Aeroporto do
Montijo é "importantíssimo" mas "não é para a TAP"
Antonoaldo Neves
reiterou esta quinta-feira que "não há possibilidade" de a TAP ir
para o Montijo "nem hoje, nem daqui a quatro anos"
DN/Lusa
20 Fevereiro 2020
— 15:04
https://www.dn.pt/dinheiro/aeroporto-do-montijo-e-importantissimo-mas-nao-e-para-a-tap-11842859.html
"Não há
possibilidade de a TAP ir para o Montijo, não existe essa possibilidade. O
Montijo não é para a TAP", sublinhou o CEO da TAP, na conferência de
imprensa de apresentação dos resultados de 2019 da transportadora. Antonoaldo
Neves explicou que a companhia que lidera opera aviões de longo curso, que não
cabem no aeroporto do Montijo, "nem hoje, nem daqui a quatro anos".
O responsável
disse também que 57% dos passageiros da TAP fazem escala em Lisboa e que, por
isso mesmo, a opção do Montijo não facilita o processo de conexão entre voos.
"A TAP não vai para o Montijo, essa decisão está tomada", garantiu,
salientando, no entanto, que considera "importantíssimo" a construção
daquela infraestrutura.
"Tem que
fazer o Montijo, ponto final. Mas a TAP não tem nada a dizer sobre isso. O que
a TAP tem a dizer sobre o sistema aeroportuário em Portugal é só sobre a
Portela", acrescentou o presidente executivo da companhia aérea.
O executivo falou
também sobre um estudo da AirHelp, que colocou a Portela no topo da lista dos
piores aeroportos do mundo. "A TAP não é a pior empresa do mundo, mas
Portela é o pior aeroporto do mundo. E vai piorar, porque não há data para o
investimento", afirmou.
O Grupo TAP
divulgou esta quinta-feira prejuízos de 105,6 milhões de euros em 2019, uma
melhoria de 12,4 milhões de euros face às perdas de 118 milhões registadas em
2018 pela companhia aérea.
De acordo com o
comunicado da TAP SGPS, que engloba todas as empresas do grupo, enviado à
Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM), "o processo que envolve
a gestão da entrada das 30 aeronaves e a saída de 18 antigas teve um impacto
negativo financeiro de 55 milhões de euros no resultado do ano".
A empresa
liderada por Antonoaldo Neves refere ainda que em 2019 "foi penalizada
entre 30 milhões de euros a 35 milhões de euros em resultado da ineficácia da
infraestrutura", referindo-se à "falta de investimento na capacidade
do aeroporto de Lisboa" e ao "congestionamento do espaço aéreo"
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OPINIÃO
Prémios da TAP: a
dolce vita dos executivos que se pagam a si próprios
A própria
expressão “prémio de desempenho” devia querer dizer que se premeia o que corre
bem. Portanto, há aqui algo de muito errado.
SUSANA PERALTA
21 de Fevereiro
de 2020, 6:42
A TAP acumulou,
em 2019, 100 milhões de euros de prejuízo, um valor semelhante ao que tinha
perdido em 2018. Isso não impediu o CEO da companhia, Antonoaldo Neves, de
pagar prémios de desempenho aos quadros dirigentes nos dois anos. A própria
expressão “prémio de desempenho” devia querer dizer que se premeia o que corre
bem. Portanto, há aqui algo de muito errado.
O ministro Pedro
Nuno Santos condenou os prémios, secundado por Miguel Frasquilho, presidente do
conselho de administração da transportadora, que já no ano passado se tinha
manifestado contra estes pagamentos. O que é mesmo muito bizarro no caso da TAP
é que o governo detém 50% do capital social, mas apenas 5% dos chamados
“direitos económicos” da companhia. Traduzido por miúdos: quando em 2015 o PS
chegou ao governo e quis reverter o processo de privatização da companhia, o
acordo que conseguiu com a holding privada Atlantic Gateway consistiu em
aumentar a participação do Estado no capital da empresa de 34% para 50%, em
simultâneo com uma diminuição dos direitos económicos de 34% para 5%. Ao mesmo
tempo, a Atlantic Gateway baixou a sua participação no capital de 61% para 45%,
mas aumentou os direitos económicos de 61% para 90%. Em resultado desta perda
de direitos económicos, apenas no conselho de administração existe equilíbrio
entre o número de elementos indicados pela Parpública (ou seja: o Estado) e
pela Atlantic Gateway. Nos restantes órgãos — mesa da assembleia geral,
comissão executiva, conselho fiscal, comissão de vencimentos e órgãos das
empresas subsidiárias —, o Estado tem uma intervenção limitada. Portanto, o
Estado tem metade da TAP, mas só participa em decisões estratégicas, não na
gestão da empresa.
O que acontece na
TAP podia ser uma originalidade, ligada ao bizarro esquema de governance
cozinhado na altura da recompra, só que não é. O grupo financeiro australiano
AMP anunciou há uma semana um aumento de quase 2 milhões de dólares no salário
anual do seu CEO, Francesco De Ferrari, no mesmo ano em que anunciou perdas de
2,5 mil milhões. Um artigo do jornal britânico Observer do passado mês de
agosto explicava que 2018 foi um ano “brutal” nos Estados Unidos, em que a
maior parte das empresas perdeu valor em bolsa (17% em média). O que não
impediu os CEO dos maiores bancos e instituições financeiras de se oferecerem
um aumento mediano de 8,5%. O mais bem pago em 2018 no sector financeiro ganhou
quase 45 milhões de dólares com a empresa a perder 15% do valor. Em 2017, John
Fallon, CEO da editora Pearson, teve um aumento de 20% num ano em que a empresa
teve o pior prejuízo da sua história, perdeu 2 mil milhões de libras em bolsa e
despediu 4000 pessoas, ou seja, 10% dos seus empregados. Exemplos não faltam.
Um caso muito
interessante é o da BP em 2016, quando o CEO, Bob Dudley, recebeu um aumento de
20%, num ano em que a empresa perdeu mais de 6 mil milhões de dólares — um dos
maiores prejuízos da sua história — e despediu 7000 trabalhadores. A
justificação da empresa é de que as perdas foram devidas a uma redução do preço
do petróleo, variável que está fora do controlo dos executivos, mas que estes
conseguiram fazer um trabalho extraordinário, apesar dessas más circunstâncias,
tendo ultrapassado as expectativas. O que me suscita as questões seguintes.
Basta ultrapassar expectativas que, suponho, os próprios fixaram a si mesmos,
para ser principescamente pago em face de prejuízos milionários? Os executivos
seriam magnânimos a dispensar os prémios de performance num ano em que a
empresa tivesse lucros estratosféricos devido a uma evolução favorável do preço
do petróleo, argumentando que não tinham tido controlo sobre esse factor? Se
houve azar no preço do petróleo, por que razão é a força de trabalho a absorver
sozinha esse choque, enquanto os executivos recebem um cheque chorudo? Ou será
que o preço do petróleo desceu por decisão da força de trabalho, que assim paga
o seu mau desempenho? Os trabalhadores, que não têm qualquer poder de decisão,
são uma espécie de apólice de seguro dos executivos: nada ganham quando as
empresas têm lucros chorudos, pagam os prejuízos quando eles surgem. Enquanto
isso, os executivos ganham sempre. Sabe porquê? Porque os executivos decidem em
causa própria.
Os defensores dos
pacotes compensatórios milionários dos executivos explicam que o objetivo é
alinhar os seus interesses com os dos acionistas. Ou seja: os acionistas querem
mais lucros; se os executivos ganharem com isso, então têm interesse em
trabalhar para esse objetivo. Mesmo que os CEO sirvam os acionistas, isso não é
necessariamente bom. As empresas têm um papel importante perante consumidores,
trabalhadores, meio ambiente — objetivos que ficam de fora desta visão
restrita. Mas o que os exemplos que aqui trago sugerem é que os executivos nem
sequer servem os interesses dos acionistas e não são remunerados pelo
sacrossanto desempenho. O artigo Are CEOs rewarded for luck? The ones without
principals are, publicado por Marianne Bertrand e Sendhil Mullainathan no
Quarterly Journal of Economics em 2001, mostra que a remuneração dos executivos
varia com factores que não estão relacionados com o seu desempenho. Um dos
casos estudados no artigo é precisamente o do preço do petróleo na indústria
petrolífera. Estes resultados foram confirmados por Lucas Davis e Catherine
Hausman num artigo de 2018, Are energy executives rewarded for luck?. Uma das
motivações dos autores para esta investigação, quase duas décadas depois do
artigo de Bertrand e Mullainathan, é a constatação de que os pacotes
remuneratórios dos CEO quase duplicaram, apesar do quadro regulatório se ter
alterado substancialmente ao longo do século XXI, com maior exigência nas
obrigações de transparência e reporte das grandes empresas. No entanto, os
autores mostram que os pacotes chorudos dos executivos continuam a depender de
factores que nada têm que ver com o desempenho. Tudo muda, exceto a capacidade
de quem tem poder de decisão para o utilizar em benefício próprio. Portanto,
prepare-se: o cheiro a esturro na TAP vai continuar.
A autora escreve
segundo o novo acordo ortográfico
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