AEROPORTO DO
MONTIJO
“Só por cima do
meu veto”: o professor e o engenheiro que ameaçam o aeroporto no Montijo
Rui Garcia e
Joaquim Santos são os autarcas da Moita e do Seixal que estão a travar o
aeroporto no Montijo.
Francisco Alves
Rito 27 de Fevereiro de 2020, 19:26
Um é professor de
Matemática, no ensino básico, o outro engenheiro civil. Na política nunca
pensaram em ser elementos de subtracção, muito menos de uma obra, mas são os
rostos principais da possível queda do aeroporto do Montijo.
Rui Garcia, 57
anos, presidente da Câmara da Moita, e Joaquim Santos, 44 anos, do Seixal,
estão irredutíveis quanto à possibilidade de o aeroporto ser construído no
Montijo. “Só por cima do meu veto”, disse este último ao PÚBLICO, esta
quinta-feira.
Rio recusa dar a
mão ao Governo para alterar lei à medida do aeroporto no Montijo
“A nossa posição está fundamentada, não é um
capricho nem uma estratégia político-partidária” acrescenta Rui Garcia. “Não
estamos à venda”, deixa bem claro, em conversa com o PÚBLICO.
Os autarcas não
afastam, no entanto, a hipótese de virem a conversar com o Governo. “Admitimos
dialogar e discutir tudo, mas só mudamos de posição se mudarem algumas
circunstâncias”, informa Rui Garcia. Questionado sobre a que circunstâncias se
refere, responde a sorrir: “Mudar-se a localização para Alcochete”.
Joaquim Santos
aponta uma primeira alteração das circunstâncias.
“Começam agora a
reunir-se as condições para haver a negociação séria que ainda não foi feita”,
refere o autarca do Seixal, que aponta o dedo à falta de diálogo de António
Costa.
“Nunca tivemos nenhuma reunião formal com o
Governo. Desde que foi anunciado o projecto, não houve qualquer encontro,
embora o senhor primeiro-ministro o tenha prometido.”, diz.
Joaquim Santos
assegura que os autarcas do PCP estão a “favor do desenvolvimento da região e
do país”, mas que a melhor localização para o Aeroporto é Alcochete que “tem
DIA [Declaração de Impacte Ambiental] favorável há dez anos e é só começar a
construir”. O jovem autarca manda um recado aos socialistas: “Se não acreditam
nos nossos argumentos, leiam os de José Sócrates”, atira, referindo ao recente
artigo do antigo governante.
De ignorados a
decisivos
O próprio Rui
Garcia, mesmo como presidente da Associação de Municípios da Região de Setúbal
(AMRS), não imaginava que iria ter nas mãos o poder de travar o aeroporto no
Montijo. Bem pelo contrário. Da primeira vez que falou sobre o tema nessa
qualidade, em 2017, foi para queixar-se de que o Governo, já de António Costa,
não estava a dar importância aos autarcas.
Na altura, Rui
Garcia lamentou que os municípios não tivessem sido ouvidos sobre a localização
do aeroporto, com excepção do Montijo, liderado pelo socialista Nuno Canta, e
anunciou que iria pedir uma “reunião urgente” com o primeiro-ministro.
“Perante os dados
que são públicos, não existe fundamento para se alterar a decisão de construir
no Campo de Tiro um novo aeroporto. É possível e é necessário para o
desenvolvimento da região, um terminal na base aérea não é alavanca para coisa
nenhuma. É possível e é necessário fazer no Campo de Tiro e ainda é mais
urgente agora”, defendeu Rui Garcia.
Esta firme
posição dos autarcas comunistas, em conjunto, foi assumida publicamente há
exactamente três anos. No dia 13 de Fevereiro de 2017, a Associação de
Municípios da Região de Setúbal, a que Rui Garcia presidia, no final de uma
reunião em que estiveram presentes todas as autarquias, à excepção de Setúbal,
foi anunciada a posição, quase unânime, que haveria de fazer o caminho da água
mole que marca a pedra dura. Dos nove municípios da AMRS, apenas um era
socialista, o do Montijo, e apenas esse não subscreveu a decisão, por ser
favorável à localização do aeroporto.
Entretanto, com
as eleições de 2017, o mapa autárquico mudou, e os autarcas comunistas Luís
Franco (Alcochete), José Luís Judas (Almada) e Carlos Humberto de Carvalho
(Barreiro), perderam nas urnas e foram substituídos pelos socialistas Fernando
Pinto, Inês de Medeiros e Frederico Rosa, respectivamente. O PS ganhou força na
associação de municípios, mas não o suficiente para chegar à maioria e a
posição oficial da AMRS manteve-se.
Rui Garcia, da
Moita e da AMRS, e Joaquim Santos, do Seixal, o mais populoso município dos que
estão contra o aeroporto, colocam-se na linha da frente da contestação, mas na
rectaguarda, contam com o sólido apoio de outros três autarcas da região.
Palmela, Setúbal e Sesimbra também deram parecer negativo à localização do
aeroporto no Montijo e estão igualmente irredutíveis na opção por Alcochete.
Neste
braço-de-ferro entre socialistas e comunistas, na península de Setúbal, o PCP
ganha, com cinco câmaras contra quatro do PS.
Sem comentários:
Enviar um comentário