Os
bairros e miradouros que Lisboa quer tornar Património Mundial
INÊS BOAVENTURA
08/01/2016 - 19:27
A
autarquia presidida por Fernando Medina defende que “nenhuma outra
cidade reúne um conjunto patrimonial e uma paisagem urbana histórica
com o significado cultural equivalente a Lisboa” e dá mais um
passo para a classificação da cidade pela UNESCO.
Lisboa, “singular
entrelaçado de tecidos urbanos, testemunho de uma história milenar
de intercâmbio de culturas, povos e religiões”, vai ficar um
passo mais perto da classificação pela UNESCO. Na próxima semana,
a câmara discute a candidatura de “Lisboa Histórica, Cidade
Global” à inscrição na Lista Indicativa Nacional do Património
Mundial.
Nos últimos dois
anos, a hipótese de apresentar uma candidatura que abrangesse um
território mais alargado do que a Baixa Pombalina foi ganhando
adeptos e forma. Tendo em atenção o conceito de Paisagem Urbana
Histórica, que foi adoptado pela Organização das Nações Unidas
para a Educação, Ciência e Cultura em 2011, a ideia em estudo pelo
município passou a ser a de incluir outras áreas de Lisboa, numa
perspectiva mais alargada e que, como explica o vereador do Urbanismo
e do Património, cruzasse património material e imaterial.
Isso mesmo está
patente na proposta que a Câmara de Lisboa vai analisar na próxima
quarta-feira e que visa concretizar a candidatura de “uma área
diversificada” da cidade à inscrição na Lista Indicativa
Nacional do Património Mundial. Como se explica no site da UNESCO, a
inclusão de um determinado bem nessa lista (que deve ser apresentada
por cada país de dez em dez anos) é um procedimento prévio
necessário para uma futura nomeação a Património Mundial.
Na proposta que
assina juntamente com a vereadora da Cultura, Catarina Vaz Pinto, o
vereador do Urbanismo e do Património constata que a autarquia “tem
vindo a desenvolver a candidatura do bem Lisboa Histórica, Cidade
Global”. Manuel Salgado acrescenta que em Outubro de 2014 Francesco
Bandarin, conselheiro especial do director-geral adjunto para a
cultura da UNESCO, “confirmou a possibilidade de uma candidatura de
Lisboa com a abordagem Paisagem Urbana Histórica e um território
mais alargado”.
O bem cuja
candidatura é agora proposta inclui, segundo informações
constantes do processo ao qual o PÚBLICO teve acesso, o Castelo, a
Sé, Alfama, a Baixa, o Chiado e a Pena, “estruturas e bairros
representativos das influências das civilizações do período
romano, islâmico, medieval e iluminista”, e a Mouraria, São
Vicente e Santa Clara, “de génese medieval”. Também abrangidos
estão o Bairro Alto, a Bica e “o bairro quinhentista de Mocambo,
na Madragoa”, bem como a frente ribeirinha, “entre o Cais do
Sodré e Santa Apolónia”.
No formulário para
submissão à lista indicativa, Manuel Salgado destaca ainda outros
elementos, como o antigo Colégio jesuíta de Santo Antão-o-Novo, o
Noviciado da Cotovia e os miradouros de Santa Catarina, São Pedro de
Alcântara, Castelo de São Jorge, Graça, Campo de Santa Clara,
Portas do Sol e Santa Luzia. Para além do “limite do bem” é
definida uma “zona tampão”, que como explica a câmara “abrange
a envolvente próxima do bem proposto e uma área mais vasta
destinada a salvaguardar as relações visuais que com ele se
estabelecem”.
Do processo de
candidatura consta uma comparação de Lisboa com outras 26 cidades,
nacionais e internacionais, que partilham com a capital portuguesa um
conjunto de características. Comparação feita, a tese defendida
pela câmara é a de que “nenhuma outra cidade reúne um conjunto
patrimonial e uma paisagem urbana histórica com o significado
cultural equivalente a Lisboa”, cidade que “apresenta tecidos
urbanos de épocas distintas entrelaçados e adaptados de modo muito
particular a um território de morfologia complexa, que tornam a sua
paisagem urbana única”.
A conclusão da
câmara presidida por Fernando Medina é clara: a candidatura “Lisboa
Histórica, Cidade Global”, “pelo significado cultural que
representa e conjunto de valores patrimoniais que reúne, apresenta
todas as condições necessárias para preencher uma importante
lacuna na Lista do Património Mundial”.
“Lisboa tem um
manancial de situações que a distinguem. A identidade e a
excepcionalidade do bem são bem evidentes no caso de Lisboa”,
corrobora Manuel Salgado. Em declarações ao PÚBLICO, o autarca
sublinha que o bem que se pretende classificar constitui “um
território muito diversificado”, com “vários estratos”, que
“documentam toda a história da cidade”.
O vereador lembra
que só depois do fim do próximo ano é que Portugal pode formalizar
qualquer candidatura a Património Mundial, uma vez que até lá que
o país integra o comité responsável pela aplicação, gestão e
utilização dos fundos nesta área. Ainda assim, Manuel Salgado
defende que “faz sentido fazer já a inscrição” na Lista
Indicativa Nacional e deixa um aviso: “há um trabalho muito
intenso que tem que ser feito até ao final de 2017”.
Caso seja provada, a
proposta que vai ser discutida na próxima quarta-feira em reunião
camarária segue depois para a Comissão Nacional da UNESCO. Manuel
Salgado acredita que ela “é bastante consensual” no interior da
autarquia, lembrando que a ideia de se apresentar uma candidatura que
fosse além da Baixa Pombalina nasceu de um diálogo com as comissões
de Urbanismo e de Cultura da Assembleia Municipal de Lisboa,
presididas respectivamente por Victor Gonçalves (do PSD) e Simonetta
Luz Afonso (eleita pelo PS).
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