quinta-feira, 18 de outubro de 2018

Mobilidade sustentável: cinco exemplos lá fora para nos movermos sem poluir tanto



AMBIENTE
Mobilidade sustentável: cinco exemplos lá fora para nos movermos sem poluir tanto

Há casos de crescimento de ciclovias, empresas a incorporar carrinhas comerciais eléctricas na sua frota e autocarros gratuitos à beira-mar. Nestas cinco cidades, o futuro começa a sentir-se e as iniciativas locais vão preparando o terreno: os cidadãos aderem, o ambiente agradece.

NUNO RAFAEL GOMES 18 de Outubro de 2018, 8:52

Vista de cima, a cidade parece ter sido invadida por pirilampos que a percorrem, velozes, pelo alcatrão que sobe, desce, faz uma curva e se esconde num túnel. A ritmo frenético, correm de cá para lá. Mais de perto, ouve-se o vrum vrum e os apitos zangados. O que descrevemos podia ser só cenário de filme citadino, mas é também a azáfama sonora e visual do quotidiano. Mas pode deixar de ser – e há cidades lá fora a correr (e a pedalar) em direcção a essa realidade. Menos apitos e irritações no trânsito, menos poluição. Mais ciclovias, gente nas ruas que dantes ocupava os carros, conversas no lugar de apitos. E o ar mais limpo. As cidades procuram alternativas inteligentes e planta-se algo que já não é assim tão distante: a mobilidade sustentável. Por isso, listamos cinco exemplos de cidades estrangeiras que, passo a passo, vão ficando cada vez mais verdes. Vamos?

Fiquemos, para já, por perto – aqui ao lado, praticamente. Em Sevilha, no Sul de Espanha, há algum tempo que as bicicletas passaram a rodar onde, dantes, os carros estacionavam. Em 2005, havia 12 quilómetros de ciclovia (não ligados) pela cidade. Hoje, a rede pousa sobre Sevilha e liga-a de bicicleta nos 180 quilómetros disponíveis para ciclistas. Um estudo de 2011 da Universidade de Sevilha já apontava para o crescimento do número de bicicletas na cidade, bem como para decréscimos significativos: mais de 25 mil barris de petróleo poupados (o equivalente a quase dois milhões de euros). Para além disso, foi emitido o equivalente anual a menos de 8000 toneladas de dióxido de carbono. Há mais de 250 estações para se recolherem as bicicletas da Sevici — o programa do município —, que funcionam durante todo o dia, diz o Periodista Digital.

Outros (bons) exemplos
Pontevedra, a cidade espanhola sem carros;
os transportes públicos gratuitos de Tallin, na Estónia, um projecto que ainda não atingiu todos os objectivos;
as boleias aos colegas de trabalho que dão dinheiro e podem descongestionar as estradas através da Fleet, em Dublin, na Irlanda;
novas regras para o trânsito em Madrid, que fazem reduzir a velocidade em certas zonas da cidade para 30 quilómetros por hora (noutras, dão prioridade aos pedrestes);
as bicicletas de carga que a Volkswagen quer pôr nas ciclovias de Amesterdão e Roterdão em 2019 e que demoram menos tempo a levar as encomendas a casa do que as convencionais carrinhas.

Podemos pedalar até Dunquerque, no Norte de França, e depois repousar as pernas cansadas nos autocarros gratuitos que tiram, desde Setembro último, os habitantes dos carros. Com isso, tornou-se numa das maiores cidades europeias com transporte público gratuito, como explica o Guardian. São borlas todos os dias para mais de 200 mil habitantes — e até para quem está na Bélgica (mais precisamente em Adinkerke, vila do município de De Panne), a provar que as iniciativas ambientalmente sustentáveis podem estimular o turismo. Entre 2015 e 2017, quando as viagens eram grátis aos fins-de-semana e feriados, o número de utilizadores ao domingo crescera 78%. Em França, existem ainda mais 15 cidades com transportes públicos gratuitos: uma delas é Colomiers, em Toulouse, que já em 1971 dispunha de tarifas gratuitas para transportes públicos.

Propomos uma experiência diferente em Copenhaga. Na capital da Dinamarca, os recursos naturais representam poupança de dinheiro e de tempo. É que nas águas desta cidade há táxis a pousar de porto em porto, atendendo às necessidades da população – a partir de 2020, isto acontecerá de uma forma ambientalmente limpa. Os táxis marítimos actuais serão substituídos por outros movidos a electricidade, “totalmente neutra em dióxido de carbono, com emissões zero de óxido de nitrogénio e partículas”. Frank Jensen, presidente da câmara de Copenhaga, adiantou ao Politiken que o investimento é de 10 milhões de coroas dinamarquesas. Em Ærø, uma ilha mais a sul e de grande tradição industrial marítima, está a ser desenvolvido um ferry movido também a electricidade. Espera-se que o E-Ferry deslize pelas águas daquela ilha já no primeiro trimestre de 2019.

Open Day: Mobilidade sustentável
A inovação tecnológica, a modificação de comportamentos e todas as dúvidas sobre as crescentes soluções que vão surgindo são apenas alguns dos temas em discussão no dia 30 de Outubro, num open day organizado pelo PÚBLICO, com o objectivo de partilhar conhecimentos, ideias e boas práticas sobre o impacto da mobilidade na vida das pessoas e nas cidades e o futuro que nos espera no nosso dia-a-dia. No Centro Cultural de Belém, em Lisboa, a partir das 9h de dia 30.

Mudança de continente: em Buenos Aires, na Argentina, há carrinhas comerciais verdes e vermelhas no trânsito. São da Andreani, empresa de logística que resolveu apostar em veículos totalmente eléctricos. Para já está a iniciar-se o teste piloto, apoiado pelo Governo da cidade — que tem vindo a promover o Plano de Mobilidade Limpa. Aponta-se que “o transporte na cidade de Buenos Aires seja responsável por 28% das emissões” de gases poluentes e os veículos comerciais são dos que mais se vêem de um lado para o outro nas estradas. Um dos objectivos do Plano de Mobilidade Limpa (que também é apoiado pelo Ministério dos Transportes da Argentina) é reduzir as emissões de dióxido de carbono em 14%, nos transportes, até 2035. É desafiante: o Governo de Buenos Aires estima que sejam feitas mais de seis milhões de viagens diárias de carro na cidade.

O último cenário desta viagem contempla muitas bicicletas — e recompensas monetárias para quem pegar numa e pedalar para o trabalho. É algo que o Governo holandês está a tentar fazer acontecer: constituir um sistema através do qual se pague “19 cêntimos por cada quilómetro percorrido de bicicleta” àqueles que pedalem de casa para o local de trabalho. Enquanto isso não acontece, em Brabant, uma região no mesmo país, há um projecto que dá prémios ao quilómetro. Os B-Riders, para além de um nome cool, têm-se mantido nas bicicletas mesmo depois de terem conquistado as recompensas prometidas.

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