ROMA
Fontana di Trevi
entre barreiras? Roma quer protegê-la dos turistas
A polémica está
ao rubro. Há quem faça a defesa da protecção da fonte, um íman para milhões de
turistas; e quem se insurja contra o plano.
Luís J. Santos
Luís J. Santos 18
de Fevereiro de 2020, 17:45
Uma barreira com
um metro de altura, talvez em vidro e aço, em redor da Fonte de Trevi? É uma
“proposta de bom senso para proteger um dos monumentos mais importantes e
visitados de Roma”, escrevia a presidente da câmara local, Virginia Raggi, no
seu Facebook, aquando da aprovação pela assembleia municipal de uma moção para
construir uma “barreira de protecção” na fonte. Mas o debate continua, com o
Governo a esperar para ver e arquitectos a apelidarem o projecto de “parvo”.
Mostrando-se
prevenida, Raggi já tinha comentado, precisamente, que “para evitar
controvérsias sem fundamento”, queria “explicar bem a ideia”: “Trata-se de uma
barreira semelhante à que foi feita em tantas outras fontes de Roma”, dando
como exemplos as de Quattro Fiumi e da Tartaruga ou as praças Mattei e Navona.
Para ficar tudo bem explicado, a autarca acrescentou fotos dos exemplos.
No texto em
defesa da barreira na Fontana de Trevi garante-se ainda que é “uma solução que
não perturba a vista” do monumento e descansa os mais tradicionalistas,
afirmando que continuará a “permitir o tradicional lançamento de moedas, um
ritual para quem visita nossa cidade”.
Recentemente, a
autarquia de Roma levou a cabo uma “limpeza” da praça da fonte (que foi
completamente restaurada esta década), retirando “barracas que obstruíam a
vista” e afastando vendedores ambulantes (uma medida que, aliás, está a pôr em
prática, com uma forte aposta no combate à venda, especialmente sem licenças,
junto a monumentos).
O plano não é,
porém, tão unânime quanto Raggi (do partido Movimento 5 Estrelas, que
apresentou a moção) gostaria. Por um lado, o ministro do Património Cultural,
Dario Franceschini, manifestou-se contra um sistema que pudesse parecer
“intrusivo”, mas guardou a sua opinião final para quando as entidades
competentes dos bens culturais terminem a avaliação do projecto. O responsável
defendeu, isso sim, citado pelo jornal La Repubblica, que é necessário “atenuar
a pressão turística”.
Já o arquitecto
Paolo Portoghesi, especialista no barroco (e antigo director da Bienal de
Veneza), tem uma opinião mais sentida: “Parece-me uma coisa realmente parva.”
Especialmente, diz Portoghesi ao mesmo jornal, porque “não se pode admirar de
longe a maravilhosa cenografia”.
“É suficiente que
haja agentes da ordem pública a fiscalizarem comportamentos e a proibirem as
pessoas de sentarem-se na fonte, porque poderiam causar danos. Mas meter uma
cancela parece-me uma ofensa assustadora à beleza de uma obra-prima que se
entrega generosamente àqueles que a observam”, comenta. “Se não usadas para
perigos específicos, as grades são loucuras que arruínam o sentido da cidade.”
Entre urbanistas e especialistas, também o presidente do Instituto Nacional de
Arqueologia e superintendente da arqueologia de Roma, Adriano La Regina,
critica a medida. “Se os turistas em pé ou sentados não se comportam de modo
indecoroso e não perturbam o desfrutar da fonte, para quê afastá-los?”, atira.
Actualmente, é
proibido sentar-se em monumentos de Roma, da Escadaria da Praça de Espanha às
fontes. Mas os turistas são milhões e os agentes de fiscalização (que existem e
chegam a dedicar-se a afastar, ao ritmo do apito, os turistas que sentam nos
degraus mais famosos da cidade) não chegam para todos. Diariamente, é possível
ver as multidões frente à fonte e, de vez em quando, alguém que não resiste a
escalá-la (um turista foi detido e multado recentemente por isso mesmo), molhar
os pés ou até mergulhar. E, claro, enquanto poucos resistem a atirar a sua
moeda, muitos outros tentam recriar, para as memórias e para a fotografia, a
célebre cena com Anita Ekberg e Mastroianni no La Dolce Vita de Fellini.
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