quinta-feira, 11 de outubro de 2018

Bruxelas elege linha do Douro como exemplo de potencial económico desaproveitado / Governo falha ligação a apoios europeus para investir na ferrovia




Bruxelas elege linha do Douro como exemplo de potencial económico desaproveitado

Comissão Europeia escolhe linha portuguesa como caso de estudo de ligação transfronteiriça com potencial económico. A linha do Douro e a fronteira franco-alemã de Haguenau-Rastatt foram as duas ligações fronteiriças escolhidas entre as 48 missing links estudadas.

CARLOS CIPRIANO 11 de Outubro de 2018, 7:00
https://www.publico.pt/2018/10/11/economia/noticia/bruxelas-elege-linha-do-douro-como-exemplo-de-1847027

A reabertura da linha do Douro entre Pocinho e Barca d’Alva e sua continuação para Salamanca (onde já existe estação de Alta Velocidade) foi um dos casos de estudo apresentados na passada terça-feira, 9 de Outubro, em Bruxelas, numa iniciativa da Comissão Europeia durante a Semana das Cidades e das Regiões.

Numa sessão realizada no Palácio da Arte, dedicada às missing links (fronteiras ferroviárias desactivadas ou subaproveitadas), foram apresentados o caso luso-espanhol da linha do Douro, e o da relação transfronteiriça Haguenau-Rastatt que liga a região francesa da Alsácia ao estado alemão de Baden-Wuertemberg e que depende da reabertura de uma ponte sobre o Reno.

Com uma plateia de meia centena de pessoas, na sua maioria franceses e alemães, estiveram de Portugal o presidente da Comunidade Intermunicipal do Douro, Carlos Santiago, o presidente da Câmara de Carrazeda de Ansiães, João Gonçalves, o presidente da Câmara de Sabrosa, Domingos Carvas, a vice-presidente da CCDR do Norte, Ester Silva e técnicos da Comunidade Intermunicipal e de uma empresa de consultoria portuguesa.

A apresentação do caso luso-espanhol foi feita pelo professor da Universidade do Algarve, Manuel Tão, que expôs as vantagens para o país – e não só para o Norte – de uma relação ferroviária directa Porto – Salamanca, mais rápida, mais curta e mais barata do que uma nova linha de Aveiro a Mangualde, tal como o Governo pretende, mas que já foi chumbada por duas vezes por Bruxelas.

Manuel Tão, que falou na sessão a convite da Comissão Europeia, disse ao PÚBLICO que os consultores da KCW que fizeram um trabalho sobre as ligações transfronteiriças referiram que apenas estudaram o tráfego regional inter-fronteiriço com base em modelos demográficos e de rendimentos das regiões portuguesa e espanhola junto à fronteira, não tendo entrado em conta com o tráfego de longo curso (entre o Porto e Salamanca) nem com a procura motivada pelo turismo.

O estudo também não teve em conta as receitas proporcionadas pelo tráfego de mercadorias, cujo potencial é elevado tendo em conta que no extremo da linha está o porto de Leixões.

 “Por tudo isto, os responsáveis da KCW entendem que a reabertura se justifica plenamente pois há receitas adicionais não consideradas no estudo, mas lamentam que o Governo português não lhes tenha respondido nem dado qualquer informação”, disse o investigador, que entregou, ele próprio, o estudo da IP sobre a linha do Douro (que esta tem mantido "escondido") ao consultor sénior daquela empresa, Ludger Sippel.


O presidente da Comunidade Intermunicipal do Douro, Carlos Santiago, referiu ao PÚBLICO a importância da linha portuguesa ter sido apresentada neste fórum em Bruxelas e sublinhou o facto de “a região Norte estar de acordo, os especialistas estarem de acordo, a Europa estar de acordo e só o Governo português ser o único que não está de acordo sobre a importância deste investimento”. O também presidente da Câmara de Sernancelhe diz que o ministro do Planeamento e das Infraestruturas, Pedro Marques, não pode ignorar mais este assunto e espera que o Governo avance com este projecto.

Em sintonia está o autarca de Carrazeda de Ansiães, João Gonçalves, que releva “a importância estratégica deste investimento, não só para a região, como também para o país”, esperando que “o Governo priorize este projecto” no horizonte 2030.

A consultora KCW estudou, a pedido da Comissão Europeia, 365 ligações ferroviárias entre estados membros da União Europeia tendo seleccionado 48 como geradoras de mais-valias para a economia e o território.

A escolha da linha do Douro para ser apresentada durante a Semana das Cidades e das Regiões foi feita pela própria Comissão Europeia, disse ao PÚBLICO Ludger Sippel. A mesma Comissão que já por duas vezes rejeitou, por falta de viabilidade económica, a intenção do Governo de construir uma linha Aveiro – Mangualde para dar ligação a Espanha.


O Voo do Corvo. Blogspot
October 8 at 9:43 AM ·
Escândalo absoluto !
Incompetência e contradição.
Enquanto os Portugueses andam em comboios emprestados pelos Espanhóis, o Governo ilustra a sua incompetência, comparável à mesma demonstrada na gestão e planeamento da floresta, num futuro dominado pelas alterações climáticas.
OVOODOCORVO



No Douro anda-se em comboios de Espanha apinhados de turistas


Governo falha ligação a apoios europeus para investir na ferrovia
Em causa está a reabertura da linha do Douro até Espanha, um projecto que a Comissão Europeia estima em 163 milhões de euros, para o qual há financiamento, mas que não merece o apoio do Governo português.

CARLOS CIPRIANO 7 de Outubro de 2018, 8:00

O Governo não respondeu a um contacto da Direcção-Geral para as Políticas Urbanas e Regionais da Comissão Europeia que, através da consultora alemã KWC, realizou um estudo designado “Análise abrangente às actuais ligações fronteiriças de transporte e às falhas nas ligações nas fronteiras internas da UE”.

Os consultores identificaram a linha do Douro entre Pocinho e Espanha como uma missing link (ligação em falta) e contactaram o Ministério do Planeamento e das Infraestruturas, ao qual apresentaram um modelo com a procura potencial de passageiros para aquela linha, a oferta de comboios previsível, as necessidades de investimento e até o financiamento comunitário possível. No entanto, o Governo português não respondeu.

Fonte oficial do ministério disse ao PÚBLICO que “o Gabinete do Ministro do Planeamento e das Infraestruturas não recebeu qualquer comunicação ou solicitação da referida entidade, quer por via postal quer através do e-mail oficial (gabinete.ministro@mpi.gov.pt)”.

Ludger Sippel, da KCW, disse ao PÚBLICO que em Dezembro de 2017 enviou também e-mails para Duarte Silva, do Ministério do Planeamento e das Infraestruturas, bem como para Eduardo Feio e Ana Miranda, do Instituto da Mobilidade e dos Transportes. O PÚBLICO contactou estes últimos e perguntou se tinham recebido a missiva e dela dado conhecimento à tutela, mas não obteve resposta.

A KCW, que lidera o consórcio de consultores que está a trabalhar neste estudo, pedia às autoridades portugueses um interlocutor para ser o contacto de ligação na elaboração deste estudo e perguntava se, para além da linha do Douro, “considera que existe qualquer outra ligação ferroviária fronteiriça de entrada/saída do território [português] que seja elegível para uma futura operação ferroviária regular de passageiros".

Os consultores perguntavam ainda se o Governo português “já analisou o potencial da reabertura desta linha para serviços ferroviários de passageiros“ e se concorda com os estimativas apresentadas.

Linha do Douro em Bruxelas

E a verdade é que o assunto já tinha sido estudado. A Infraestruturas de Portugal tinha desde Setembro de 2016 um estudo sobre a linha do Douro que poderia ter sido enviado para Bruxelas e que responde a todas as perguntas dos consultores.

Esse estudo conclui que “a modernização [da linha do Douro] e a reabertura da ligação internacional pela fronteira de Barca D’Alva permite aumentar a vantagem competitiva desta infra-estrutura, com vista à potenciação do transporte de passageiros, nomeadamente no que respeita ao turismo, e à captação dos fluxos de mercadorias que podem surgir da exploração das minas de Moncorvo e do porto de Leixões para as principais plataformas industriais de Castela-León, em Espanha”.

Ou seja, o estudo da Infraestruturas de Portugal vai até mais longe do que o da Comissão Europeia pois nele integra também o transporte de mercadorias como variável que justifica o investimento na sua reabertura.

O mesmo estudo diz que “a materialização da ligação internacional permite enquadrar a linha do Douro entre dois importantes pólos geradores de tráfego dotados de infra-estruturas de transporte relevantes, tais como o aeroporto Francisco Sá Carneiro e o Terminal de Passageiros do porto de Leixões, no Porto, e a estação do AVE em Salamanca, permitindo criar um eixo turístico de excelência, constituído por quatro destinos classificados pela UNESCO como Património da Humanidade: Porto, Douro Vinhateiro, Gravuras Rupestres do Vale do Côa e Salamanca.”

Após a divulgação deste estudo pelo PÚBLICO, a administração da Infraestruturas de Portugal abriu um inquérito e chamou a depor dezenas de quadros técnicos para tentar saber quem teria divulgado o documento.

No que diz respeito ao contacto da KCW, a consultora pergunta também até que ponto o Governo português estaria disposto a assumir um co-financiamento nacional naquele projecto. É que para projectos fronteiriços existem fundos comunitários ao abrigo do programa INTERREG que poderiam financiar uma via férrea entre Portugal e Espanha. Aliás, são fundos do INTERREG que estão a financiar a abertura da linha internacional Pau – Canfranc, nos Pirinéus, que foi encerrada em 1970. A reabertura desta linha franco-espanhola está prevista para 2020.

O documento da KCW que foi enviado ao executivo liderado por António Costa estima em 163 milhões de euros o investimento necessário para reabrir Pocinho – Barca d’Alva (um valor muito superior aos 43 milhões de euros previstos no estudo da Infraestruturas de Portugal). Os consultores calculam em 304 o número de passageiros diários na ligação transfronteiriça (111 mil por ano) através de dois pares de comboios entre o Porto e Salamanca. Um serviço cujas receitas de exploração serão superiores aos custos pois, diz o documento, “não é preciso subsídio”.

O trabalho da KCW, que será apresentado na terça-feira, 9 de Outubro em Bruxelas, estudou 365 ligações transfronteiriças na União Europeia tendo seleccionado 48 como geradoras de mais-valias para a economia e o território. Uma delas é a linha do Douro.

O PÚBLICO questionou o ministério liderado por Pedro Marques sobre qual a sua posição acerca da linha do Douro, tendo obtido como resposta que “o Governo não tem mais comentários sobre esta matéria”.

No plano Ferrovia 2020 está prevista a electrificação desta linha até à Régua. Os trabalhos deveriam estar concluídos em finais de 2019, mas ainda nem começaram nem há projecto elaborado.

tp.ocilbup@onairpic.solrac

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