Um
“Luditte” era alguém que atacava e destruia máquinas durante a
primeira Revolução Industrial. Estas máquinas, através da
automatização dos métodos de produção, eram vistas como ameaças
ao direito de trabalho.
“Machine-breaking
was criminalised by the Parliament of the United Kingdom as early as
1721, the penalty being penal transportation, but as a result of
continued opposition to mechanisation the Frame Breaking Act 1812
made the death penalty available: see "criminal damage in
English law".
OVOODOCORVO
A
nova revolução gerou mais perguntas do que respostas em Davos
24/01/2016 - 08:40
É
certo que os avanços na robótica, inteligência artificial e
tecnologias como a impressão 3D vão mudar o mundo do trabalho. Mas
há muitas incertezas sobre a quarta revolução industrial.
A Uber – a
aplicação que permite chamar um carro com motorista através de um
telemóvel – é um exemplo conhecido de um novo paradigma da
economia. Pessoas com tempo e recursos livres (neste caso, um carro
que cumpra determinados critérios) podem ganhar dinheiro através de
um sistema que faz a conjugação de procura e oferta. Para algumas
tarefas, o funcionamento da Uber também substitui humanos por
sistemas informáticos. Chamar um táxi de forma convencional implica
fazer um telefonema e falar com uma pessoa, que depois faz a ligação
entre o cliente e o taxista (muito embora este sector também tenha
começado a disponibilizar aplicações para telemóveis que cortam
este intermediário humano).
A startup americana
foi uma empresa que veio mais do que uma vez à conversa no Fórum
Económico Mundial de Davos, um evento que reúne anualmente na Suíça
pensadores, empresários, gestores e políticos de topo. O grande
tema da edição deste ano, que terminou no sábado, foi a quarta
revolução industrial, que chega depois da máquina a vapor, da
electricidade e da produção em massa, e do advento da electrónica
e dos computadores.
Desta nova revolução
fazem parte os avanços na inteligência artificial, a criação de
robôs capazes de executar cada vez mais tarefas e ainda tecnologias
como a impressão 3D, que está a mudar o funcionamento de muitas
fábricas e a facilitar a produção de objectos à medida (apesar de
longe da promessa de ser uma revolução também em ambiente
doméstico). Para além disto, há também o cenário de um mundo
inteiramente conectado – Internet das Coisas tem sido o jargão
usado –, onde electrodomésticos, carros, portas e telemóveis
comunicam entre si e geram quantidades avassaladoras de dados, que
podem ser analisados para incentivar o consumo ou para melhorar os
cuidados de saúde. É uma revolução que veio colocar várias
perguntas (mais do que as respostas) aos participantes do fórum. A
questão do trabalho foi muito frequente: o que vai acontecer à
medida que mais robôs e algoritmos substituírem mais humanos?
A Uber tem causado a
ira de empresas de táxis em vários países, Portugal incluído.
Mas, por ora, os motoristas da Uber ainda são pessoas e a empresa
argumenta que até cria empregos (mas sem o vínculo de um
funcionário). Num futuro não muito distante, os motoristas da Uber
podem bem vir a ser computadores. A empresa tem estado a trabalhar
em parcerias para explorar a tecnologia de carros capazes de andarem
sozinhos. Também o Google e muitos outros fabricantes de telemóveis
têm em curso esforços para colocar na estrada (e dentro de poucos
anos) automóveis autónomos. Já existem, são capazes de circular,
mas ainda não são bons o suficiente para serem comercializados em
massa e andarem sem uma pessoa pronta a intervir - será uma questão
de tempo até a tecnologia amadurecer. E, quando esse tempo chegar,
os motoristas de táxi e os da Uber, hoje rivais, estarão no mesmo
barco: obsoletos e sem trabalho.
“Com o advento das
novas tecnologias, criámos sempre novos trabalhos”, comentou o
cientista Illah Nourbakhsh, especialista em interacção entre
humanos e robôs na Universidade de Carnegie Mellon, que tem uma
parceria com a Uber para desenvolver carros autónomos. Este
argumento tecno-optimista foi usado por outros oradores. “Uma coisa
normalmente subvalorizada é que a tecnologia não cria apenas
trabalhos na tecnologia, mas trabalhos no sector não tecnológico”,
disse a directora de operações do Facebook, Sheryl Sandberg (que
falava num outro debate). O que Nourbakhsh disse a seguir também é
um exemplo dos desafios de que muitos participantes falaram, das
incertezas associadas às previsões e de um sentimento de esperança
presente em várias das intervenções: “Não sei quais serão
esses empregos, mas estou confiante em que os vamos encontrar”.
A substituição de
trabalho humano acontece há muito e vai desde os casos das linhas de
montagem progressivamente robotizadas até às caixas registadoras no
supermercado onde são os clientes a passar os produtos. A tecnologia
trouxe mais eficiência e uma maior produção de riqueza. Mas
também, argumentaram vários oradores, desigualdades, tanto no que
diz respeito ao fosso digital que separa o mundo informatizado
daquele onde o uso da Internet e de dispositivos informáticos é
escasso, como à distribuição de riqueza.
“É verdade que a
tecnologia está a tornar o bolo maior e que a criação de riqueza é
maior, mas não há nenhuma lei económica que diga que todos vão
beneficiar proporcionalmente”, observou Erik Brynjolfsson,
especialista em economia digital do MIT. O académico afirmou que as
revoluções anteriores, embora tenham obrigado a adaptações que
deixaram pessoas para trás, foram “uma maré que levantou a
maioria dos barcos”. Na revolução industrial anterior, “as
máquinas ultrapassaram o trabalho braçal, [mas] o resto da
sociedade adaptou-se: inventámos educação pública para as massas,
mudámos o sistema de segurança social”, lembrou, antes de
reconhecer que “foi duro para muitas pessoas, nem todas se
adaptaram imediatamente”.
O problema do
dividendo digital
Porém, a realidade
é hoje diferente. Brynjolfsson referiu que, nas últimas duas
décadas, se estão a gerar grandes assimetrias com a quantidade de
riqueza produzida: “Há um crescimento contínuo de produtividade,
o Produto Interno Bruto está em níveis recorde na maioria dos
países, há mais milionários e multimilionários do que alguma vez
vimos. Mas o rendimento mediano [nos EUA] é agora mais baixo do que
no final da década de 1990”.
Uma possível
estratégia para lidar com as pessoas cujos trabalhos sejam
substituídos por máquinas veio da boca do presidente executivo da
Microsoft, Satya Nadella. “O desafio de substituição é real. A
natureza do trabalho vai mudar fundamentalmente”, previu o
executivo, que gere uma empresa com 119 mil funcionários e cujos
produtos são responsáveis por uma incontável miríade de postos de
trabalho indirectos. “Sinto que o enfâse devem ser as
competências, em vez de nos preocuparmos demasiado com os trabalhos
que se vão perder. Vamos ter de, como sociedade, gastar o dinheiro
para educar as pessoas. Não apenas crianças, mas também as pessoas
substituídas a meio da carreira.”
Nadella defendeu que
a explosão das tecnologias de informação e da inteligência
artificial está a gerar riqueza sem paralelo. Mas alinhou com outros
oradores ao mostrar-se preocupado com o problema da distribuição.
“Todos precisamos de nos esforçar para criar um dividendo digital.
Vai haver excedente económico criado por causa desta quarta
revolução industrial. A questão é saber o quão bem distribuído
vai ser.”
Os países
emergentes, cuja economia depende sobretudo de mão-de-obra fabril e
barata, estão entre os que mais sentirão o abalo da automação nas
linhas de montagem e noutros trabalhos que não exigem qualificações
elevadas. No fórum, houve quem lembrasse que a Foxconn (uma
fabricante taiwanesa que trabalha para a Apple e tem fábricas na
China e outros países do sudeste asiático) tem actualmente dez mil
robôs a fazerem trabalho que antes era desempenhado por pessoas e
que já anunciou planos para um milhão de máquinas dentro de três
anos (a empresa, no entanto, tem estado descontente com o desempenho
dos robôs e tem contratado mais para fazer a produção acompanhar
as vendas de iPhones).
O milionário
empresário indiano Anand Mahindra, que fabrica tractores e falou no
mesmo painel que os executivos da Microsoft e do Facebook, afirmou
que a robotização acabará por impedir a Índia de replicar o
modelo chinês. Mas disse ver oportunidades nas tecnologias da quarta
revolução. “Na Índia, 65% da população ainda está em aldeias.
De repente, é possível pôr lá impressoras 3D. É possível fazer
com que sejam todos mecânicos independentes. É possível ligá-los
a clientes, cortar intermediários e ter aldeias auto-suficientes.
Vai haver uma explosão de produtividade”.
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