HABITAÇÃO
Antigas casas da
Fidelidade acabam nas mãos dos franceses da Axa
Depois de
vendidas ao fundo Apollo, uma parte das antigas casas da Fidelidade foram agora
parar às mãos do grupo Axa. Franceses anunciaram ter investido 200 milhões de
euros e pretendem agora fazer obras de intervenção nos imóveis.
Luísa Pinto 12 de
Fevereiro de 2020, 6:15
https://www.publico.pt/2020/02/12/economia/noticia/antigas-casas-fidelidade-acabam-maos-franceses-axa-1903733
As casas que
pertenciam ao património imobiliário da seguradora Fidelidade, do grupo chinês
Fosun, continuam a mudar de mãos. Depois de terem sido vendidas ao fundo
Apollo, em Agosto de 2018, uma parte destes imóveis, com moradores incluídos,
passou agora para a mão dos franceses da AXA Investment Managers. O negócio foi
feito no passado mês de Dezembro e confirmado esta terça-feira pelo próprio
grupo francês, numa notícia publicada na agência de notícias Bloomberg, citada
pelo Negócios. O investimento terá sido de 200 milhões de euros e é intenção
dos franceses avançar para operações de reabilitação do edificado.
Nem os compradores,
nem os vendedores disseram publicamente quantos fogos e quantos imóveis foram
vendidos nesta operação. O PÚBLICO conseguiu apenas confirmar que a transacção
envolveu só uma parte do portefólio de 271 imóveis que foi vendido em Agosto de
2018 e cujo valor chegou aos 425 milhões de euros. Quanto aos moradores – e o
PÚBLICO tentou contactar vários – nenhum teve conhecimento da mudança de
proprietário. Mas houve quem desconfiasse de novas alterações quando ficaram
rendas por cobrar durante o mês de Janeiro.
De acordo com o
relato de dois moradores que pagavam a renda por débito directo, o valor das
rendas não foi retirado das respectivas contas bancárias, nem houve qualquer
informação a justificar o sucedido. Um dos moradores optou por fazer o
pagamento da renda por transferência bancária e notificou o proprietário por
carta registada – “não queremos que ninguém venha a justificar despejos por
falta de pagamento de rendas”, afirmou esse morador, que preferiu não ser
identificado.
O que permanece,
junto dos moradores, é a incerteza sobre a que mãos vão parar as suas casas, à
mistura com a revolta de muitos por continuarem impedidos de exercer o direito
de preferência na aquisição das suas casas. Para além dos protestos de alguns
moradores, houve também processos em tribunal. É o caso das câmaras do Porto e
de Évora, que avançaram para a via judicial. No caso do município do Porto, a
autarquia pretende ficar com os imóveis vendidos na rua de Cedofeita pelo preço
a que eles foram escriturados. O caso ainda está a ser discutido.
Recorde-se que os
271 imóveis que compunham o portefólio imobiliário da Fidelidade, e que abrange
todo o país, mas tem maior incidência nas cidades de Lisboa e Porto, foram
vendidos em lote, por 425 milhões de euros ao grupo Apollo. Mas, nas
escrituras, este património foi distribuído por quatro empresas portuguesas: a
Meritpanorama , a Fragrantstrategy, a Notablefrequency e a Neptunecategory,
cada uma delas criadas com um capital social de 100 euros e controladas a
partir de offshores criados pela Apollo nas Ilhas Caimão. Estas subsidiárias foram criadas como
sociedades de promoção imobiliária, que fazem a compra e venda de activos, e
isso justificou a isenção de IMT que auferiram nessa transacção de 425 milhões
de euros. Na altura, o negócio ganhou dimensão política pelo facto de os
inquilinos terem ficado sem poder exercer o direito de preferência e levou
mesmo a uma alteração legislativa no Parlamento.
Entretanto, e
como o PÚBLICO noticiou no início de Dezembro, a Apollo foi fazendo alguns
rearranjos no portefólio, fazendo transferência de propriedades entre as suas
subsidiárias, no sentido de melhor valorizar a oferta para a voltar a pôr no
mercado. Alguns moradores que haviam ficado com a Meritpanorama como senhorio
aquando da transacção de todo o portefólio receberam cartas a indicar que o
proprietário iria passar a ser a Neptunecategory, através de “uma escritura
pública de permuta” que fazia a transmissão de propriedade. A Neptunecategory
passou a assumir “os direitos e obrigações que resultam do contrato de
arrendamento (…) não resultando da referida transmissão qualquer alteração aos
termos e condições acordadas nos contratos”. E no início de Dezembro, a
Neptunecategory foi transformada em sociedade anónima, com um capital social de
um milhão de euros.
Terá sido, então,
o património que a Apollo parqueou na Neptunecategory que foi agora vendido aos
franceses da Axa. Mas não há confirmação oficial desta transacção. O que se
sabe, e que confirmou o morador contactado pelo PÚBLICO que voluntariamente
pagou a renda, é que na entrada do prédio em Lisboa onde mora continua afixado
um papel a avisar que o proprietário do imóvel é a Neptunecategory. Mas
ninguém sabe até quando.
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