Chuva
e o consenso vencem protestos contra medidas antiterrorismo em França
PÚBLICO 30/01/2016
- 18:26
Não
passaram de poucos milhares em Paris a marcharem pelo fim do estado
de emergência e retirada da nacionalidade francesa a condenados por
terrorismo.
Milhares de pessoas
enfrentaram a chuva, o frio e o consenso para protestarem neste
sábado em França contra o estado de emergência e a iminente
reforma constitucional que permitirá retirar a cidadania a
condenados por terrorismo com dupla nacionalidade. Estavam agendadas
manifestações em dezenas de cidades francesas, mas as grandes
expectativas estavam em Paris, para onde apontaram armas as 70
organizações não-governamentais e sindicatos que assinam a
convocatória do protesto.
A sua intenção era
contrariar as sondagens que dizem que sete em dez franceses aprovam
as duras políticas antiterrorismo impostas pelo Governo socialista
de François Hollande e mostrar que não existe consenso sobre a
continuação do estado de emergência e mudanças constitucionais.
Não o conseguiram. A organização garante que marcharam em Paris 20
mil pessoas e outros milhares em cidades diferentes. Mas a polícia
parisiense contou quatro vezes menos manifestantes: 5500.
Os organizadores –
liderados pela Liga dos Direitos do Homem – mesmo assim reclamam
vitória. Diante do mesmo Palácio Real em que o Conselho de Estado
recusou esta semana um pedido da Liga para a suspensão do estado de
emergência, os organizadores disseram que ficou “feita a
demonstração” de que não existe apoio consensual em torno das
medidas antiterrorismo e que os protestos foram “bem-sucedidos”,
segundo escrevem os jornalistas do Libération e Le Monde na capital.
Para além de
começar esta semana o debate sobre a reforma constitucional – para
a qual se presume uma aprovação fácil, com apoio da oposição
mais conservadora –, espera-se que o Governo socialista anuncie em
breve a intenção de prolongar por uma segunda vez o estado de
emergência, que por enquanto tem validade até 26 de Fevereiro.
O Executivo
socialista – agora sem Christiane Taubira na pasta da Justiça, a
figura mais oposta no Governo à linha dura antiterrorismo – quer
tempo para incluir o estado de emergência na Lei Fundamental e deve
argumentar que a ameaça de atentados em França continua alta, com a
aproximação do Europeu de Futebol, em Junho. Várias organizações
de protecção dos direitos do Homem, incluindo o Conselho da Europa
e Nações Unidas, por exemplo, alertaram já para “restrições
excessivas e desproporcionadas a liberdades fundamentais”.
Os poucos milhares
que saíram este sábado à rua argumentam que a rédea livre na
polícia e o possível fim da nacionalidade a condenados por
terrorismo são uma afronta ao Estado de Direito, aos direitos
fundamentais e afectam desproporcionalmente a população muçulmana
francesa.
“O estado de
emergência durará até quando?”, perguntava uma manifestante de
Paris à AFP. “Até ao fim do Daesh [Estado Islâmico]? Até daqui
a dez anos? Para sempre? Temos que pôr um fim a isto, sobretudo
porque o nosso arsenal legislativo já é bem mais do que o
suficiente.”
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