to complaining about Muslim "machos."
If the CDU
is to find a way out of crisis it will do so not by swerving toward its rivals
on the right or left — but by a charting its own confident course.
Merz, at
64, plays well with more traditionally conservative voters but signals a return
to the past: He was fixture of the party in the late 1990s and early 2000s
before Merkel finished his political career.
His attacks
on teenage climate activist Greta Thunberg are likely to drive environmentally
conscious voters to the Greens and his past position as head of U.S. investor
BlackRock would be a gift to the ailing Social Democrats, who are hungry for an
arch-capitalist foil after Merkel co-opted much of their agenda.
If the CDU
is to find a way out of its crisis it will do so not by swerving toward its
rivals on the right or left — but by a charting its own confident course.
The reason
both the AfD and the Greens are up in the polls is that they offer the clearest
political narratives.
German
voters have lost trust in the political class and suspect the good times are
coming to an end. According to a recent study by More in Common, barely a
quarter of Germans think their politicians are up to the task of tackling the
country’s key challenges.
Many worry
Germany is about to gamble away the economic basis of its prosperity. They want
new political ideas and narratives.
The center
right needs to offer up a distinct vision for how Germany can conquer the
future. They must lay out an inclusive national, patriotic narrative for an
increasingly diverse country; build excitement about social, political and
economic innovation; explain how they will invest in technology and industrial
leadership for a post-carbon age; and offer a plan to renew Germany’s social
system and its role in Europe and the world.
Only by
doing that will the CDU be able to change a political conversation that is
currently dominated by outrage on the far right and climate absolutism among
the Greens.
None of the
three leading candidates to succeed Kramp-Karrenbauer are likely to present or
credibly embody such a vision. That makes it likely that support for and trust
in the CDU will only continue to erode, even under a new leader.
Germany’s
conservatives might not miss Kramp-Karrenbauer. But they’re unlikely to find a
savior in whoever replaces her.
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