Macron and
Merkel call Putin over Syria
As hundreds
of thousands are displaced in bloody Idlib offensive, leaders talk, but do
little else.
By RYM
MOMTAZ 2/21/20, 3:40 AM CET Updated 2/22/20, 11:41 AM CET
It may not
be an EU army, but at least France and Germany can still team up to dial a
phone.
The
situation in Idlib, in the northwest of Syria, is so catastrophic that French
President Emmanuel Macron and German Chancellor Angela Merkel broke away from
the extraordinary European Council budget summit in Brussels on Thursday to
call Russian President Vladimir Putin to suggest convening a meeting to try to
broker a ceasefire.
“The
chancellor and the president wanted to alert President Putin about the
humanitarian situation of the civilian population in Idlib province in Syria,”
according to a press statement issued by Macron’s office.
The
timidness of the call epitomizes Europe's — and the international community's —
impotence in the face of one of the bloodiest conflicts in recent history.
Syrian
President Bashar al-Assad, with the active support of Russia’s air force, which
has targeted hospitals, launched a renewed assault at the end of last year to
recover control of Idlib, the last province in the hands of the opposition.
In 2015,
the last time Russia participated in such a large Assad offensive, more than a
million refugees made their way to Europe.
Around
900,000 civilians, 60 percent of them children, have been internally displaced
since December 1, 2019, according to U.N.'s Office for the Coordination of
Humanitarian Affairs. Many are left to fend for themselves in makeshift tents
in freezing temperatures.
In 2015, the last time Russia participated in such a
large Assad offensive, more than a million refugees made their way to Europe.
The
military and political support Russia, a permanent member of the U.N. Security
Council, has provided to the Syrian president has been the key factor in
helping him gradually oust opposition forces from successive strongholds since
2015. And Putin has also used the conflict to reassert Russia on the
international stage as a military power.
Macron and
Merkel "called for an immediate cessation of hostilities" and asked
parties "not to block humanitarian aid access to populations in need,” the
Elysée said. But the statement did not explicitly call out Russia for blocking
multiple attempts over recent months at the U.N. Security Council to reach an
agreement on a ceasefire and humanitarian aid access.
Instead,
the leaders “expressed their availability to meet quickly with President Putin
and President [of Turkey Recep Tayyip] Erdoğan to find a political solution to
the crisis.” Ankara is the main military backer of the armed opposition forces
still present in Idlib, and has deployed additional troops to the area in
recent weeks.
The
Kremlin, meanwhile, put out its own statement after the call, with its own
version of events.
The
conversation focused on "resolving the Syrian crisis in the context of the
sharply aggravated situation in Idlib as a result of aggressive actions by
extremist groups against Syrian government forces and civilians," the
Kremlin said. "The importance of preventing negative humanitarian
consequences for the civilian population was emphasized."
It was
Macron's idea to call Putin, according to French officials. But the call was
made from the German delegation room at the European Council in Brussels,
according to a German diplomat. The two are expected to make a similar plea to
the Turkish president on Friday.
The
European Council also put out a statement on the situation in Idlib Thursday
night, which also did not explicitly name Russia.
"The
renewed military offensive in Idlib by the Syrian regime and its backers,
causing enormous human suffering, is unacceptable. The EU calls on all actors
to cease hostilities immediately," the Council statement said.
The United
States, another permanent member of the U.N. Security Council, has been largely
absent from the Idlib theater, focusing on issuing statements as the fighting
intensified.
All talk,
no intervention
Earlier on
Thursday, Macron called the situation in Idlib “one of the worst humanitarian
tragedies” and condemned “the military attacks the regime of Bashar al-Assad
has been carrying out for several weeks against civilian populations.”
But he
still shied away from pointing the finger at Russia, with which he has been
trying to warm relations since he became president three years ago.
Instead,
Macron said: “I really ask all the permanent members of the Security Council to
own up to their responsibilities.”
On
Wednesday, France’s Ambassador to the U.N. Nicolas de Rivière was more direct.
“We tried very hard to get a [U.N. Security Council]
press statement calling for a cessation of hostilities and humanitarian access
to Idlib, basically Russia said no,” de Rivière said as he left the council's
building in New York.
The United
States, another permanent member of the U.N. Security Council, has been largely
absent from the Idlib theater, focusing on issuing statements as the fighting
intensified. “There is no dream of the Syrian people; they are living through a
nightmare of death and destruction,” State Department spokeswoman Morgan Ortagus
tweeted Thursday.
In October
2018, France, Germany, Russia and Turkey met in Istanbul and called for a
lasting ceasefire and the convening of a constitutional committee to begin work
toward a political solution to the conflict. The ceasefire did not hold, and
the committee has met but achieved very little so far.
In
September 2018, Russia and Turkey brokered a deal in the Russian city of Sochi
to create a demilitarized zone in Idlib, but the deal broke down.
A GUERRA NA SÍRIA
A aliança
venenosa: a Turquia, a Rússia e o domínio da Síria
Na Síria, a
Turquia arrisca-se a que a Rússia lhe mostre que não é a potência que julgava
ser, sem que os seus aliados da NATO sintam um dever de solidariedade
político-militar.
José Pedro
Teixeira Fernandes
José Pedro
Teixeira Fernandes 21 de Fevereiro de 2020, 18:02
1. A Turquia e a
Rússia têm em comum passados grandiosos. Ambos os Estados são herdeiros de
imensos impérios que colapsaram no século XX, como consequência directa ou
indirecta da I Guerra Mundial. A Rússia ainda conseguiu recompor o império dos
czares, metamorfoseando-se em União Soviética, mas esta acabou também por se
desagregar em 1991. Vladimir Putin descreveu o colapso da União Soviética — que
levou a Rússia a perder imensos territórios do Báltico à Ásia Central, deixando
grandes minorias russas ‘órfãs da mãe-pátria’ — como “a maior catástrofe
geopolítica” do século XX. Uma visão provavelmente partilhada pela grande
maioria da população russa.
No caso da
Turquia, Recep Tayyip Erdoğan tem similar visão sobre o final do Império
Otomano. Aí ocorreu a catástrofe da perda de territórios, dos Balcãs ao Médio
Oriente árabe. Algumas populações turcas, ou turcófonas, ficaram também fora da
República da Turquia que lhe sucedeu. Eclipsou-se ainda a autoridade
religioso-política sobre os muçulmanos sunitas, dentro e fora do império, que o
sultão-califa dispunha, pelo radicalismo secularista de Mustafa Kemal Atatürk.
A Síria é um território histórico do Império Otomano e
Recep Tayyip Erdogan procura (re) adquirir ascendente sobre essa antiga
província árabe do império. Vê-a como sendo parte da sua esfera de natural de
influência
2. A Síria é um
território histórico do Império Otomano e Recep Tayyip Erdoğan procura (re)
adquirir ascendente sobre essa antiga província árabe do império. Vê-a como
sendo parte da sua esfera de natural de influência. A ambição pode ser vista
como uma sequela histórica da formação dos modernos Estados-Nação que
alimentou, quase sempre, contestação, disputas territoriais e conflitos
sectários. No cerne do problema está o facto de o princípio da soberania
nacional não se adaptar facilmente a populações que viveram longos séculos em
territórios imperiais.
A fronteira da
Turquia com a actual Síria mostra o problema. O Sul da Turquia tem substanciais
populações árabes na província do Hatay (um território designado como Sandjak
d’Alexandrette durante o mandato francês para a Síria, entre as duas guerras
mundiais), que a Turquia anexou em 1939. Todavia, a Síria como Estado
independente nunca reconheceu tal anexação. Para além disso, a área sudeste da
Turquia, que se prolonga até à fronteira com a Síria (e Iraque e Irão), é um
território histórico de populações curdas, tal como é a parte contígua do
território da Síria, do outro lado da fronteira. No passado otomano que se
prolongou até inícios dos século XX, curdos e árabes, sunitas e alauitas, eram
apenas alguns dos muitos povos e religiões de um império onde a lógica nacional
moderna era desconhecida.
3. Não é
surpreendente que a ambição (neo) otomana da Turquia tenha levado à decisão de
apoiar abertamente a revolta contra Bashar al-Assad iniciada em 2011. Nessa
altura, estávamos no contexto da chamada ‘Primavera Árabe’. No Ocidente, muitos
sem qualquer conhecimento substancial dessa parte do mundo — e das suas
complexidades culturais e políticas —, alimentavam ilusão de estarem a assistir
ao início de uma nova era de democracia, liberdade e direitos humanos. Seria
uma espécie de réplica das revoluções de 1848 na Europa, ou da queda do muro de
Berlim de 1989, agora no Sul do Mediterrâneo. A retórica diplomática do Governo
turco alimentava similar ideia: tratava-se de apoiar as forças ‘democráticas’
da oposição contra o Governo ditatorial de Bashar al-Assad.
Na realidade, foi
uma configuração do conflito tão tranquilizante quanto enganadora. O
autoritarismo opressor de Bashar al-Assad é inquestionável, mas a Turquia de
Recep Tayyip Erdoğan está longe de ser um modelo de democracia, de liberdade e
de direitos humanos. Seria estranho se quisesse criar um Estado genuinamente
democrático do outro lado da fronteira, quando perverte a democracia liberal na
sua própria casa.
Claro que existiu
um cálculo estratégico da Turquia, de ganhos em derrubar Bashar al-Assad. A
chegada ao poder de um Governo oriundo da maioria árabe sunita da população —
na qual a Irmandade Muçulmana, que Erdoğan também apoia, dispõe de
significativa influência — instalaria um poder amistoso subordinado à
influência da Turquia. Não é o caso de Bashar al-Assad, que é oriundo da
minoria alauita, próxima do xiismo e aberta à influência do Irão. Entre outras
vantagens, provavelmente permitiria fazer um tratado sobre a fronteira entre os
dois países, encerrando o contencioso sobre o Hatay, território onde a Síria
sempre se recusou aceitar de jure a soberania da Turquia.
4. O cálculo
estratégico inicial da Turquia, baseado na convicção de ser possível afastar o
governo Bashar al-Assad através de uma guerra por procuração — ou seja, numa
guerra feita por forças interpostas, onde a Turquia não se envolveria
directamente —, acabou por redundar num grande fracasso. A aposta principal foi
no ‘Exército Livre da Síria’, formado sobretudo por desertores do exército
sírio e islamistas próximos da Irmandade Muçulmana. Todavia, este nunca se
mostrou capaz de derrotar militarmente as forças governamentais, mesmo nos
momentos mais críticos para estas durante os primeiros anos do conflito — nessa
altura o Irão e o Hezbollah libanês foram fundamentais.
Não é surpreendente que a ambição (neo) otomana da
Turquia tenha levado à decisão de apoiar abertamente a revolta contra Bashar
al-Assad iniciada em 2011. Houve um cálculo estratégico da Turquia dos ganhos
em derrubar Bashar al-Assad. A chegada ao poder de um Governo oriundo da
maioria árabe sunita da população — na qual a Irmandade Muçulmana, que Erdogan
apoia, dispõe de significativa influência — instalaria um poder amistoso
subordinado à influência da Turquia
A partir de 2015,
a intervenção militar russa na guerra da Síria afastou quaisquer hipóteses de
sucesso da abordagem inicial da Turquia ao conflito. Uma viragem quase total da
estratégia político-militar turca surgiu a partir de 2016, emergindo
gradualmente uma espécie de entente cordiale entre Erdoğan e Putin. Este (re)
posicionamento estratégico — alimentado habilmente pela Rússia —, foi para
Erdoğan o resultado de uma dupla frustração: o falhanço do seu objectivo de
afastar Bashar al-Assad e ganhar influência na Síria, com a Rússia a mostrar-se
um obstáculo intransponível a partir de 2015; a constatação de que os seus
aliados da NATO e da União Europeia não se importariam muito com o seu
afastamento, se a tentativa de golpe de Estado ocorrida no ano seguinte na Turquia
tivesse tido sucesso.
5. Apesar das
declarações mútuas de amizade dos últimos anos, a Rússia é um parceiro incómodo
para a Turquia, e o inverso também é válido. Há profundas razões históricas e
geopolíticas para ser assim, as quais subsistem ainda que sob outras formas.
No passado de
ambos os Estados, o Império da Rússia e o Império Otomano, competiam e chocavam
militarmente com frequência. Ao longo dos séculos XVIII e XIX, a Rússia dos
czares teve um papel central no retrocesso no Império Otomano na Europa, em
particular nos Balcãs. No século XX, após a II Guerra Mundial, foi o medo da
poderosa União Soviética a da sua reivindicação dos territórios do Leste da
Anatólia — conquistados na guerra russo-turca de 1877-1878 e cedidos pelos
bolcheviques, após a revolução de 1917, num momento de fraqueza — que levou a
Turquia a aderir à NATO e a procurar o abrigo do poder militar-nuclear dos EUA.
Após o final da
União Soviética, na Ásia Central, do Azerbaijão ao Quirguistão, a Turquia
compete com a Rússia pela influência política, económica e cultural-religiosa
nessas antigas repúblicas soviéticas. Actualmente, na guerra da Líbia, a
Turquia e a Rússia apoiam diferentes facções em conflito. No caso da Síria, a
guerra está a entrar na sua fase final envolvendo uma dura luta pelo controlo
da província do Idlib. É um território contíguo ao Hatay — com a soberania
turca sobre este contestado pela Síria — e praticamente o último reduto dos
rebeldes que lutam contra Bashar al-Assad, incluindo múltiplos grupos islamistas-jihadistas.
Podem a Rússia e Turquia continuar a sua (superficial) convergência de
interesses, ou estes vão chocar abertamente levando a que a ambição (neo)
otomana da Turquia fique enterrada no Idlib?
6. Em inícios de
Fevereiro de 2020, vários soldados turcos foram mortos em confronto com forças
governamentais sírias no Idlib. É improvável que a ofensiva militar do Governo
sírio — e das suas milícias aliadas apoiadas pelo Irão —, não tenha sido
coordenada (e aprovada) directamente pela Rússia. Esta ofensiva coloca um sério
problema à Turquia e às suas ambições de controlo da zona fronteiriça contígua,
no interior do território da Síria.
A aproximação da
batalha final do Idlib mostra os limites e contradições das relações
turco-russas e da entente cordiale iniciada em 2016. Na realidade, é uma
aliança venenosa desde o início, baseada numa calculista convergência pontual
de interesses, mas onde nem a Rússia confia na Turquia, nem a Turquia confia na
Rússia.
Com o espaço em
disputa a estreitar-se no território sírio — e com os objectivos contraditórios
da Turquia e do Governo sírio de Bashar al-Assad em clara rota de colisão —, o
‘veneno’ dentro da aliança russo-turca vai fazer-se sentir. Já estamos a
assistir a bombardeamentos russos de grupos pró-turcos em Idlib, os quais
tentavam atacar forças governamentais de Bashar al-Assad. Nada indica também
que a Rússia vá permitir que a Turquia cause sérios danos às forças sírias.
Talvez incursões menores, como tem acontecido com os raides de Israel, feitos
com a complacência russa.
Mas, na Síria, a
Turquia arrisca-se a que a Rússia lhe mostre que não é a potência que julgava
ser, sem que os seus aliados da NATO sintam um dever de solidariedade
político-militar. Afinal, foi a Turquia que unilateralmente entrou com os seus
exércitos no Norte da Síria e não o inverso.
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