O
professor sabichão e os outros
DIRECÇÃO EDITORIAL
21/01/2016 - PÚBLICO
Em
política, o amadorismo paga-se. As sondagens são claras.
Marcelo está bem na
frente, mas ainda não tem garantida a eleição à primeira volta. É
isto que revela a sondagem que hoje publicamos, pois os 51,8% obtidos
por este candidato situam-se dentro da margem de erro que é de mais
ou menos três por cento. Estes dados indicam também que enquanto
Marcelo já ultrapassou largamente a votação obtida pela direita
nas legislativas de Outubro (36,86), a esquerda ainda está longe de
o conseguir. Nessa altura, os votos somados por PS, Bloco e PCP
atingiram um total de 50,75% dos votos, enquanto agora, juntando as
candidaturas de Sampaio da Nóvoa (16,9%), Maria de Belém (10,1%),
Henrique Neto (2,3%) – todas oriundas da área socialista – mais
as duas geradas pelos partidos mais à esquerda Marisa Matias (7,9%)
e Edgar Silva (4,6%), todas não vão além de 42,8% das intenções
de voto. Isto significa que Marcelo não só está a concentrar o
voto do centro-direita, como a entrar pelo eleitorado da esquerda
como faca em manteiga.
Pelos vistos, a tão
propalada mais-valia da pulverização de candidaturas por parte da
esquerda está a revelar-se um flop total, desmobilizando os
eleitores desta área política confusos perante propostas que se
entretêm a combater-se umas às outras, enquanto Marcelo surge leve
e solto no seu caminho de afecto e compreensão para com todos,
adocicado com promessas de cooperação ilimitada com o actual
Governo. Ou seja, enquanto o professor de Direito afastou cada
pedrinha no sapato, resistindo a todas as críticas e a todas as
tentativas da direita para, à sua custa, apanhar a boleia capaz de a
colocar no ticket que segue, destacado, em direcção a Belém, a
esquerda foi passeando os seus rancores em demasiados recantos do
país.
Para ter a certeza
de ser ouvido urbi et orbi, Marcelo não hesitou em avisar ainda esta
semana que a sua candidatura não é a segunda volta das
legislativas. O recado foi direitinho para a São Caetano à Lapa e
para o Largo do Caldas, mas também visava o universo do Largo do
Rato.
Já entre os cinco
candidatos da esquerda as hostilidades estiveram sempre presentes. O
azedume nos debates aterrou agora no caso da reposição das
subvenções vitalícias a políticos. Maria de Belém esteve
especialmente mal, mas a situação acabou por atingir a esquerda no
seu todo. O impulso do eleitorado em identificar a parte com o todo
cresce perigosamente nas ruas – “eles são todos iguais!”.
Depois, há outro
aspecto susceptível de confundir muito os eleitores, que é o facto
de haver um Governo resultante de uma negociação à esquerda e uma
campanha eleitoral onde ela surge mais dividida do que nunca. Não
havendo sequer segunda volta, a esquerda sai muito fragilizada.
Veremos as consequências que isto terá a curto e médio prazo,
designadamente em sede de orçamento e nas negociações difíceis
com Bruxelas.
Como curiosidade,
registe-se que esta sondagem coloca Vitorino Silva (2,5) à frente de
Henrique Neto (2,3%). Querem ver que ainda vem aí outro partido,
agora com epicentro em Rans?
Sem comentários:
Enviar um comentário