Campanha
de Belém entre a perda de um amigo e a polémica das subvenções
Vera
Jardim, porta-voz da candidata, fala de “clima de populismo” e
desanca em Nóvoa. Este diz que não teria subscrito o pedido de
inconstitucionalidade da norma que retirou subvenções a políticos
Margarida Gomes e
Paulo Pena / 21-1-2016 / PÚBLICO
A devolução das
subvenções vitalícias dos políticos entrou na campanha das
presidenciais e Maria de Belém ficou debaixo dos holofotes
mediáticos por ter subscrito o pedido de fiscalização da
constitucionalidade à norma do Orçamento do Estado para 2015,
juntamente com mais 29 deputados do PS e do PSD. Que efeito tem a
polémica na sua candidatura?
O porta-voz da
candidatura de Maria de Belém, Vera Jardim, reconhece que o caso
“não é positivo” e critica o “clima de populismo levado ao
extremo” que diz marcar estas eleições. Reprova as palavras de
Sampaio da Nóvoa no final do debate na RTP, em que cá fora disse
que, se for eleito, pretende tirar as subvenções dos expresidentes
da República”. “Isto é uma enormidade, até porque nem o pode
fazer”, atira, lamentando que alguém que é apoiado por três
expresidentes se comporte assim. A investigadora da área dos e
professora da Universidade do Minho Felisbela Lopes diz que qualquer
leitura política tem de ser feita mediante a cobertura mediática. O
facto de o caso das subvenções ter coincidido com a morte de
Almeida Santos “neutralizou o grande efeito que essa ligação
pudesse ter” na candidatura de Belém, considera. A circunstância
da candidata não ter ido ao debate com os outros candidatos
“contribuiu para diminuir o impacto”. Felisbela Lopes reconhece
que, se Almeida Santos não tivesse morrido e se a candidata tivesse
participado no debate, “haveria um confronto brutal”, porque ela
seria o “rosto das subvenções vitalícias”.
António Costa Pinto
analisa a questão de outro ponto de vista, chamando a atenção para
o facto de haver dois candidatos mais distantes da classe política —
Marcelo Rebelo de Sousa, que apesar de ter sido líder do PSD tem um
percurso autónomo, e o independente Sampaio da Nóvoa —, o que
“faz com que Maria de Belém seja facilmente associada aos defeitos
da classe política”. E atira outro dado para destacar o “impacto
negativo” da acumulação de cargos: a candidata acumulou a
presidência da Comissão Parlamentar de Saúde com o de consultora
do Grupo Espírito Santo Saúde.
Ana Belchior,
professora de Ciência Política do ISCTE, considera que “esta
iniciativa de fiscalização só pode ser mal acolhida pelo cidadão
comum”. “Trata-se de um privilégio, ainda mais inaceitável pelo
contexto social em que é reposto. Do ponto de vista do pensamento
racional do eleitor, o impacto sobre a campanha de Maria de Belém só
pode ser objectivamente negativo”, afirma ao PÚBLICO.
Embora seja apoiante
da ex-presidente do PS, o professor Adelino Maltez não aplaude a
decisão da candidata, afirmando mesmo que revela um perfil que já
lhe “causou dissabores”, numa alusão à sua ligação ao Grupo
Espírito Santo Saúde. “É preciso um choque moral e um novo
paradigma”, advoga, considerando que este tipo de comportamentos
pode dar votos a Paulo de Morais. “A democracia exige ética e nem
tudo o que é lícito é honesto”, remata o catedrático da
Universidade Técnica de Lisboa. André Freire, professor do ISCTE
que integra a comissão política da candidatura de Sampaio da Nóvoa,
partilha da opinião de Felisbela Lopes, afirmando que “os efeitos
vão depender do grau de mediatização”. Fala de um tema que não
é popular e critica a “incoerência” da candidata. “Quando foi
o episódio de fiscalização dos cortes de salários na função
pública e nas pensões, Maria de Belém ficou quietinha. Desta vez,
como tinha a ver com as subvenções dos políticos, subscreveu o
pedido de fiscalização”, aponta.
Nóvoa: “Eu jamais
o faria” A paragem forçada da campanha terminou, de vez, com
aquilo a que Sampaio da Nóvoa chamou “ataques fratricidas” entre
as candidaturas de esquerda. Agora, reina a convicção de que Maria
de Belém está em perda. Sobretudo após o caso das subvenções
vitalícias.
Nóvoa não quis
cavalgar o assunto. “Não gostaria muito de me pronunciar sobre
essa matéria.” Perante a insistência dos jornalistas, ainda
começou por dizer que os deputados gozam de total liberdade nos seus
mandatos. Só no fim veio a crítica: “Se eu fosse deputado, jamais
tomaria essa iniciativa.” Nova pergunta: “E é uma contradição
pedir a fiscalização dessa norma e não a dos Orçamentos de Passos
Coelho?” E aqui, sim, Nóvoa repete a crítica: “Teria sido bom
que, enquanto deputada e presidente do PS, tivesse tido uma posição
mais activa na defesa da Constituição.”
Nóvoa parte para os
últimos dias de campanha “cheio de ânimo” e com “uma
convicção muito forte” de que, no domingo, os eleitores decidirão
escolhê-lo para disputar uma segunda volta com Marcelo Rebelo de
Sousa. Em Guimarães, onde retomou as acções de campanha depois de
ter interrompido a agenda durante 24 horas, garantiu que a “dinâmica
da campanha tem sido boa” e que as coisas até “têm corrido
acima das expectativas”.
O candidato
refere-se ao apoio nas ruas, mas também à mobilização que sente,
nas bases da candidatura. Seja nas bases “auto-organizadas”, que
têm mantido um
programa autónomo desta “caravana” que percorre o país com o
candidato, seja nas estruturas locais, mais próximas do PS, e que
não lhe têm faltado com apoio. Ainda esta quarta, na fábrica de
calçado Kyaia, em Penselo, Guimarães, António Guimarães, o
autarca socialista, acompanhou Nóvoa na visita em que foi anfitrião
o empresário Fortunato Frederico, dono da célebre marca Fly London,
o maior empresário português do sector, que é também mandatário
para a inovação da candidatura.
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