sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Novos alojamentos locais também serão travados na Madragoa e no Bairro Alto, mas autarcas querem alargar proibição

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Novos alojamentos locais também serão travados na Madragoa e no Bairro Alto, mas autarcas querem alargar proibição

Samuel Alemão
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12 Outubro, 2018

A partir do dia 22 de Outubro, não será mais possível registar novos apartamentos para a actividade de Alojamento Local (AL) nos bairros de Castelo, Alfama e Mouraria, como já era sabido desde Julho passado, mas também no Bairro Alto e na Madragoa. A novidade foi avançada na manhã desta quinta-feira (11 de Outubro), pela Câmara Municipal de Lisboa (CML), durante a reunião de vereação, na qual foi apresentado um “Estudo Urbanístico e Visão Estratégica do Turismo em Lisboa“, fundamentando as medidas de contenção agora apresentadas e que antecedem o regulamento que a cidade deverá apresentar nos próximos meses.

A medida de contenção, cujos contornos definitivos foram agora conhecidos, havia já sido anunciada de forma parcial em Julho passado e o Bloco de Esquerda (BE) fez questão de relembrar publicamente, ainda na tarde de ontem, depois do fim da reunião de vereação, de que a mesma era resultante do acordo de governação assinado entre o partido e os socialistas, após as eleições autárquicas do ano passado. “Finalmente, será regulado o AL em Lisboa. Agora a suspensão avança no Bairro Alto e Madragoa, mas terá de ser expandido para outras zonas sobrecarregadas. Estas medidas decorrem do acordo entre o BE e o PS em Lisboa”, escreveu no Twitter o vereador bloquista Manuel Grilo.

 O estudo encomendado pela câmara faz um diagnóstico do fenómeno do alojamento local na capital e da sua relação com o mercado habitacional, com especial enfoque no de arrendamento. E se aponta os cinco bairros (Bairro Alto, Madragoa, Castelo, Alfama e Mouraria) onde os licenciamentos serão barrados de imediato, identifica também como áreas a “monitorizar” a Baixa, os eixos das avenidas da Liberdade, Almirante Reis e da República, bem como as zonas da Ajuda, de Campo de Ourique, de Campo de Santana, da Graça e da Estrela/Lapa. Mas a medida cautelar está já a ser considerada como muito tímida pelos presidentes das juntas de freguesia da Misericórdia e da Estrela, que defendem o alargamento geográfico do seu raio de acção.

Na definição das zonas sujeitas a “contenção” e a “monitorização” foi tido em conta o “rácio ponderado AL/fogos habitação permanente”, no qual se destacam claramente os tais cinco bairros, sendo seguidos de perto pela Baixa e pelos eixos das avenidas da Liberdade, da República e Almirante Reis. Esta ponderação estatística não foi, no entanto, suficiente para deixar satisfeitos por inteiro os autarcas das zonas que agora se preparam para verem congelados os licenciamentos de novas unidades de alojamento local. Sobretudo os responsáveis pela gestão do território dos dois novos bairros incluídos na “lista vermelha”, Madragoa e do Bairro Alto. A medida peca por escassez da sua abrangência consideram Carla Madeira (PS), presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, onde se inclui o Bairro Alto, e Luís Newton (PSD), presidente da Junta de Freguesia da Estrela, onde se situa a Madragoa.

 “A aprovação desta medida é positiva, dada a situação que vivemos no Bairro Alto, mas entendo que se revela muito escassa, pois toda a freguesia deveria ser incluída na zona de contenção, porque tal é necessário”, diz a autarca da Misericórdia, pedindo que esse desejo seja tido em conta no novo regulamento do AL para a cidade, a ser discutido e aprovado no prazo máximo de um ano, como dita a lei. “Esta proibição é bem-vinda, porque se tem de começar por algum lado. O caminho faz-se caminhando. Mas estamos a falar de um problema que não se faz sentir apenas no Bairro Alto, na Bica, em Santa Catarina ou no Cais do Sodré, mas em toda a freguesia, em todos os nossos bairros. Irei acrescentar esse ponto à discussão, irei lutar por isso”, promete Carla Madeira, para quem se revela óbvio que o território pelo qual é responsável se encontra à beira da ruptura.



Também o seu homólogo da Estrela considera que o congelamento agora anunciado para a zona da Madragoa, como parte do plano de contenção temporária prévio à aprovação do desejado regulamento, se revelará escasso no efeito que produzirá. “Trata-se de uma medida cega da Câmara de Lisboa, que peca por ser pouco abrangente. Há, claramente, mais zonas da freguesia a merecer esse suspensão, porque existem outras territórios da Estrela onde este fenómeno do alojamento local em excesso se tem feito sentir”, afirma Luís Newton, apontando como exemplos o Bairro da Fonte Santa, Alcântara Velha ou a zona compreendida junto à Calçada da Estrela.

 Ao contrário da autarca da Misericórdia, Luís Newton não defende o alargamento a toda a freguesia da medida cautelar, mas considera que aplicá-la apenas na Madragoa trará consequências negativas. “O que se vai passar aqui é um pouco como sucede quando a EMEL chega a um bairro e não actua nas zonas envolventes. Também aqui vamos assistir a uma enorme pressão do alojamento local nas áreas à volta da Madragoa”, vaticina o presidente da junta, que lamenta “o facto de isto ter sido feito à revelia da junta de freguesia”. “Gostam de falar na descentralização administrativa e do assumir de mais responsabilidades pelas freguesias, mas nisto fizeram ouvidos de mercador. Nem a um telefonema tivemos direito. Esta medida foi produzida por pessoas fechadas dentro de um gabinete, a teorizarem sozinhas”, critica.

 Newton promete que defenderá maiores limitações durante a discussão do regulamento, mas teme que também este processo não venha a decorrer da forma mais adequada. “O regulamento já deveria estar a ser discutido, já deveria ter sido criado um grupo de trabalho, convidando as freguesias a darem a sua opinião sobre a matéria. Temo que se demorarmos mais três ou seis meses a aprovar o regulamento, poderemos estar a colocar em risco a eficácia da própria medida”, considera, lamentando que a “CML não tenha utilizado instrumentos que tem ao seu dispor para refrear situações como a da transformação de lojas e de outros estabelecimentos em unidade de AL”. “Temos de agir rápido, pois a procura vai continuar a aumentar”, diz.

O que entra em linha com o que diz Miguel Coelho (PS), presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, o qual lamenta “o atraso com que chega a medida”. O autarca que tem sob sua tutela os bairros do Castelo, Alfama e Mouraria – os quais já haviam sido anunciados como áreas de congelamento de licenciamentos, desde a aprovação da nova legislação, em Julho passado – diz-se “satisfeito, por enquanto”, com a abrangência geográfica da medida cautelar, mas critica a demora na aprovação do novo enquadramento legal. “Tenho pena que estas restrições não tenham sido adoptadas mais cedo. Gostaríamos que isto já tivesse sido criado no ano passado, pelo menos. Temos andado a alertar para a situação há vários anos. Mas é melhor isto que nada”, afirma.

O autarca não pede, para já, o alargamento das suspensões de novos licenciamentos ao resto da freguesia – os bairros da Baixa e do Chiado -, mas encara tal possibilidade como uma inevitabilidade. “A este ritmo, não nos restará outro remédio se não trancar o Chiado e a Baixa”, afirma. “Para já, vamos aplicar estas medidas e, com sentido de responsabilidade, ver o que fazer a seguir”, diz.

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