quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Fontana di Trevi entre barreiras? Roma quer protegê-la dos turistas




ROMA
Fontana di Trevi entre barreiras? Roma quer protegê-la dos turistas

A polémica está ao rubro. Há quem faça a defesa da protecção da fonte, um íman para milhões de turistas; e quem se insurja contra o plano.

Luís J. Santos
Luís J. Santos 18 de Fevereiro de 2020, 17:45

Uma barreira com um metro de altura, talvez em vidro e aço, em redor da Fonte de Trevi? É uma “proposta de bom senso para proteger um dos monumentos mais importantes e visitados de Roma”, escrevia a presidente da câmara local, Virginia Raggi, no seu Facebook, aquando da aprovação pela assembleia municipal de uma moção para construir uma “barreira de protecção” na fonte. Mas o debate continua, com o Governo a esperar para ver e arquitectos a apelidarem o projecto de “parvo”.

Mostrando-se prevenida, Raggi já tinha comentado, precisamente, que “para evitar controvérsias sem fundamento”, queria “explicar bem a ideia”: “Trata-se de uma barreira semelhante à que foi feita em tantas outras fontes de Roma”, dando como exemplos as de Quattro Fiumi e da Tartaruga ou as praças Mattei e Navona. Para ficar tudo bem explicado, a autarca acrescentou fotos dos exemplos.

No texto em defesa da barreira na Fontana de Trevi garante-se ainda que é “uma solução que não perturba a vista” do monumento e descansa os mais tradicionalistas, afirmando que continuará a “permitir o tradicional lançamento de moedas, um ritual para quem visita nossa cidade”.

Recentemente, a autarquia de Roma levou a cabo uma “limpeza” da praça da fonte (que foi completamente restaurada esta década), retirando “barracas que obstruíam a vista” e afastando vendedores ambulantes (uma medida que, aliás, está a pôr em prática, com uma forte aposta no combate à venda, especialmente sem licenças, junto a monumentos).

O plano não é, porém, tão unânime quanto Raggi (do partido Movimento 5 Estrelas, que apresentou a moção) gostaria. Por um lado, o ministro do Património Cultural, Dario Franceschini, manifestou-se contra um sistema que pudesse parecer “intrusivo”, mas guardou a sua opinião final para quando as entidades competentes dos bens culturais terminem a avaliação do projecto. O responsável defendeu, isso sim, citado pelo jornal La Repubblica, que é necessário “atenuar a pressão turística”.

Já o arquitecto Paolo Portoghesi, especialista no barroco (e antigo director da Bienal de Veneza), tem uma opinião mais sentida: “Parece-me uma coisa realmente parva.” Especialmente, diz Portoghesi ao mesmo jornal, porque “não se pode admirar de longe a maravilhosa cenografia”.

“É suficiente que haja agentes da ordem pública a fiscalizarem comportamentos e a proibirem as pessoas de sentarem-se na fonte, porque poderiam causar danos. Mas meter uma cancela parece-me uma ofensa assustadora à beleza de uma obra-prima que se entrega generosamente àqueles que a observam”, comenta. “Se não usadas para perigos específicos, as grades são loucuras que arruínam o sentido da cidade.” Entre urbanistas e especialistas, também o presidente do Instituto Nacional de Arqueologia e superintendente da arqueologia de Roma, Adriano La Regina, critica a medida. “Se os turistas em pé ou sentados não se comportam de modo indecoroso e não perturbam o desfrutar da fonte, para quê afastá-los?”, atira.

Actualmente, é proibido sentar-se em monumentos de Roma, da Escadaria da Praça de Espanha às fontes. Mas os turistas são milhões e os agentes de fiscalização (que existem e chegam a dedicar-se a afastar, ao ritmo do apito, os turistas que sentam nos degraus mais famosos da cidade) não chegam para todos. Diariamente, é possível ver as multidões frente à fonte e, de vez em quando, alguém que não resiste a escalá-la (um turista foi detido e multado recentemente por isso mesmo), molhar os pés ou até mergulhar. E, claro, enquanto poucos resistem a atirar a sua moeda, muitos outros tentam recriar, para as memórias e para a fotografia, a célebre cena com Anita Ekberg e Mastroianni no La Dolce Vita de Fellini.

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