segunda-feira, 17 de fevereiro de 2020

Isabel, a ex-dona disto tudo

IMAGEM DE OVOODOCORVO


Amílcar Correia
EDITORIAL
Isabel, a ex-dona disto tudo

O idílio parece ter terminado, nomeadamente com o congelamento das contas em Portugal, embora isso não impeça a comercialização das acções de empresas como a Efacec ou do EuroBic, para alívio da banca, à qual Isabel dos Santos deverá 570 milhões. Nesta semana, Galp e Nos apresentam resultados. Quais serão os dividendos de Isabel dos Santos?

17 de Fevereiro de 2020, 6:33

Mia Couto escreveu uma vez que “a maior desgraça de uma nação pobre é que, em vez de produzir riqueza, produz ricos”. Angola é o exemplo mais elucidativo disso mesmo. O triângulo dourado políticos-empresários-militares aí está para provar que numa nação pobre o Estado serve para alguma coisa. Portugal também teve o seu papel neste processo e esmerou-se.

As aplicações da elite angolana teriam de passar por um mercado financeiro integrado à escala global, num processo de reciclagem de fortunas de origem duvidosa, sem grande capacidade de atenção ou de eficácia no seguimento de casos de corrupção ou de branqueamento de capitais. Em troca, o país receberia liquidez e a sua banca entraria em Angola. Os bancos nacionais foram para Angola e em força, onde obtiveram ganhos substanciais, mas pouco tempo depois a banca foi “angolizada” e os banqueiros portugueses confrontados com a obrigação de cederem quotas a membros das elites de Luanda e às suas principais empresas.

A entrada de Isabel dos Santos em grandes negócios em Portugal foi feita em parceria com o grupo Amorim, na Galp Energia, nos cimentos e na banca. A criação do Banco Internacional de Crédito (BIC), que se expandiu como BIC Portugal, o actual EuroBic, para gerir os fluxos de dinheiro entre Portugal e Angola, teve o ex-ministro do PSD Mira Amaral como presidente e tem o ex-ministro do PS Teixeira dos Santos como actual líder, na habitual promiscuidade entre negócios e política. O BIC ganhou importância e visibilidade no retalho com a compra do malfadado BPN ao Estado por 40 milhões, depois de ter sido nacionalizado em 2008, por um valor meramente simbólico.

Tudo isto foi conveniente para todos os envolvidos, do lado de cá e do lado de lá, até Isabel dos Santos deixar de ser desejada por onde antes passeara a sua grandeza empresarial. O padrão dos investimentos de Isabel dos Santos era conhecido e deu bons resultados: comprar activos com (muito) dinheiro emprestado, ir diferindo o pagamento dos mesmos ao longo do tempo e, entretanto, amealhar os dividendos das empresas nas quais participava (494 milhões de euros até à data em Portugal).

O idílio parece ter terminado, nomeadamente com o congelamento das contas em Portugal, embora isso não impeça a comercialização das acções de empresas como a Efacec ou do EuroBic, para alívio da banca, à qual Isabel dos Santos deverá 570 milhões. Nesta semana, Galp e Nos apresentam resultados. Quais serão os dividendos de Isabel dos Santos?

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