sábado, 22 de fevereiro de 2020

Tensão nunca foi tão grande entre PS e BE



TRIBUNAL CONSTITUCIONAL
Tensão nunca foi tão grande entre PS e BE

Os problemas começaram nas negociações do Orçamento do Estado, mas a crise rebentou na praça pública com a escolha dos juízes-conselheiros para o Tribunal Constitucional.

São José Almeida
São José Almeida 22 de Fevereiro de 2020, 6:14

O PS e o BE andam de candeias às avessas. O clima de tensão tem vindo a crescer desde as legislativas, engrossou em torno das negociações sobre o Orçamento do Estado para 2020 e rebentou esta semana por causa dos nomes indicados pela líder parlamentar dos socialistas, Ana Catarina Mendonça Mendes, para preencher as vagas de Clara Sottomayor e de Cláudio Monteiro que pediram a demissão do Tribunal Constitucional. Os novos juízes-conselheiros são Vitalino Canas e António Clemente Lima.

Na direcção do PS há quem fale em “deslealdade” da parte do BE, quer nas acusações sobre o processo de escolha dos nomes para o Tribunal Constitucional, quer nas negociações sobre Orçamento do Estado. O mesmo responsável considerou mesmo que “o BE está a arranjar pretextos para romper com o PS”.

O mesmo tom crispado em relação à direcção do BE foi, na quinta-feira, publicamente assumido pela líder parlamentar do PS. Em declarações aos jornalistas, Ana Catarina Mendes afirmou: “Considero que a declaração é grave e demonstra má-fé de quem sabe que negociou, que tem conversado com o PS e que sabia desde Novembro que nesta legislatura não havia a indicação de um nome do BE.”

A socialista reagia assim às declarações feitas na véspera por Pedro Filipe Soares, em que o líder parlamentar do BE acusava os socialistas de, ao escolherem os nomes para juízes do Tribunal Constitucional, estarem a pôr em causa o entendimento que vigorou na passada legislatura: “É a sua escolha e sua prerrogativa, mas o PS, ao fazer esta escolha, não dá continuidade ao diálogo que existiu na última legislatura e que envolveu o Bloco de Esquerda na indicação de nomes.”

O PÚBLICO sabe que Ana Catarina Mendes se referia ao conteúdo da segunda reunião realizada entre António Costa e Catarina Martins, a seguir às legislativas de 6 de Outubro. Nesse encontro, o líder do PS disse à coordenadora do BE que tinha a intenção de manter Francisco Louçã no Conselho de Estado, mas clarificou que não tencionava indicar nenhum nome próximo dos bloquistas para o Tribunal Constitucional – à época já se tinha demitido a juíza-conselheira Clara Sottomayor na sequência da querela que manteve com o colectivo de juízes-conselheiros a propósito do seu acórdão sobre metadados. Nesse encontro, os bloquistas não contestaram a decisão.

O assunto voltou a ser referido pelo menos em mais uma reunião posterior que juntou os líderes parlamentares dos dois partidos, Ana Catarina Mendes e Pedro Filipe Soares. Nesse encontro, o dirigente do BE fez saber que seria difícil ao seu partido votar a favor dos nomes que o PS iria propor. Mas, de acordo com as informações recolhidas pelo PÚBLICO, o BE foi informado dos nomes antes de eles serem divulgados.

Já nas negociações orçamentais existiu tensão entre os dois partidos, embora sem transparecer para a opinião pública. Desde o início, o BE centrou as negociações no IVA da electricidade. O primeiro-ministro recusou a proposta mas avisou o BE que em alternativa iria pedir autorização a Bruxelas para uma redução progressiva que tivesse em conta os consumos. Numa das reuniões posteriores, António Costa ainda ofereceu como contrapartida negocial a baixa de 20% nas propinas. Mas o BE não aceitou a troca.

A medida veio a ser apresentada pelo grupo parlamentar do PS. E foi com espanto que a direcção socialista soube pelas notícias que o BE estava disponível para aprovar as contrapartidas propostas pelo PSD para baixar o IVA da electricidade. É a partir de então que o PS explora as fissuras na direita parlamentar e Ana Catarina Mendes fala com a líder da bancada do CDS, Cecília Meireles, assegurando ainda o apoio do PAN e de Joacine Katar Moreira.

Isabel Oneto no Conselho Superior de Defesa Nacional
A deputada do PS e ex-secretária de Estado adjunta da Administração Interna, Isabel Oneto, irá representar a Assembleia da República no Conselho Superior de Defesa Nacional em substituição do deputado João Ataíde das Neves que morreu na sexta-feira. A designação será feita para a semana, quando forem indicados os representantes do Parlamento em vários órgãos externos.

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