Câmara
de Lisboa não afasta hipótese do “fecho total” da Baixa a
veículos ligeiros
POR O CORVO • 28
JANEIRO, 2016
A Câmara Municipal
de Lisboa (CML) está totalmente aberta à discussão sobre as
medidas que terão de ser tomadas para contrariar a aparente
incapacidade para se travar o aumento do número de carros a entrar
em Lisboa. E entre as possibilidades que a autarquia não afasta está
o “fecho total da Baixa à circulação de ligeiros”, diz Manuel
Salgado, vereador com os pelouros do Urbanismo e Planeamento, para
quem é tempo de se apostar decisivamente na melhor coordenação do
sistema de transportes públicos. “Temos que fazer qualquer coisa”,
diz Salgado.
As afirmações do
vereador foram realizadas na última reunião de executivo, nesta
quarta-feira (27 de Janeiro), e acabaram por servir como corolário
da admissão do falhanço na obtenção de resultados das restrições
à circulação automóvel no centro da cidade, implementadas pela
criação das Zonas de Emissões Reduzidas (ZER). Algo que foi
sublinhado por todos os partidos da oposição, mas que mereceu
especial contundência nas críticas feitas pelo vereador António
Prôa (PSD) – o qual lamentou o não facultar, por parte da câmara,
de dados concretos sobre os níveis de poluição na Avenida da
Liberdade, na sequência da criação das ZER.
Ainda no período
de discussão ocorrido antes da ordem do dia, António Prôa fez uma
apresentação em que punha em causa toda gestão municipal do
tráfego automóvel na capital. E antes de lamentar o mau
funcionamento do sistema de radares de controlo de velocidade, por
muitos deles estarem aparentemente inoperantes, Prôa procedeu a uma
forte crítica do funcionamento das ZER e dos resultados a que estas
se propõem, sobretudo ao nível da redução dos níveis de poluição
atmosférica. “A medida não atingiu os objectivos e só serve para
prejudicar os cidadãos”, acusou o vereador social-democrata, que
sempre se manifestou contra a sua aplicação.
Na resposta, Manuel
Salgado admitiu a existência de problemas na obtenção de
resultados com as ZER, nomeadamente da circulação no seu perímetro
de veículos que afinal não o deviam fazer. “É um facto que há
dificuldades de controlo, porque, neste momento, o município não
tem qualquer capacidade de intervenção junto da PSP. A nossa
intervenção tem sido pontual e limitada à actuação da Polícia
Municipal. Não tendo nós a competência da regulação do trânsito,
é difícil assegurar o controlo dos veículos que não cumprem as
restrições impostas”, reconheceu o vereador.
Mas, segundo
Salgado, há uma situação ainda mais grave, para a qual terá sido
alertado, esta semana, por Francisco Ferreira, professor da
Universidade Nova que está a dar apoio na aplicação e
monitorização das ZER. “O mais grave é o aumento do número de
veículos ligeiros que estão a entrar em Lisboa. Esta é uma questão
de fundo, que nos deve preocupar a todos e que tem que ver também
com a sustentabilidade da cidade e o sistema de transportes a nível
metropolitano”, disse Manuel Salgado, classificando a questão como
“um grande desafio ao município de Lisboa”.
“Temos que pensar
como agir em relação a este problema e como conseguir reduzir o
número de veículos que entram na cidade e fazer a transferência
modal do transporte individual para o transporte público. Sem isto,
não há alternativas. Teremos sempre a pressão de mais carros. O
número de veículos vendidos, aliás, voltou a disparar no ano
passado”, afirmou o vereador, antes de advogar a tomada de “medidas
concretas”.
“Há, por
exemplo, quem defenda, como o Professor Francisco Ferreira, na
conversa informal que tive com ele, que isto só se resolve com o
fecho total da Baixa à circulação de ligeiros. E há quem diga que
isto só se resolve com a colocação de portagens na entrada da
cidade”, afirmou. “Há múltiplas ideias e nós temos que as
discutir de forma séria e ponderar como acudir a esta situação”.
O vereador diz que a recente tendência de subida do número veículos
na cidade contraria a descida sentida a partir de 2008.
As afirmações de
Manuel Salgado mereceram comentários negativos por parte da
oposição. A começar por João Ferreira, do PCP, que relembrou as
críticas que o seu partido fizera, há um ano, quando entraram em
vigor as novas restrições relacionadas com as ZER. “Como se veio
a provar, montou-se uma operação de propaganda que não tinha razão
de ser”, disse o eleito comunista. João Ferreira criticou, por
isso, o que considera serem os “efeitos perniciosos” da criação
deste sistema de triagem dos carros que entram no miolo da capital.
Já António Prôa
lamentou que não tenha ainda sido possível “fazer um balanço
adequado” do programa iniciado pela autarquia em 2008, mas censurou
também o deficiente funcionamento dos radares. “Há sete anos que
se impõem determinadas medidas que causam transtorno à vida dos
cidadãos. O que se esperava, no mínimo, é que essas medidas fossem
ponderadas e fossem consequentes, face aos objectivos a que se
propõem atingir. Está ainda por fazer um balanço consistente. Mas
os dados que vamos observando, ainda que avulsos, vão todos no
sentido de concluir que essas medidas não são eficazes”, afirmou.
Texto: Samuel
Alemão
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