Investigação
começa a revelar uma teia jihadista espalhada pela Europa
FÉLIX RIBEIRO
28/03/2016 - 16:16 (actualizado às 21:12)/ PÚBLICO
Fim-de-semana
termina com detenções em Itália, Holanda e Bélgica. Começa-se a
descortinar uma rede alastrada, versátil e descentralizada que as
autoridades europeias ignoraram ao longo de vários meses. Em
Bruxelas, o “homem do chapéu” afinal não foi capturado.
A investigação à
rede jihadista por detrás dos atentados de Bruxelas e Paris começou
a semana com mais suspeitos por encontrar e novos locais por onde
encontrá-los. A procuradoria belga revelou esta segunda-feira que
não tem provas que liguem Fayçal Cheffou aos ataques bombistas
contra o aeroporto de Zaventem e que o homem que acusou durante o
fim-de-semana de ter cometido homicídios terroristas sairia em
liberdade. O taxista que o identificou como o terceiro atacante
estava errado e o “homem do chapéu” avistado à entrada do
aeroporto continua fugido.
Não é o único. As
operações antiterrorismo desencadeadas pelos atentados da última
semana revelam quase diariamente novos suspeitos e ligações nas
células jihadistas plantadas na Europa — estimativas da imprensa
belga e norte-americana sugerem que há pelo menos oito radicais
conhecidos em fuga. A rede do grupo Estado Islâmico é mais vasta do
que as polícias europeias suspeitavam. Vai mesmo para além daquilo
que indicaram François Hollande e Manuel Valls — Presidente e
primeiro-ministro franceses — quando se começaram a revelar as
ligações entre os jihadistas de Bruxelas e Paris. A teia está
espalhada e as operações deste fim-de-semana demonstram-no.
No sábado, as
autoridades italianas capturaram um argelino de 40 anos chamado
Djamal Eddine em Bellizzi, no Sul do país, procurado desde Janeiro
por suspeitas de ser o chefe de uma antiga fábrica de documentos
falsos montada em Bruxelas. Das suas mãos terão saído documentos
falsificados para vários terroristas do grupo Estado Islâmico,
incluindo alguns jihadistas que atacaram Paris em Novembro e para
pelo menos um dos bombistas que se fez explodir na capital belga há
uma semana.
No domingo, seguindo
um outro rasto, a polícia holandesa capturou um francês de 32 anos
em Roterdão, este suspeito de fazer parte de um novo plano de
atentado contra a capital francesa, travado na última semana a
poucos dias de ser posto em prática. No mesmo dia, uma cadeia de 13
rusgas em Bruxelas acabou com nove detenções. Seis pessoas acabaram
por ser libertadas, mas três foram acusadas esta segunda-feira de
“actividades terroristas”. A procuradoria belga identifica-os
simplesmente como Yassine A., Mohamed B. e Aboubaker O. e recusa-se
por enquanto a dizer mais para além de garantir que, por enquanto,
não há“ligação estabelecida com os atentados” em Bruxelas.
A Bélgica acusou
sete pessoas de ligação a organizações terroristas, actividades
terroristas ou “homicídios terroristas” desde a passada
quinta-feira — as acusações contra Cheffou mantêm-se, apesar de
ele ter sido libertado. Poucos suspeitos — se algum — estarão
directamente ligados aos ataques contra Bruxelas ou Paris. Sujeitos
como Abderahmane Ameuroud, por exemplo, o veterano jihadista
dramaticamente baleado e detido numa paragem de eléctrico em
Schaerbek, parecem ter ligações aos planos de atentado falhado
contra Paris. Os outros fazem parte da estrutura montada pelo Estado
Islâmico na Europa, cuja verdadeira dimensão só agora se começa a
revelar.
O Wall Street
Journal revela esta segunda-feira que a teia de ligações entre
presumíveis jihadistas na Europa atingiu uma dimensão tal que, nos
últimos dias, procuradores belgas e franceses decidiram pedir ajuda
aos Estados Unidos de forma a “mapearem a extensão da rede”. A
tarefa não é fácil, escreve o especialista em segurança do
Financial Times, Sam Jones, que, em conversa com responsáveis dos
serviços de informação e antiterrorismo na Europa, explica que o
grupo Estado Islâmico tem vários meses de vantagem: a decisão de
direccionar dinheiro para células fora do Médio Oriente, argumenta,
foi tomada ainda em 2014.
“Não há um único
cérebro atrás disto. Há uma série de grupos cujo objectivo é
planear operações na Europa que parecem estar a trabalhar de forma
independente, cada um filiado a uma diferente unidade militar do
Estado Islâmico”, escreve Sam Jones. O resultado, “com o qual as
forças de segurança sentem ainda dificuldades em lidar”, é uma
rede “dinâmica e multifacetada” que se tem revelado um alvo
“evasivo e adaptável”. “Os serviços de informação
ocidentais subestimaram as ambições do Estado Islâmico durante
meses”, conclui Sam Jones no Financial Times.
Número de mortos
aumenta
A ministra belga da
Saúde revelou esta segunda-feira que quatro pessoas feridas nos
atentados em Bruxelas morreram no hospital, o que eleva o número de
vítimas para 35, incluindo os três bombistas-suicidas. “As
equipas médicas fizeram tudo o que era possível”, garantiu a
ministra. Há ainda sete vítimas por identificar. A maioria das
vítimas é belga, mas contam-se também 12 pessoas de nove
nacionalidades diferentes.
Cumprida uma semana
dos atentados, as instituições europeias reabrem esta terça-feira
com medidas de segurança reforçadas. Estava previsto acontecer o
mesmo com o aeroporto de Zaventem, que esperava já uma reabertura
parcial para o mesmo dia, mas a sociedade gestora anunciou que afinal
não há data prevista para se retomarem os voos de passageiros. Os
estragos causados na zona de embarque exigem que o aeroporto reabra
com estruturas temporárias, que começam a ser testadas terça-feira.
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