De
Nação Soberana a Região Europeia pouco respeitada, esvaziada dos
seus habitantes, e assim, do seu Futuro, reduzida a plataforma
Turística e dependente de Tudo e de Todos.
OVOODOCORVO
Bruxelas
ordenou venda do Banif ao Santander
Resgate
do banco permitiu salvar dinheiro de Misericórdias
BERNARDO FERRÃO
JOÃO VIEIRA PEREIRA
22.01.2016 às 23h50
/ EXPRESSO
A ordem foi clara. O
Banif tinha de ser vendido ao Santander. E nem valia a pena tentar
outras alternativas. O e-mail enviado a Mário Centeno por Danièle
Nouy, presidente do Conselho de Supervisão do Banco Central Europeu,
e com o conhecimento de Vítor Constâncio, na manhã de sábado, dia
19 de dezembro, traça o destino que acabaria por ser dado aos ativos
do Banif. “A chamada com o Santander correu muito bem e a Comissão
Europeia vai aprovar”, pode ler-se logo na primeira frase do
documento a que o Expresso teve acesso.
O supervisor europeu
explica depois que “há outras ofertas pelo Banif, que de acordo
com a Comissão não respeitam as regras de União Europeia das
ajudas de Estado, e que por isso não podem seguir em frente”. E
deixa um aviso a Mário Centeno: “A Comissão Europeia foi muito
clara neste aspeto, por isso, recomendo que nem percam tempo a tentar
fazer passar essas propostas.”
Mais à frente o
e-mail faz um elogio ao Santander citando a Comissão Europeia
segundo a qual o “Santander está a comportar-se de maneira muito
profissional e tem um departamento legal excelente”. E avisa que
“eles [Comissão Europeia] vão começar a trabalhar diretamente
com o Santander assim que as autoridades estiverem prontas para
começar o processo”. Assunto fechado. Até porque o e-mail marca
logo uma chamada em conferência para uma hora depois para que se dê
início ao processo de venda.
Na sexta-feira
anterior, dia 18 de dezembro, tinha terminado o concurso para a venda
voluntária do Banif. Apareceram seis candidatos, entre eles o
Santander, mas nenhum foi escolhido.
Todas as propostas
implicavam perdas para o Estado, o que inviabilizava a venda
voluntária e atirava o banco para a resolução.
Fonte conhecedora do
processo estranha o que se passou nas horas seguintes. As propostas
tinham sido apresentadas até às 20h de 18 de dezembro, mas duas
horas depois o “Santander foi chamado para uma reunião no Banco de
Portugal” onde não só lhe comunicam que o concurso estava sem
efeito como lhe propõem que pode comprar os ativos do banco.
O Expresso sabe que
o Banco de Portugal insistiu com o Banco Popular para que viesse a
jogo, aliás, foi chamado para uma reunião no dia seguinte por volta
das 9h. Às 9h51, hora do e-mail do BCE, o Banif ‘estava vendido’
ao Santander.
RESOLUÇÃO EXIGIDA
EM NOVEMBRO
No dia 17 de
novembro, numa reunião entre o Ministério das Finanças, o Banco de
Portugal e a Direção-Geral de Concorrência da Comissão Europeia,
já tinha sido pedida a resolução do Banif.
Bruxelas fez saber
nesse encontro presencial, onde participaram Diana Vieira, adjunta de
Maria Luís Albuquerque, José Ramalho, vice-governador do Banco de
Portugal, João Freitas, do Fundo de Resolução, e elementos da
Comissão Europeia, que a resolução tinha de ser feita até ao
Natal e antes da recapitalização do Novo Banco.
O encontro foi
bastante tenso e fontes revelam ao Expresso que os elementos de
Bruxelas teceram duras críticas a Maria Luís, pedindo que fosse
mais atuante. “Quase a acusaram de laxismo”, confirma uma das
fontes.
Apesar da convicção
de Bruxelas em fazer a resolução, foi lançado o concurso de venda.
Fontes do mercado estranham a necessidade deste procedimento,
aceitando-o apenas como uma jogada política, já que era necessário
pelo menos provar que se tinha tentado vender o banco.
Fontes do anterior
Governo dizem em sua defesa que não atuaram mais cedo porque a
prioridade a partir de agosto de 2014 foi fazer tudo para vender o
Novo Banco. Mas confirmam que há muito sabiam que só havia duas
hipóteses para o Banif: falência ou resolução.
RESGATE DO BANIF
SALVA MISERICÓRDIAS
A opção por
resgatar o Banif usando o dinheiro dos contribuintes permitiu salvar
poupanças de várias Misericórdias e de alguns organismos públicos.
Estas entidades
detinham ou dívida sénior ou depósitos avultados no Banif. Se o
Governo tivesse optado por um resgate, em que os obrigacionistas
seniores e os depósitos fossem chamados a responder pelas perdas,
isso teria colocado em causa a estabilidade de algumas Misericórdias,
confirmaram ao Expresso várias pessoas conhecedoras do processo.
Não se sabe que
entidades eram estas, já que a lista de detentores de dívida do
Banif não é conhecida e a restante informação está protegida
pelo sigilo bancário. Contactado, Manuel de Lemos, presidente da
União das Misericórdias Portuguesas, diz não poder garantir que
“não haja” Misericórdias envolvidas, mas adianta que ninguém
lhe falou nisso. Explica que as “Misericórdias são muito ciosas
da sua autonomia financeira. E que algumas têm capacidade para ter
esses investimentos”. Sublinha ainda que nas ilhas, onde o Banif
tinha uma maior presença, existem 30 Misericórdias, quatro na
Madeira e 26 nos Açores.
O resgate do Banif
acabou por não sacrificar a dívida sénior, como o BCE e a Comissão
Europeia queriam, nem os depósitos dos clientes.
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