domingo, 10 de janeiro de 2016

Procura de Mein Kampf na Alemanha supera quatro vezes a tiragem / Hitler’s Mein Kampf reopens German debate


Procura de Mein Kampf na Alemanha supera quatro vezes a tiragem
PÚBLICO 09/01/2016 -

Relançado o debate sobre a introdução nas escolas do manifesto partidário e ideológico do nacional-socialismo. Livro regressou às bancas pela primeira vez desde 1945.

O instituto a cargo da edição alemã anotada de Mein Kampf, o manifestado partidário e autobiográfico de Adolf Hitler e o guia ideológico do nazismo, recebeu quase quatro vezes mais encomendas da obra do que o número de livros publicado. O livro regressou às livrarias alemãs na sexta-feira, pela primeira vez desde 1945 e do fim da Segunda Guerra Mundial.

A decisão de reeditar um dos maiores símbolos do nacional-socialismo sofreu avanços e recuos à medida que se aproximavam os 70 anos desde a morte de Hitler – o que, segundo a lei alemã, faz com que a obra entre em domínio público. O livro foi publicado em dois volumes, duas mil páginas e acompanhado de cerca de cinco mil entradas de comentários, resultado da investigação académica do Instituto de História Contemporânea de Munique.

O director do instituto recebeu encomendas para 15 mil cópias, o que ultrapassa em muito a impressão original de quatro mil cópias. O instituto aumentou a tiragem mas, mesmo assim, na sexta-feira o livro já se esgotara no site alemão da Amazon. Os dois volumes custam 59 euros.

A republicação de Mein Kampf foi tema de debate aceso na Alemanha. Hitler inscreveu grande parte da identidade racista e anti-semita do Partido Nazi na obra, enquanto estava preso pela tentativa falhada de golpe de Estado em 1923. A ministra alemã da Educação voltou este sábado a defender a introdução do estudo de Mein Kampf na escolaridade obrigatória.

Trata-se de um importante instrumento de educação política”, argumentou Johanna Wanke em declarações à rádio pública alemã, RTL. “Os liceus são o lugar indicado para que, com a ajuda dos professores, seja divulgada esta edição comentada de um livro sobre o qual existem muitos mitos."

A grande edição do Instituto de História Contemporânea de Munique não foi pensada para o sistema de ensino alemão, embora os autores admitam que isso seria possível pela dimensão dos comentários académicos. O facto de as anotações terem mais predominância nas páginas da reedição do que os escritos de Hitler foi fundamental na batalha em torno da reimpressão da obra.

De qualquer maneira, há um consenso amplo em relação a um ponto decisivo”, afirmou Andreas Wirsching, director do instituto, na apresentação da obra. “Seria completamente irresponsável permitir que esta salgalhada de desumanidade viesse a público sem comentários, sem o contradizer através de referências críticas que ponham o texto e o seu autor no seu lugar.”

Mas, no momento em que se assiste ao ressurgimento de algumas ideias semelhantes às que Hitler inscreveu na ideologia nacional-socialista – as grandes marchas antimigração do Pegida são exemplo disso –, a ideia de estudar Mein Kampf nas escolas é vista por alguns com desconfiança.

É o caso do germanólogo Jeremny Adler, que lecciona língua e história alemã. “Mein Kampf é uma fonte turva”, argumenta, sublinhando o facto de Hitler ter escrito o livro em parte justificando o golpe de Estado falhado. “[É] um livro sobre técnicas de propaganda cheio de ódio e desejos de grandeza”, afirma, citado pelo diário espanhol ABC. “O que é que se pode aprender com essa diatribe que apela à louca monstruosidade do assassínio?”


Hitler’s Mein Kampf reopens German debate

Hitler’s anti-Semitic book republished and could be on German school reading lists.

By IVO OLIVEIRA 1/8/16, 3:00 PM CET Updated 1/9/16, 4:08 PM CET

Adolf Hitler’s “Mein Kampf” (“My Struggle”), the 800-page anti-Semitic tract that the future German leader wrote in 1924 in Landsberg prison and that went on to sell 12.5 million copies, became available in German bookstores for the first time in 70 years on Friday, reopening a contentious historical debate.

The book is being republished by the Institute of Contemporary History Munich-Berlin (IfZ), which has been working on the project since 2012 and describes its new version as a “critical” edition with about 3,500 annotations and running to almost 2,000 pages, up from the original 800. Just 4,000 copies are being printed.


The IfZ claims it wants to demystify the book, saying: “This critical edition of ‘Mein Kampf’ should be understood as a contribution to the historical and political enlightenment. The aim is to deconstruct Hitler and his propaganda in a sustainable manner.”

The book was never banned in Germany, but reprinting it was forbidden. Public access to the work was restricted, usually only being made available for academic purposes, with library copies “hidden” from public view. Copies are freely available in second-hand bookstores and online.

When American troops occupied Munich after World War II, Franz Eher, the publishing house that put out Nazi propaganda, was shut down and the copyright passed to the state of Bavaria, which prevented its reissue. But the copyright on “Mein Kampf” has expired, allowing its republication.

Bavaria was to have contributed some financing to the IfZ project, but in 2013 it withdrew a €500,000 offer on the orders of Horst Seehofer, the state’s premier and head of the Christian Social Union, the sister party of Angela Merkel’s Christian Democratic Union.

“I cannot put a request for a NPD [the extreme-right National Democratic Party] ban in Karlsruhe, and then give official approval for the diffusion of ‘Mein Kampf’ — that’s bad,” Seehofer said at the time.

A spokesman for the Bavarian Ministry of Culture said the reason for Seehofer’s U-turn was a visit to Israel in 2012, where he talked to Holocaust survivors and families of victims.

It remains to be seen how much publicity will be given to Hitler’s book. According to a dpa survey, German book chain Thalia said it is not planning to promote the book and will order it only “if a customer explicitly wants a copy.” Online retail giant Amazon said it will donate all proceeds from sales of the book to charity.

Controversially, there is talk that “Mein Kampf” could be taught in German schools.

The German minister for education and research, Johanna Wanka, a member of the CDU, and the German Teachers’ Association have backed the use of the new, annotated edition in German schools.

Weekly Government Cabinet Meeting
German Education Minister Johanna Wanka said that Hitler’s statements will not go “uncontradicted,” adding that “students have questions, and it is right that they can get rid of these in the classroom and talk about the issue.” Photo by Getty.
“The critical edition … has precisely the aim of contributing to political education,” the minister told Passauer Neue Presse.

“A professional treatment of passages in the classroom can be an important contribution to the immunization of adolescents against political extremism,” the president of the German Teachers’ Association, Josef Kraus, told Deutsche Welle.

Asked if the book might lead to increased support for far-right movements such as Pegida (Patriotic Europeans Against the Islamization of the West), Kraus said that “much more dangerous is remaining silent or completely banning the book. It’s more important to me that something like this can be discussed in a differentiated and critical manner.”

Not everyone agrees. Charlotte Knobloch, chair of the Jewish Community of Munich and Upper Bavaria, said: “The book is a Pandora’s box, which should be closed forever in the ‘poison cupboard’ of history.”

Authors:


Ivo Oliveira  

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