Um
milhão veio a Portugal e ficou alojado através da Airbnb”
ANA RUTE SILVA
18/01/2016 - PÚBLICO
Arnaldo
Muñoz, director ibérico da Airbnb, avança que a plataforma
duplicou o número de hóspedes em 2015. Casas disponíveis para
alugar aumentaram 65% à boleia do boom no turismo e da nova lei para
o alojamento local.
Arnaldo Muñoz,
director ibérico de Airbnb, veio a Lisboa e ficou alojado numa das
34 mil casas que a plataforma tem registadas em Portugal. A empresa
norte-americana alojou um milhão de pessoas em 2015, um número
recorde que se junta aos 65 milhões que, no ano passado e em todo o
mundo, alugaram casa online através do seu site. Pondo o número em
perspectiva, até Outubro o país registou um total de 15 milhões de
hóspedes, o que significa que, caso fosse incluída nas estatísticas
do INE, a Airbnb já alojaria mais de 6% do total de visitantes. A
“normalização” da economia colaborativa é o objectivo.
Quantas pessoas
recorreram à Airbnb para reservar alojamento em Portugal em 2015 e
qual o seu perfil?
Terminámos o ano
com um milhão de pessoas que vieram a Portugal e ficaram alojadas
através da Airbnb. É um número espectacular e praticamente o dobro
do que registámos em 2014. O que fazemos é pôr em contacto
hóspedes e proprietários e, quando olhamos para quem viaja, o
primeiro facto que surpreende é que o perfil não é apenas de
pessoas jovens. Cerca de 20 a 25% dos hóspedes têm mais de 50 anos,
já criaram os filhos e descobriram a plataforma. Mas em média as
reservas que recebemos são para três ou mais pessoas, com idades
entre os 30 e os 35 anos. Têm vontade de, quando viajam, viverem
como um local e é essa a promessa que fazemos aos nossos clientes.
Este milhão de visitantes que esteve em Portugal em 2015 o que
queria era ir a restaurantes, visitar sítios e lojas que os
lisboetas ou os portuenses frequentam. E Lisboa já é o 14.º
destino mais importante para a Airbnb em termos de anúncios.
A nível mundial?
Sim. A Airbnb já
tem dimensão global e a importância de Lisboa é muito elevada. É
uma cidade onde é possível fazer muitas coisas, um destino onde se
pode, sair, ir a restaurantes, frequentar sítios como os habitantes
fazem e isso atrai o tipo de hóspedes que utilizam a plataforma.
Em 2014 Lisboa já
era o 14.º destino mais importante?
Sim. Mas este ano
registámos um grande crescimento em termos globais. Lisboa está em
14.º em número de anúncios e em 10.º em número de hóspedes.
Olhando para o Porto, é interessante verificar que durante o mês de
Dezembro, o destino mais procurado foi o Porto, sobretudo por parte
de norte-americanos, o que é espectacular. Os quatro países [que
mais reservam para Portugal através da Airbnb] são França (24,8%),
Alemanha (10,5%), Reino Unido (9,3%) e Espanha (9,1%). Mas em quinto,
com 6,8% em número de hóspedes, estão os Estados Unidos. A maioria
vem para uma escapadela urbana mas há muitos que vêm dos Estados
Unidos.
Quantos
proprietários têm em Portugal?
No total temos 34
mil anúncios. Cerca de 12 mil são na área da Grande Lisboa (mais
60% face a 2014) e uns 3700 no Porto, mais 90% do que no ano
anterior. Temos também muitos anfitriões no Algarve, região que
atrai muitos turistas britânicos. Penso que em 2015 houve um impacto
muito positivo da nova regulação [para o alojamento local], que deu
segurança jurídica aos particulares para alugarem as suas casas.
Penso que é um daqueles casos em que a oferta gerou a procura. Para
crescer, precisamos de anfitriões dispostos a receber os hóspedes.
Quantos anúncios de
casas portuguesas tinham em 2014?
A evolução em 2015
face ao ano anterior foi de 65%. Portugal está 11.º lugar mundial
em termos de anúncios na Airbnb, num ranking liderado pelos EUA.
Como há muito boa oferta em Lisboa, isso permite que haja cada vez
mais visitantes. A Airbnb não funciona através de grandes campanhas
de publicidade, não verão campanhas na TV nem nas redes digitais.
Mas usamos um mecanismo básico que é o boca a boca. Se o utilizador
tiver uma boa experiência, partilha-a.
Qual foi o
contributo da nova lei para este crescimento? Ou foi mais uma
conjugação de factores?
Não temos dados que
nos permitam analisar esse contributo. Mas penso que é a soma de
vários factores. Portugal teve uma visão estratégica clara, que
considerou as novas formas de turismo, quer por canais digitais, quer
através da economia colaborativa. Lisboa não é o 14.º destino a
nível mundial. Mas é-o na Airbnb porque entre várias coisas,
gerou-se um terreno favorável que permitiu regular a oferta e uma
procura que, consequentemente, cresceu.
Os proprietários
são particulares ou também há empresas?
Em toda a Europa
(são os dados que tenho), 70% dos utilizadores só têm um anúncio
E 50% dos que têm a casa na plataforma fazem-no por motivos
económicos. Porque é a única forma de manterem as suas casas,
porque têm empréstimos e assim conseguem chegar ao final do mês e
suportar a despesa. Este é um negócio essencialmente entre
particulares. São pessoas como as que eu contactei para ficar
alojado em Lisboa, têm um anúncio e que hoje às sete da tarde me
recebem para mostrar a casa e o bairro.
Em Madrid os
proprietários conseguem ter um rendimento médio de 320 euros. E em
Lisboa?
Ainda não temos
esses dados, mas em Junho vamos ter um estudo de impacto económico.
Fazemo-lo para todos os destinos que têm, de facto, importância na
plataforma.
Há casos de pessoas
que ganham a vida apenas com o aluguer de casas a turistas?
Quando tivermos o
estudo saberei dar a resposta, mas olhando para os dados de Espanha,
nomeadamente Madrid e Barceloha, serão uma minoria. Considerando os
320 euros de ganho médio, diria que a quantia não é muito elevada.
E a maioria tem apenas uma casa na plataforma.
Mas há novos
negócios que estão a nascer à boleia da Airbnb e outros sites
semelhantes, empresas que já fazem a gestão do aluguer, limpezas,
entrega de chaves, etc. Está a ficar mais profissional?
Não. O que se está
a passar é um sector que começa por ser um nicho e, agora, por já
trazer um milhão de pessoas a Portugal, torna-se num nicho
relevante. Há quem se encarrega da limpeza, quem guarda as malas
quando o proprietário não pode, etc. Em muitos casos são mais
exemplos de economia colaborativa em que os anfitriões, para chegar
ao fim do mês, estão a fazer serviços adicionais de lavandaria,
vão buscar os hóspedes ao aeroporto, entre outros. São novos
nichos que nascem de um fenómeno que está a ganhar mais força. E é
mais um fenómeno urbano. Esses serviços não surgem na plataforma,
o que fazemos é colocar proprietários e utilizadores em contacto.
A Airbnb captou um
milhão de pessoas em 2015, pessoas que não se hospedaram na
hotelaria mais convencional. Como é a vossa relação com o sector?
Mais tranquila do que em Espanha?
Somos novos e
qualquer fenómeno que é novo gera inquietude. O que o tempo mostra
é que essa inquietude é injustificada. Se olharmos para as taxas de
ocupação hoteleira em Lisboa, verificamos que têm atingido
recordes. Há duas métricas básicas na hotelaria: a ocupação,
porque tens um edifício e tens de o ocupar, e o revpar, as receitas
por quarto. No último ano, as taxas de ocupação e o revpar de
Lisboa e do Porto foram mais altas do que nunca. Se estivéssemos a
afectar a procura dos hotéis, as taxas baixariam. Isso demonstra que
somos completamente compatíveis. O que o home sharing fez foi gerar
novas oportunidades para viajar, que não estão a ter impacto
negativo na ocupação e rentabilidade hoteleiras. Posso entender que
se tenha receio do desconhecido, mas agora já não somos
desconhecidos e não estamos a ter impacto negativo. Por isso, as
coisas deveriam acalmar.
Argumenta então que
não estão a “roubar” pessoas aos hotéis. Há, sim, mais
pessoas a viajar.
Sim, quem viajava
duas vezes ao ano, passou a fazê-lo quatro vezes. Novas
oportunidades, novos destinos. São pessoas que querem outra
experiência, que viajam com filhos e que, assim, não correm o risco
de ficarem em quartos localizados em pisos diferentes, por exemplo.
Quantos portugueses
utilizaram a Airbnb no último ano?
Foram 120 mil [52
mil em 2014, 7500 em 2012]. São dados muito bons. Há oito anos nem
sequer existíamos e, muito rapidamente Lisboa, passou a fazer parte
dos destinos pesquisados. Aqui também há a juntar o fenómeno de
responder à crise com empreendedorismo e a economia entre
particulares. As pessoas tentaram juntar dinheiro extra através da
plataforma. Em 2008 não existíamos, hoje 1% da população
portuguesa está a usar Airbnb.
Quanto facturam em
Portugal?
Não divulgamos
dados financeiros, nem por país, nem a nível mundial.
Cobram uma comissão
de 2,3%, correcto?
Sim, ao particular
que quer alugar a sua casa cobramos cerca de 3% de comissão. Ao que
quer viajar entre 9 a 12%. A comissão total ronda os 12 a 15%.
Como é que garantem
que todos os proprietários pagam impostos?
Regemo-nos pela
normativa das plataformas. Quando chega a altura de comunicar as
obrigações fiscais, enviamos aos anfitriões toda a informação
sobre as suas reservas e recordamos quais são as suas obrigações
fiscais. A partir daí a responsabilidade é de cada particular.
Mas a maioria cumpre
ou não?
Tendo a assumir que
sim. Não tenho nenhum dado estatístico, mas o que tentamos fazer é
que as pessoas cumpram. Não podemos é assumir essa
responsabilidade.
Já discutiram esse
tema com a Autoridade Tributária?
Estamos em contacto
com as autoridades. E queremos favorecer o pagamento de impostos. É
a nossa obrigação.
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