Jardim
de Santos vai ser vedado para impedir acesso à noite
INÊS BOAVENTURA
27/01/2016 - PÚBLICO
“Não
tenho outra solução. Preciso de defender o jardim das investidas
nocturnas”, argumenta o presidente da Junta de Freguesia da
Estrela. Em 2014, a Assembleia Municipal de Lisboa chumbou uma
recomendação no mesmo sentido.
A Câmara de Lisboa
vai construir um gradeamento em torno do Jardim de Santos, que
passará a estar encerrado durante a noite. O presidente da Junta de
Freguesia da Estrela apoia há muito esta medida, por acreditar que é
a única que permitirá “defender o jardim das investidas
nocturnas”.
Em Setembro de 2014,
a possibilidade de se construir “um gradeamento em altura” que
permitisse fechar o Jardim Nuno Álvares a determinadas horas já
tinha sido discutida na Assembleia Municipal de Lisboa. Na altura, a
recomendação apresentada pelo presidente da junta foi chumbada, com
os votos contra do PS, do PCP e dos independentes e com a abstenção
do PEV.
Esta terça-feira o
assunto voltou a ser debatido, no âmbito da apreciação de uma
petição subscrita por 256 pessoas. Nela diz-se que o jardim
conhecido como Jardim de Santos “encontra-se a um passo da sua
iminente destruição”, acrescentando-se que tal é “reflexo de
um condenável e danoso desinvestimento dos órgãos autárquicos em
matéria de defesa e recuperação das estruturas verdes da capital”.
Os signatários
afirmam que desde 2013, ano em que este espaço foi objecto de uma
requalificação, “nada foi feito nem pela Junta de Freguesia da
Estrela nem pela Câmara de Lisboa para pôr termo ao imparável
processo de degradação e destruição deste emblemático espaço
verde”. Face a isso, pedem aos órgãos autárquicos que
concretizem, “com carácter de urgência”, um conjunto de
medidas, como a “renaturalização do jardim” e “a constituição
de equipas de jardinagem permanentes”.
Na apresentação da
petição, Miguel Velloso, que interveio na qualidade de primeiro
subscritor e membro da Plataforma em Defesa das Árvores, disse que
hoje o espaço “de jardim não tem nada”. Entre outros aspectos,
este cidadão criticou o estacionamento “por todo o lado,
inclusivamente no jardim” e o facto de a junta permitir a
instalação no local de “carrinhas de comes e bebes”.
A petição foi
saudada por alguns eleitos da assembleia municipal, mas não caiu bem
ao presidente da Junta de Freguesia da Estrela, que confessou tê-la
recebido com “enorme espanto e alguma indignação”. Na sua
intervenção, Luís Newton frisou que há cerca de um ano apresentou
à população e à câmara um projecto para requalificar o jardim,
que não avançou porque alguns moradores se opuseram.
“Como se atrevem a
escrever que a junta nada tem feito?”, perguntou repetidas vezes,
garantindo aos presentes que “a junta não desistiu do Jardim de
Santos”.
Ao PÚBLICO, Luís
Newton explicou que o projecto de que falou, e em cujo financiamento
os proprietários dos bares da zona de Santos já se tinham
comprometido a participar, incluía a criação de uma vedação em
torno do jardim e a instalação de um parque infantil no seu
interior. O autarca garante que essa proposta foi “bloqueada” por
“um conjunto de moradores”, acrescentando que com isso se perdeu
um ano e “uma oportunidade de ouro”.
Aquilo que está
agora em cima da mesa é uma intervenção no Largo de Santos, no
âmbito do programa camarário Uma Praça em Cada Bairro. De acordo
com aquilo que foi transmitido esta terça-feira, essa intervenção
deverá ter início até Março, prevendo-se que esteja concluída no
fim do ano.
Segundo Luís Newton
esse projecto recupera a ideia do parque infantil, bem como a da
vedação, além de permitir um alargamento das zonas pedonais e a
instalação de um quiosque. A proposta que está em cima da mesa é
que o jardim passe a estar encerrado entre as 23h e as 7 ou 8 da
manhã, num horário que o autarca do PSD admite que possa ser
diferente consoante a estação do ano.
“Nesta situação
não tenho outra solução. Preciso de defender o jardim das
investidas nocturnas”, diz o presidente da junta, sublinhando que
“não é possível manter um jardim que todas as noites é
violentamente dizimado”. “Entre encerrar e o estado actual,
escolho encerrar”, acrescenta, admitindo se todos tivessem “uma
atitude cívica” isto não seria necessário.
Quanto às carrinhas
que vendem comidas e bebidas, e cuja actividade é licenciada pela
junta, Luís Newton diz que elas trazem “calma” ao espaço,
funcionando como “elemento dissuasor” de determinado tipo de
comportamentos por quem sai à noite na zona.
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