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EDITORIAL/ PÚBLICO
O
novo job de Maria Luís
DIRECÇÃO EDITORIAL
03/03/2016 - PÚBLICO
A ex-ministra das
Finanças vai para uma financeira. Com ligações ao Banif.
A ex-ministra das
Finanças, uma das pessoas que neste país melhor conhece os dossiers
relativos ao Banif, acaba de ser contratada por uma empresa
financeira britânica que está envolvida na avaliação dos activos
tóxicos deste banco. Além do Banif, a carteira de clientes da Arrow
Global inclui, entre outros, títulos tão importantes como o BCP,
Santander, Montepio e Banco Popular, gerindo activos no valor de 5,5
mil milhões de euros. Ou seja, Maria Luís Albuquerque, a quem como
governante competia a gestão da dívida pública nacional e a
salvaguarda do sistema financeiro, vai passar agora para uma empresa
especializada na angariação e recuperação de dívida pública e
privada e de análise de risco.
Antecipando-se à
polémica que esta contratação vai provocar, a actual deputada do
PSD já veio negar "influência" nas decisões tomadas pela
Arrow Global, que a meio do ano passado adquiriu duas sociedades
portuguesas, a Whitestar Asset Solutions e a Gesphone, que
conseguiram consideráveis mais-valias na gestão e venda de crédito
mal parado do Banif. De notar, que a mesma Arrow Global ainda mantém
fortes expectativas relativamente a negócios em curso ligados ao
mesmo banco.
Mas Maria Luís
Albuquerque não se limitou a antecipar o mar de dúvidas suscitado
pela sua entrada na financeira britânica, quis também prevenir os
danos políticos que a sua decisão pode causar ao PSD e evitar as
fortes críticas de que já está a ser alvo, devido à acumulação
do seu cargo de deputada com o de directora não-executiva para o
Comité de Auditoria Risco da financeira britânica. Daí o
comunicado a dizer que não há "nenhuma incompatibilidade ou
impedimento legal" e a rotular "qualquer outra leitura"
sobre esta nomeação como "mero aproveitamento
político-partidário". Ou seja, Maria Luís Albuquerque quer
fazer-nos acreditar que o facto de ter sido ministra de Estado e das
Finanças e a sua actual qualidade de deputada não pesam nesta
contratação. Mais, deseja fazer crer que as suas futuras funções
valem pouco. "São de natureza estritamente executiva",
diz. Mas não é isso que pensa a Arrow Global cujo comunicado começa
logo por realçar as actuais e anteriores funções políticas de
Maria Luís no desempenho de "cargos de topo no Ministério das
Finanças e no Tesouro público português". Quem não quer ser
lobo não lhe veste a pele e é óbvio que esta contratação merece
passar pelo crivo da Comissão de Inquérito ao Banif, com início
este mês, e que, entre outros aspectos, deverá investigar o papel
do anterior Governo no estado a que o Banif chegou. Ora Maria Luís
Albuquerque está no lugar cimeiro dos responsáveis políticos cujas
decisões (ou omissões) neste caso poderão ler lesado gravemente os
cofres públicos, razão pela qual todas as suas acções devem ser
escrutinadas. Infelizmente, os resultados destas comissões de
inquérito têm fraquíssimas consequências, mas para a imagem de
Passos Coelho e do PSD, o novo job de Maria Luís terá, a curto
prazo, efeitos devastadores.
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