Erdogan abre os
portões e Grécia responde com gás lacrimogéneo contra refugiados
Decisão turca
para pressionar a União Europeia deixa milhares de pessoas num limbo.
Maria João
Guimarães
Maria João
Guimarães 29 de Fevereiro de 2020, 19:55
Milhares de
refugiados e migrantes juntaram-se num ponto da fronteira entre a Turquia e a
Grécia depois de receberem a informação que lhes seria permitido passar – algo
dito pelo Presidente Recep Tayyip Erdogan, que declarou este sábado que os
“portões estão abertos”. Mas do lado grego a determinação em não deixar ninguém
passar levou ao uso de gás lacrimogéneo pela polícia de fronteira.
Alguns dos
refugiados foram para cidades costeiras da Turquia para tentar sair para ilhas
gregas como Lesbos, Quios ou Samos, mas a maioria juntou-se num ponto, aliás
pouco antes usados, na fronteira em terra – jornalistas no local dizem que há
relatos de terem sido levados por veículos turcos e o correspondente da revista
alemã Der Spiegel na Grécia, Giorgos Christides, disse que havia pessoas no
grupo que tinham granadas de gás lacrimogéneo e que estas eram de fabrico
turco, dando azo à especulação de que as tinham recebido da Turquia para semear
confusão na fronteira.
Erdogan disse que
passaram 18 mil refugiados da Turquia para a Europa. Na fronteira em terra com
a Grécia ou a Bulgária não havia registo de passagens e às ilhas chegaram três
barcos, com o mau tempo no Mediterrâneo a não facilitar as viagens. “Isso não é
simplesmente verdade”, disse fonte do Governo grego reagindo à declaração
turca. O Executivo do conservador Kyriakos Mitsotakis acaba de sair de uma
semana marcada por violência nas ilhas com protestos contra a construção de
campos de refugiados fechados que as autoridades locais e os habitantes
rejeitam.
Que se trata de
uma utilização dos refugiados como arma da parte da Turquia não parece haver
dúvidas, dizem tanto Giorgos Christides como o jornalista do New York Times
Patrick Kinglsey. Enquanto isso, os refugiados continuam na fronteira à espera
de passar. Alguns deixaram empregos mal pagos em Istambul para tentarem a sua
sorte na passagem para a Grécia, partiram sem preparação nenhuma e
concentram-se numa terra de ninguém. “Durante quanto tempo irá Erdogan manter
este jogo?” questiona Patrick Kingsley.
É um jogo que
poderá ter já algum resultado. Da Áustria, o chanceler austríaco Sebastian Kurz
já veio dizer que não afasta a hipótese de encerramento da fronteira do país
como durante a crise dos refugiados de 2015-16, e da Alemanha Norbert Röttgen,
um dos candidatos à liderança da CDU (União Democrata-Cristã), o partido da
chanceler Angela Merkel, disse que as declarações de Erdogan devem ser vistas
como um “pedido de ajuda”. “A chantagem de Erdogan é na verdade um pedido de
ajuda – a Turquia precisa da União Europeia e do Ocidente”, declarou à edição
de domingo do jornal Frankfurter Allgemeine Zeitung. Para Röttgen o gesto do
líder turco não deve ser entendido como uma provocação mas sim como uma
admissão de que a sua política de entendimento com a Rússia falhou e que
precisa da ajuda dos europeus.
Turquia quer
mísseis Patriot
O envolvimento
turco na guerra na Síria tem vindo a aumentar e os confrontos directos com as
tropas do regime de Bashar al-Assad, apoiado por Moscovo, fizeram já dezenas de
baixas entre os turcos – no último incidente, nesta semana, morreram 34
soldados turcos num bombardeamento aéreo, num total de 55 baixas no mês de
Fevereiro.
O objectivo
turco, disse Cavusoglu, é travar os ataques contra civis. A Turquia tem mantido
a fronteira fechada e quer evitar a entrada de mais refugiados no país, que já
acolhe 3,6 milhões de sírios.
Nos Estados
Unidos, o pedido turco levou a fricções entre o Departamento de Estado, que
quer enviar os Patriot, e o Pentágono, que é contra por temer, segundo disse ao
site Politico um responsável sob anonimato, que esta seja uma “acção estúpida
com ramificações globais”.
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