“Os jornalistas não deviam permitir que Dominic Cummings
use o disfarce da anonimidade. Uma pessoa tão poderosa tem de ser nomeado e
responsabilizado publicamente”, disse no Twitter Alan Rusbridger, ex-director
do jornal The Guardian
Tem sido também Dominic Cummings a estar na vanguarda de
vários confrontos com a imprensa nos últimos tempos – como quando em Janeiro
quis mandar embora de uma conferência no n.º 10 de Downing Street (a sede do
Governo) os jornalistas que não tinham sido especificamente convidados para o
efeito, traçando uma linha no chão. Os que estavam para além da linha, disse,
teriam de sair. Os jornalistas recusaram: ou ficavam todos, ou saiam todos.
BBC
Boris Johnson quer acabar com a BBC tal como a conhecemos
A televisão britânica é o modelo para o serviço público
para o mundo inteiro. Mas o Governo conservador britânico não gosta da
cobertura que faz e quer mudar tudo. Passar a BBC para canal por subscrição é
uma hipótese que está a ser considerada seriamente.
Clara Barata
Clara Barata 16 de Fevereiro de 2020, 20:12
https://www.publico.pt/2020/02/16/mundo/noticia/boris-johnson-quer-acabar-bbc-tal-conhecemos-1904372
O programa eleitoral dos Conservadores prometia trabalhar
com a BBC, mas Boris Johnson parece ter agora outros planos
O Governo de Boris Johnson está determinado em acabar com
a BBC tal como o mundo a conhece e louva, um modelo para o serviço público de
televisão e rádio. Neste domingo, o Sunday Times noticiou que nos planos do
executivo está acabar com a taxa da televisão e fazer com que os
telespectadores que queiram ver a BBC paguem uma subscrição.
Despedimentos, redução de canais de televisão e do
serviço internacional, site diminuído e a venda de pelo menos uma rádio estão
incluídos neste programa.
A notícia cita uma “fonte importante”, que para os meios
conhecedores dos bastidores políticos britânicos só pode querer dizer uma
pessoa, dizem os media britânicos: Dominic Cummings, o poderoso conselheiro do
primeiro-ministro. “Os jornalistas não deviam permitir que Dominic Cummings use
o disfarce da anonimidade. Uma pessoa tão poderosa tem de ser nomeado e
responsabilizado publicamente”, disse no Twitter Alan Rusbridger, ex-director
do jornal The Guardian.
A notícia desencadeou múltiplas reacções, de gente do
mundo dos media e da política. John Simpson, um muito conhecido jornalista da
BBC (há 53 anos na casa), fez um tweet com um vídeo de explicação sobre a taxa
de televisão que é um importante sustento da emissora pública britânica e
explicou que não estava a divulgá-lo por ser da BBC: “Como cidadão britânico,
tenho medo do movimento crescente para desmembrar a BBC e refazer o sector da
radiotelevisão do Reino Unido à imagem da Fox TV”, a televisão dos Estados
Unidos conotada com direita conservadora.
Esta ideia de fazer da BBC uma emissora ao modelo da Fox
tem sido ventilada por Dominic Cummings, que foi também o estratega de
comunicação do referendo do “Brexit” – é-lhe atribuída a invenção da frase take
back control, recuperar o controlo do país, das leis, se o Reino Unido saísse
da União Europeia.
Tem sido também Dominic Cummings a estar na vanguarda de
vários confrontos com a imprensa nos últimos tempos – como quando em Janeiro
quis mandar embora de uma conferência no n.º 10 de Downing Street (a sede do
Governo) os jornalistas que não tinham sido especificamente convidados para o
efeito, traçando uma linha no chão. Os que estavam para além da linha, disse,
teriam de sair. Os jornalistas recusaram: ou ficavam todos, ou saiam todos.
É sabido, no entanto, desde as eleições legislativas de
Dezembro, que Boris Johnson e a sua equipa mais próxima têm contas a acertar
com a BBC, que acusam de ter dado uma cobertura injusta ao Partido Conservador.
Em resposta ao que consideram ter sido uma cobertura tendenciosa da emissora,
os ministros foram proibidos de aceitar convites para o programa Today, da
rádio BBC4, por exemplo.
Mas também da esquerda vieram ataques: ganhou fôlego
entre os apoiantes de Jeremy Corbyn, o líder do Partido Trabalhista que está de
saída, a ideia de que a BBC tinha um preconceito contra ele. O resultado é
tanto Corbyn como Johnson se furtaram a aparecer na BBC.
O pagamento da taxa de televisão é obrigatório – custa
154,5 libras anuais (185,68 euros), e foi já anunciado que vai aumentar para
157,50 (189,2 euros) em Abril. Mas a ministra da Cultura, Nicky Morgan,
anunciou que vai lançar uma consulta sobre a possibilidade de deixar de punir
quem a não pague – hoje quem não pagar tem o mesmo tipo de penalidade de alguém
que não pague a conta da luz, e o cumprimento da lei é garantido por oficiais
de justiça.
Mas não é garantido que a desmontagem da BBC seja fácil
ou popular. Políticos do Partido Conservador reagiram de forma pouco positiva à
notícia deste domingo, como o deputado Huw Merriman: “Não tenho a certeza de
que esta vingança contra a BBC acabe bem. Não há qualquer menção a isto no
nosso programa (onde na verdade prometemos trabalhar com a BBC para construir
novas parcerias a nível global. Por isso, não vou apoiar esta medida”, anunciou
no Twitter.
“Espero que o artigo do Sunday Times sobre a BBC seja
apenas um balão de ensaio. Destruir a BBC não estava no nosso programa e seria
vandalismo cultural. Votem nos tories e fecharemos a BBC Radio 2. É o que
querem?”, disse por seu lado Damian Green, ex-ministro de Theresa May.
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