terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

O homem de negócios continua a dormitar / Merkel’s next successor might be a bust



Teresa de Sousa
COMENTÁRIO
O homem de negócios continua a dormitar

A Alemanha continua em hibernação, às voltas com o seu papel num mundo que deixou de reconhecer. O peso que tem na UE, onde dificilmente se decide alguma coisa contra a sua vontade, bloqueia qualquer tentativa de retirá-la do imobilismo.

Teresa de Sousa
10 de Fevereiro de 2020, 19:37

1. “Se a Alemanha é o coração da Europa, então é um coração a bater devagar de um homem de negócios a dormitar no seu gabinete depois de um copioso almoço.” A frase é de Timothy Garton Ash, numa das suas habituais colunas de opinião no britânico Guardian. Data de finais de Novembro do ano passado, mas continua actual. “Para o bem da Europa e da própria Alemanha, este coração precisa de bater um pouco mais depressa.” 

Provavelmente, a súbita demissão da sucessora de Angela Merkel à frente da CDU e candidata a chanceler não chega para acelerar o ritmo cardíaco do nosso homem de negócios. A Alemanha continua em hibernação, às voltas com o seu papel num mundo que deixou de reconhecer. O peso que tem na União Europeia, onde dificilmente se decide alguma coisa contra a sua vontade, bloqueia qualquer tentativa de a retirar do imobilismo e a pôr a olhar para os seus problemas internos e, sobretudo, para os enormes desafios externos que enfrenta.

Mas a razão próxima da demissão de Annegrett Kramp-Karrenbauer (“AKK”) não deixa de ser reveladora da “indefinição” política em que o seu país mergulhou, provocada por muitas razões de ordem externa e interna e cristalizada pela entrada em cena de um partido de extrema-direita xenófobo e crítico da União Europeia. O dilema que hoje atravessa a CDU, e que levou à demissão de “AKK”, está na sua relação com a AfD – não a nível nacional, em que a questão não se põe, mas ao nível dos Länder, em particular nos do Leste, onde o novo partido tem uma expressão eleitoral difícil de contornar. Este dilema é a tradução mais simples de um debate mais complexo que atravessa o partido: entre os que acusam a chanceler de o ter “social-democratizado” e os que defendem que ele serviu bem os alemães nos últimos 14 anos, o tempo que Merkel leva na chancelaria, que estão hoje mais ricos, mais satisfeitos, mais contentes consigo próprios – como o homem de negócios a descansar depois de um bom almoço.

2. O problema é que é impossível olhar apenas para dentro. O mundo mudou tão rapidamente que o homem de negócios alemão arrisca-se a sofrer de repente uma crise de arritmia. Os dois pilares sobre os quais a República Federal foi construída e integrada na ordem democrática ocidental – a relação com os EUA, via NATO, e a relação com a França – estão em mutação.

Nos anos posteriores à reunificação, a Alemanha estava bem posicionada num mundo em que a economia era quase tudo. Hoje, esse mundo é muito mais complexo e muito menos seguro, exigindo outros meios de poder de que a Alemanha não dispõe e (ainda) não quer dispor. A pergunta é inevitável: pode continuar a depender dos EUA para garantir a sua segurança? A resposta nem sequer tem directamente que ver com Donald Trump. Outros presidentes antes dele e certamente depois dele não aceitam que um país tão rico como a Alemanha se dê ao luxo de recusar gastar 2% da sua riqueza com a defesa – a NATO fixou essa meta para todos os seus membros em 2024. É, um pouco, a mesma atitude com que encara a integração europeia e união monetária: as regras são definidas em Berlim, mas os riscos são partilhados por todos.

O dilema que hoje atravessa a CDU, e que levou à demissão de AKK, está na sua relação com a AfD – não a nível nacional, onde a questão não se põe, mas ao nível dos Lander, em particular nos do Leste. Este dilema é a tradução mais simples de um debate mais complexo que atravessa o partido: entre os que acusam a chanceler de o ter “social-democratizado” e os que defendem que ele serviu bem os alemães nos últimos 14 anos
De Pequim a Washington, de Moscovo a Paris, a pergunta é igual: o que quer a Alemanha? E se, no mundo, o impacto da indecisão alemã se faz sentir moderadamente, na Europa tem um efeito muito mais negativo. O statu quo não é opção que os europeus possam manter por muito mais tempo.

3. As dúvidas quanto ao seu próprio modelo de desenvolvimento, até agora considerado “perfeito”, também se acumulam. Os mercados livres (a começar pelo Mercado Único) e a globalização eram o ambiente ideal para a máquina exportadora alemã. Hoje, graças ao proteccionismo americano, a um mercado chinês mais sofisticado, às preocupações ambientais e à menor necessidade das economias emergentes das máquinas que a Alemanha produz, esse modelo que tão bem lhe serviu começa a dar sinais de cansaço.

Um relativo atraso na digitalização da economia e uma capacidade inovadora longe de ser excepcional tornam o futuro bastante mais exigente. Finalmente, a velha Mitteleuropa, que sempre foi uma zona de influência da Alemanha e que se revelou fundamental à deslocalização das indústrias alemãs, atravessa um período de instabilidade e de incerteza: depende da Alemanha economicamente, mas critica o seu modelo liberal e aberto aos outros, acusando a chanceler de ter cortado com as raízes cristãs do seu partido. A saída do Reino Unido representa também um desafio. Por um lado, a Alemanha teme a concorrência mais forte de uma grande economia parcialmente liberta das regras europeias; por outro, Berlim perde um parceiro na defesa do livre comércio e da globalização. A saída de “AKK” é apenas um pequeno sobressalto.

tp.ocilbup@asuos.ed.aseret


Merkel’s next successor might be a bust


The crumbling of big tent parties is swallowing up their leaders.

By THORSTEN BENNER 2/11/20, 2:15 PM CET Updated 2/11/20, 2:58 PM CET

Thorsten Benner is director of the Global Public Policy Institute (GPPi) in Berlin and a member of the global board of More in Common.

BERLIN — Don’t blame Annegret Kramp-Karrenbauer for the crisis tearing apart Germany’s Christian Democrats.

Sure, the German defense minister has racked up more gaffes than wins since she took over from Chancellor Angela Merkel as leader of the CDU a little more than a year ago. The latest storm is the local political crisis in the eastern state of Thuringia — where a liberal Free Democrat was elected as state premier with the backing of the CDU and the far-right Alternative for Germany.

Outrage over the election — and Kramp-Karrenbauer’s mismanagement of the fallout — prompted her to announce she will step down as leader this summer and will not stand for chancellor in the next election.

That was likely the right decision. But it’ll do little to solve her party’s problems. The reasons the CDU is splitting at the seams date back to well before her tenure.

Today the CDU’s ability to integrate competing views is seriously compromised.

When Kramp-Karrenbauer was elected as party leader in December 2018, she called the CDU “the last unicorn in Europe” — the only center-right party to have preserved its status as a Volkspartei with a broad appeal across society.

This was a party that allowed for compromises to be hashed out between different factions on the center right, all within a single group.

The unicorn, it turned, out was on its last legs. Today, the CDU’s ability to integrate competing views is seriously compromised, and challenged from two sides.

To its right, the AfD is winning over conservative voters disillusioned with what they see as the CDU’s move to the left during the Merkel years. And on its left, the Green Party is luring away the party’s more cosmopolitan voters — people once attracted to the CDU by Merkel’s policies but now hungry for more decisive action on the climate crisis and the rise of the far right.

This creates a dilemma for the party that goes well beyond Kramp-Karrenbauer’s leadership or what just happened in eastern Germany.

Many CDU voters are ready to move beyond the Merkel years but the party cannot agree on the direction. The more it tries out conservative positions to win back AfD voters, the more it drives its more cosmopolitan, left-leaning voters away. And the more it prioritizes action on climate change, the more traditional conservatives feel left behind.


A captivating personality able to chart a future-oriented agenda may be able to transcend that dynamic somewhat. But none of Kramp-Karrenbauer’s likely successors as party leader and chancellor-in-waiting fit that bill.

North Rhine-Westphalia state premier Armin Laschet heads up a smooth-running coalition government in Germany’s most populous state. But to a national audience he will likely come across as little more than a continuation of the Merkel agenda both in substance and style. He will find it hard to win back votes from the AfD.

Both former CDU parliamentary leader Friedrich Merz and Health Minister Jens Spahn would signal a more conservative turn. Spahn, who is 39, projects the possibility of a youthful and dynamic alternative to the Merkel years but alienates more cosmopolitan CDU voters with his forays into conservative identity politics, from suggesting that the German language is under threat from too much English being spoken in cafés to complaining about Muslim "machos."

If the CDU is to find a way out of crisis it will do so not by swerving toward its rivals on the right or left — but by a charting its own confident course.

Merz, at 64, plays well with more traditionally conservative voters but signals a return to the past: He was fixture of the party in the late 1990s and early 2000s before Merkel finished his political career.

His attacks on teenage climate activist Greta Thunberg are likely to drive environmentally conscious voters to the Greens and his past position as head of U.S. investor BlackRock would be a gift to the ailing Social Democrats, who are hungry for an arch-capitalist foil after Merkel co-opted much of their agenda.

If the CDU is to find a way out of its crisis it will do so not by swerving toward its rivals on the right or left — but by a charting its own confident course.

The reason both the AfD and the Greens are up in the polls is that they offer the clearest political narratives.

German voters have lost trust in the political class and suspect the good times are coming to an end. According to a recent study by More in Common, barely a quarter of Germans think their politicians are up to the task of tackling the country’s key challenges.

Many worry Germany is about to gamble away the economic basis of its prosperity. They want new political ideas and narratives.

The center right needs to offer up a distinct vision for how Germany can conquer the future. They must lay out an inclusive national, patriotic narrative for an increasingly diverse country; build excitement about social, political and economic innovation; explain how they will invest in technology and industrial leadership for a post-carbon age; and offer a plan to renew Germany’s social system and its role in Europe and the world.

Only by doing that will the CDU be able to change a political conversation that is currently dominated by outrage on the far right and climate absolutism among the Greens.

None of the three leading candidates to succeed Kramp-Karrenbauer are likely to present or credibly embody such a vision. That makes it likely that support for and trust in the CDU will only continue to erode, even under a new leader.

Germany’s conservatives might not miss Kramp-Karrenbauer. But they’re unlikely to find a savior in whoever replaces her.

Sem comentários: