Foto de Basilio Horta na Serra de Sintra
Os governantes andam, sem verdadeira estratégia e
planeamento, atrás dos acontecimentos ... Quem comanda é a alteração do Clima e
o Aquecimento Global ...
Portugal a ser destruído em todos os seus eco-sistemas, o
social e o natural.
OVOODOCORVO
INCÊNDIOS
Governo tinha sido avisado para riscos do Parque
Sintra-Cascais
Relatório de peritos da Comissão Europeia datado de Maio
fala num risco estrutural “muito alto e extremo” e da falta de condições de
evacuação. Se o vento tivesse soprado de oeste, “a serra tinha ardido toda”,
acredita professor universitário.
ANA HENRIQUES e MARIANA OLIVEIRA 8 de Outubro de 2018, 7:28
Em 15 horas terão ardido perto de 600 hectares no parque
natural
O Governo está alertado pelo menos desde Maio passado para o
elevado risco de incêndio no Parque Natural Sintra-Cascais: um relatório
elaborado por peritos da Comissão Europeia que se deslocaram a Portugal para o
efeito dá conta da extrema vulnerabilidade desta área protegida.
O documento foi entregue ao secretário de Estado das
Florestas, que de resto se chegou a reunir com os seus autores, bem como aos
presidentes do Instituto de Conservação da Natureza, da Parques de Sintra-Monte
da Lua e ainda ao responsável pela estrutura de missão dos fogos rurais, Tiago
Oliveira. O PÚBLICO tentou saber junto do executivo que medidas foram tomadas
para reduzir o perigo, mas não obteve qualquer resposta.
“O índice de risco estrutural é muito alto e extremo”,
refere o relatório em causa, assinado por três especialistas que vieram de
Espanha e trabalharam com técnicos nacionais, nomeadamente do Instituto de
Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF). No que a Sintra diz respeito –
os peritos estiveram também no Parque Natural de São Mamede, no Alentejo –,
falam da fragilidade tanto das casas isoladas como das urbanizações existentes.
Em caso de catástrofe, “as evacuações estão comprometidas, pois necessitam de
duas condições que não existem, tempo e recursos – a que acresce outra
limitação, a largura das estradas face à quantidade de veículos existentes”.
Os autores do trabalho consideram fundamental que a
população residente e os visitantes de Sintra sejam alertados para o risco que
correm, até porque, aparentemente, as medidas de prevenção em vigor não são
adequadas à perigosidade da situação. Sugerem a criação de áreas de segurança
para turistas e planos de autoprotecção para a construção e urbanização, mas
falam também na necessidade de eliminar a grande quantidade de combustível
morto (vegetação) existente na maioria das áreas florestais.
A celebração de rituais ou macumbas também é factor de
preocupação para os peritos, por implicarem o uso de velas nos cruzamentos dos
caminhos florestais. Bem como a falta de recursos do ICNF para gerir os
terrenos à sua guarda.
Perante estas conclusões, o responsável pela estrutura de
missão dos fogos rurais recomendou ao secretário de Estado das Florestas logo
em Maio várias medidas, como a criação de rotas de fuga e o apoio a pessoas que
necessitem de fazer queimadas. “Torna-se evidente a possibilidade de grandes
incêndios florestais já em 2018”, antecipava.
Noite de susto
E se o incêndio que deflagrou este sábado à noite não entra
na categoria dos grandes fogos florestais, a verdade é que foi sobretudo graças
à direcção do vento que as chamas acabaram por não fazer perigar o património
ambiental mais valioso, já que começaram junto ao convento da Peninha – onde,
por sinal, se comemora esta semana o 37.º aniversário do parque natural – mas
evoluíram para uma área mais urbana, embora dentro do parque natural. A maior
parte dos 600 hectares ardidos situa-se no concelho de Cascais e o sistema
dunar da Cresmina, no Guincho, foi uma das partes atingidas. A autarquia
promete repor a vegetação rasteira que ardeu nesta zona da Rede Natura 2000. Se
o vento tivesse soprado de oeste, “aí a serra tinha ardido toda”, acredita
Paulo Fernandes, professor do Departamento de Ciências Florestais da
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
O presidente da Câmara de Sintra, Basílio Horta, foi dos
primeiros a lançar suspeitas, mas não foi o único, sobre a possível origem
criminosa das chamas: “É evidente que é uma coisa muito estranha o incêndio ter
começado às 22h50.” Com muitos anos de experiência na investigação deste tipo
de fenómenos, o perito António Carvalho diz que este tipo de conclusão é
demasiado simplista. É verdade que a hora a que tem início um fogo pode ter
importância para determinar a sua causa, admite. Mas se se tratou de uma
fogueira mal apagada, por exemplo, pode suceder que só se tenha dado pelas
chamas várias horas depois. Por outro lado, assinala, o vento forte que se
fazia sentir fazia com que qualquer ponta de cigarro fosse suficiente para
fazer deflagrar as chamas. “A hora é um dos factores a ter em conta, mas não o
único. O local onde começou é outro”, sublinha. Afinal, recorda, o último
relatório do Instituto de Conservação da Natureza diz que 62% dos incêndios têm
origem negligente.
Na contabilidade final registaram-se 21 feridos ligeiros,
duas dezenas de operacionais envolvidos no combate ao fogo e um civil. Sofreram
traumas oculares, entorses e luxações. Já a vítima civil “teve queimaduras de
primeiro e segundo grau, em menos de 10% do corpo", disse o comandante
distrital de Lisboa da Autoridade Nacional de Protecção Civil, André Fernandes,
no balanço que fez dos acontecimentos. Mas à hora de almoço esta vítima também
já tinha tido alta hospitalar. Cerca de três centenas de pessoas foram
retiradas durante a noite do parque de campismo de Guincho, bem como 47
habitantes de várias aldeias na região. Não houve habitações atingidas.
O facto de o alerta para o fogo ter sido dado já de noite,
às 22h50 de sábado, despertou suspeitas: terá havido mão criminosa? Mas, como
explica um especialista na matéria, o critério da hora não é decisivo para
aferir dessa possibilidade, que de resto está já a ser investigada pela Polícia
Judiciária.
Assim que soube do que se estava a passar, o Presidente da
República, Marcelo Rebelo de Sousa, rumou a Sintra, onde esteve reunido com o
presidente da câmara, Basílio Horta. De madrugada, o autarca eleito nas listas
do PS chegou a referir-se ao sucedido como “uma desgraça”, mas no domingo de
manhã havia de mostrar-se mais calmo: "Tratou-se de um milagre, porque se
o vento estivesse em sentido contrário e tivesse empurrado o fogo para terra,
certamente que haveria uma grande desgraça em Sintra."
De Sintra, o Presidente rumou a Cascais, onde de resto mora,
para se encontrar com o presidente do município, Carlos Carreiras. Este autarca
acabaria por garantir, horas mais tarde, que na área ardida não vai ser
permitida construção nova: “Não era possível e continuará a não o ser.”
Já o primeiro-ministro, António Costa, garantiu que também
não foi à cama senão às 4h30, quando percebeu que o pior perigo tinha passado.
Acompanhou os acontecimentos à distância, tendo-se mantido em contacto quer com
Marcelo, quer com o ministro da Administração Interna. “Felizmente foi possível
fazer o combate ao fogo com sucesso, sem danos pessoais significativos nem
nenhuma habitação atingida”, congratulou-se já neste domingo, à margem das
comemorações do 20.º aniversário do Nobel de José Saramago. E aproveitou para
elogiar o social-democrata Carlos Carreiras, pela “forma muito serena como
exerceu as suas funções” durante a noite. Já sobre as reacções de Basílio Horta
não proferiu palavra.
tp.ocilbup@seuqirnehba tp.ocilbup@arieviloem
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