Lisboa
Investigadora
diz que “turistificação” do Bairro Alto força moradores a sair
"Política
muito virada para os empreendimentos turísticos" pode fazer com
que "daqui a uns anos não haja residentes" no Bairro Alto,
conclui a investigadora Fabiana Pavel
Texto de Lusa •
18/01/2016 – 11:18 / PÚBLICO P3
A arquitecta
italiana Fabiana Pavel considera que a “turistificação” do
Bairro Alto, em Lisboa, está a levar os moradores a sentirem-se
“quase obrigados a sair”, pelo que defende a criação de medidas
camarárias para evitar a desertificação.
Falando a propósito
dos resultados obtidos na sua tese de doutoramento em Arquitectura na
Universidade de Lisboa, que está agora a partilhar com a população,
Fabiana Pavel referiu que este “é um tipo de processo que é
difícil de inverter”. Os residentes “não são obrigados
objectivamente, mas a situação é colocada de forma tal que se
sentem quase obrigados a sair do bairro. O comércio de proximidade
também desaparece porque é mais conveniente, neste momento, ter um
bar ou mais um restaurante para ter um lucro imediato, [mas] o perigo
é que daqui a uns anos não haja residentes”, afirmou a
investigadora.
A viver há dez anos
no Bairro Alto, a arquitecta analisou os vários momentos daquela
zona: desde os anos 1970/1980, em que o bairro era degradado e se
tentou invertê-lo com reabilitação, passando pelos anos 1990/2000,
nos quais se verificou um “desinvestimento progressivo na
reabilitação por parte da Câmara Municipal”. Hoje em dia, existe
uma “política muito virada para os empreendimentos turísticos”
e os que se encontram no Bairro Alto “são essencialmente hostels e
alojamentos locais”.
Fabiana Pavel
relaciona este cenário com o aumento dos voos de baixo custo ("low
cost"). A arquitecta fez um levantamento porta a porta no bairro
em 2013 e, nessa altura, verificava-se a existência de um lugar/cama
por cada dois residentes. “Não voltei a fazer o levantamento, mas
julgo que já devemos estar um por um”, apontou, falando no aumento
exponencial do sector e no “risco de os turistas passarem a vir cá
ver os turistas”. A este fenómeno, acresce o da actividade
nocturna: “Nos últimos anos, desde 1998 com a Expo e depois com o
Euro [campeonato europeu de futebol de 2004], começaram a abrir cada
vez mais estabelecimentos notcurnos com pouca qualidade e a preços
muito económicos e instaurou-se também um tipo de vivência da
noite que torna muito difícil a vida dos habitantes”.
Ali permanece um
“núcleo de população mais antiga” que luta “a favor do
direito […] de se manter no bairro”. Porém, “se não for feita
alguma coisa, daqui a uns anos fica-se sem residentes”, alertou.
Fabiana Pavel sustentou, por isso, “mudanças estruturais nas
políticas camarárias”, como apostar na reabilitação e limitar a
abertura de estabelecimentos turísticos no centro da cidade. “Está
a ser elaborado um plano de pormenor para o Bairro Alto neste
momento, já há mais de um ano, vamos ver o que sai desse
documento”, adiantou.
Na próxima
quinta-feira, 21 de Janeiro, às 18h30, Fabiana Pavel apresenta as
conclusões da sua tese, defendida em Julho passado, num debate sobre
“Gentrificação e ‘turistificação’: o caso do Bairro Alto”,
que decorre na sede do movimento Habita, na Rua dos Anjos, em Lisboa.
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