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Amílcar Correia
EDITORIAL
Isabel, a ex-dona disto tudo
O idílio parece
ter terminado, nomeadamente com o congelamento das contas em Portugal, embora
isso não impeça a comercialização das acções de empresas como a Efacec ou do
EuroBic, para alívio da banca, à qual Isabel dos Santos deverá 570 milhões.
Nesta semana, Galp e Nos apresentam resultados. Quais serão os dividendos de
Isabel dos Santos?
17 de Fevereiro
de 2020, 6:33
Mia Couto
escreveu uma vez que “a maior desgraça de uma nação pobre é que, em vez de
produzir riqueza, produz ricos”. Angola é o exemplo mais elucidativo disso
mesmo. O triângulo dourado políticos-empresários-militares aí está para provar
que numa nação pobre o Estado serve para alguma coisa. Portugal também teve o
seu papel neste processo e esmerou-se.
As aplicações da
elite angolana teriam de passar por um mercado financeiro integrado à escala
global, num processo de reciclagem de fortunas de origem duvidosa, sem grande
capacidade de atenção ou de eficácia no seguimento de casos de corrupção ou de
branqueamento de capitais. Em troca, o país receberia liquidez e a sua banca
entraria em Angola. Os bancos nacionais foram para Angola e em força, onde
obtiveram ganhos substanciais, mas pouco tempo depois a banca foi “angolizada”
e os banqueiros portugueses confrontados com a obrigação de cederem quotas a
membros das elites de Luanda e às suas principais empresas.
A entrada de
Isabel dos Santos em grandes negócios em Portugal foi feita em parceria com o
grupo Amorim, na Galp Energia, nos cimentos e na banca. A criação do Banco
Internacional de Crédito (BIC), que se expandiu como BIC Portugal, o actual
EuroBic, para gerir os fluxos de dinheiro entre Portugal e Angola, teve o
ex-ministro do PSD Mira Amaral como presidente e tem o ex-ministro do PS
Teixeira dos Santos como actual líder, na habitual promiscuidade entre negócios
e política. O BIC ganhou importância e visibilidade no retalho com a compra do
malfadado BPN ao Estado por 40 milhões, depois de ter sido nacionalizado em
2008, por um valor meramente simbólico.
Tudo isto foi
conveniente para todos os envolvidos, do lado de cá e do lado de lá, até Isabel
dos Santos deixar de ser desejada por onde antes passeara a sua grandeza
empresarial. O padrão dos investimentos de Isabel dos Santos era conhecido e
deu bons resultados: comprar activos com (muito) dinheiro emprestado, ir
diferindo o pagamento dos mesmos ao longo do tempo e, entretanto, amealhar os
dividendos das empresas nas quais participava (494 milhões de euros até à data
em Portugal).
O idílio parece
ter terminado, nomeadamente com o congelamento das contas em Portugal, embora
isso não impeça a comercialização das acções de empresas como a Efacec ou do
EuroBic, para alívio da banca, à qual Isabel dos Santos deverá 570 milhões.
Nesta semana, Galp e Nos apresentam resultados. Quais serão os dividendos de
Isabel dos Santos?
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