OPINIÃO
Uma
questiúncula
VASCO PULIDO VALENTE
04/03/2016 - PÚBLICO
No
meio desta cena de mau gosto não se ficou a saber ao certo o que na
essência separava o dr. Lamas do ministro.
Como o dr. João
Soares muito bem sabe, não tenho por ele qualquer respeito nem como
homem, nem como político. Houve pessoas – Teresa Gouveia e José
Manuel Fernandes – que, a propósito do “caso Lamas”,
descobriram agora a insignificância e a grosseria dessa lamentável
personagem. Chegam tarde. Claro que o ministro podia ter chamado
discretamente o director do CCB para o demitir, alegando, como está
no seu direito, falta de confiança política ou pessoal. Mas João
Soares preferiu fazer do incidente um espectáculo público. Ameaçou
o dr. Lamas, exibiu os seus poderes (que lhe vêm exclusivamente do
cargo) e no fim ainda se foi gabar para a televisão. Não se percebe
o motivo de toda esta palhaçada, excepto se pensarmos que ele é no
governo um verbo-de-encher e que o PS o atura por simples caridade.
Infelizmente, no
meio desta cena de mau gosto não se ficou a saber ao certo o que na
essência separava o dr. Lamas do ministro. O dr. Lamas fizera uma
obra extraordinária em Sintra, restaurando monumentos, do palácio
da Pena ao chalet da condessa de Edla, reabilitando jardins, acabando
com os crónicos prejuízos da parte cultural da vila. Mas,
transferido para o CCB em 2014, resolveu repetir a receita e
transformar a zona entre a Ajuda e Belém no seu segundo parque
turístico. Embora publicado na internet, nem a televisão, nem os
jornais, que discutem as mais sufocantes banalidades, discutiram o
plano do dr. Lamas. Mesmo o ministério da Cultura e a CML não se
manifestaram. E quando o sr. Soares desembarcou no governo decidiu
liquidar a coisa sem uma palavra de explicação.
Isto de mandar no
povinho sem sequer o informar não é bonito. Sendo lisboeta, não me
apetece muito que entre a Ajuda e Belém apareçam durante o ano
inteiro milhares e milhares de turistas, tapando a vista e
atravancando as ruas. Mas gostaria de saber o que o dr. Lamas pensa
sobre o assunto e já agora o que pensa, se pensa alguma coisa, o sr.
Soares. De resto, a mais preliminar consideração pelas pessoas
exige que os moradores do sítio sejam previamente consultados.
Reconheço que a vontade do país não é a grande preocupação do
dr. Costa, mas não custava muito ouvir as pessoas que, em última
análise vão, ou não vão, ser vítimas da fantasia urbanística do
ministério da Cultura ou da CML. Dissertações sobre a falta de
maneiras do dr. João Soares não nos levam longe.
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