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Afirmação que marca um ano de mandato:
“Não é o turismo que está a criar o problema da habitação”
Fernando Medina no Expresso .
Os efeitos da Turistificação de Lisboa
Cada vez mais gente e menos lisboetas. Câmara entrega a
gestão da habitação ao aluguer online de alojamento para férias
ANTÓNIO SÉRGIO ROSA DE CARVALHO
23 de Novembro de 2016, 9:45
Fernando Medina não acompanha a Imprensa internacional. Se o
fizesse, ter-se-ia apercebido de uma avalanche de notícias na Imprensa local de
Nova Iorque e de várias cidades Europeias sobre os efeitos perversos conjugados
e interactivos da Turistificação desenfreada, da Globalização desmedida e da
Gentrificaçào galopante na vida quotidiana dos habitantes locais nestas
cidades.
Um clamor profundo, uma agitação permanente de insatisfação
e um desejo urgente e imperativo de mudança, de regulamentos, de fiscalização e
de liderança por parte dos habitantes, ameaça traduzir-se em consequências
políticas, e faz acordar os autarcas.
Temos ouvido sobre as situações em Barcelona e Berlim e das
condições impostas à AIRBNB que vão desde a proibição total na capital alemã
até à imposição de um rigoroso regulamento na cidade da Catalunha.
Numa longa luta do Municipal com a Airbnb [aluguer de
alojamento para férias], Nova Iorque quer agora proibir o aluguer de
alojamentos através da AIRBNB por um período inferior a 30 dias. Medida
destinada a proteger a cidade dos efeitos perversos das estadias curtas / low
cost do turismo barato, massificado, predador e desinteressante. Densidade
intensa de ocupação do espaço físico sem interesse económico e mais valias
financeiras, a não ser, para os estabelecimentos também eles “predadores” do
comércio tradicional, ou seja, “comes e bebes” e “quinquilharia”
pseudoturística em dezenas de lojas asiáticas e afins.
A 6 de Outubro, o “Guardian” publicou um conjunto de três
artigos sobre a interligação destes temas, tendo um deles sido dedicado à
relação de Amsterdão com a AIRBNB.
Embora Amsterdão tenha imposto um regulamento claro à
Airbnb, ocupação máxima de 60 dias por ano e o máximo de quatro pessoas por
edifício, os efeitos sociais de descaracterização dos bairros têm sido
devastadores. O investimento especulativo junto à forte subida do preço da
habitação (também no aluguer a “expats” do mundo empresarial ) está a expulsar
progressivamente os habitantes locais, transformando os bairros em plataformas
rotativas e contínuas de “idas e vindas” de forasteiros híper individualizados
e indiferentes aos locais, e a transformar os antigos bairros em locais
alienados onde ninguém se conhece e onde reina o anonimato.
Amsterdão tem fiscalizado intensamente a ocupação através da
Airbnb mas é confrontada com a recusa pela própria Airbnb de fornecimento de
dados. Num espaço limitado fisicamente como a pitoresca Amsterdão, a invasão
turística low-cost / aluguer Airbnb, está a levar a efeitos explosivos no
trânsito, no comércio local onde pululam as lojas de vocação turística e de
souvenirs e está a provocar uma avalanche de insatisfação traduzida em
irritação ou animosidade explícita para com o turismo.
De tal forma que, muito recentemente, a autarquia fez um
discurso explícito inteiramente dedicado a estes temas, onde anunciou uma
atitude de exigência e fiscalização ainda mais rigorosa para com a Airbnb,
medidas legislativas em conjunto com Haia que tornem possível a escolha do tipo
de lojas a instalar em cada rua e uma atitude nítida de selecção do tipo de
turismo, numa definição e escolha dirigida à clara diferenciação entre o
turismo desejável e indesejável.
Numa entrevista publicada a 18 de Janeiro no PÚBLICO, o
Director Ibérico da Airbnb anunciava orgulhoso: “A evolução em 2015 face ao ano
anterior foi de 65%. Portugal está no 11.º lugar mundial em termos de anúncios
na Airbnb, num ranking liderado pelos EUA. A Airbnb captou um milhão de pessoas
em 2015.”
Orgulhoso, e claro, satisfeito. A Airbnb não está sujeita a
qualquer tipo de regulamento, exigência ou fiscalização em Portugal. Mais. A
AIRBNB colabora com a Autarquia e o Governo, de forma a que os impostos sejam
cobrados ao Alojamento Local. Estes aumentaram.
Mas os efeitos devastadores são ignorados ou mesmo negados
por Fernando Medina que se tem mostrado irónico ou furtivo sobre estes
problemas fundamentais para o presente e o futuro estratégico da cidade de
Lisboa.
Que este se torne o tema fundamental de discussão de todas
as forças políticas em direcção às eleições autárquicas, é um imperativo. Não
se trata de cor política, mas de um tema Universal de Ecologia Urbana e de
equilíbrio salutar no organismo vivo que constitui uma verdadeira cidade.
A Turistificação desenfreada, a Globalização desmedida e a
Gentrificação galopante estão a matar as cidades.
Historiador de Arquitectura
Sector imobiliário assegura que os preços dificilmente
cairão em Lisboa e Porto
“A má notícia é que estão cada vez menos acessíveis às
famílias portuguesas”
Por outras palavras a Economia Global a colonizar Portugal e
transformar os Portugueses em ‘habitantes de segunda’ no seu próprio País …
OVOODOCORVO
(…) “Os preços em Lisboa ou no Porto dificilmente cairão,
“porque estas cidades estão hoje inseridas num mercado global e deixaram de
estar circunscritas ao investimento nacional”.
O mesmo responsável reconhece que este fator “representa um
problema para as famílias portuguesas, uma vez que o seu poder de compra não
está nem perto do poder de compra dos demais cidadãos estrangeiros, pelo que
urge a necessidade de introduzir no mercado ativos a preços acessíveis, que
saciem as carências habitacionais que hoje se verificam”.
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