terça-feira, 8 de março de 2016

Apresentação do livro de Henrique Raposo "Alentejo prometido"



Henrique Raposo com direito a cante alentejano de protesto

08.03.2016 às 20h2081
HUGO FRANCO / EXPRESSO

Sala cheia na Bertrand do Picoas Plaza, em Lisboa, para a apresentação do livro que deu polémica nos últimos dias

Um grupo de dez homens levanta-se das cadeiras e canta em coro uma canção. Foram três minutos de cante alentejano, que não estava no programa. Quando acabaram de cantar, os homens levantaram-se e saíram da sala apinhada da Bertrand do Picoas Plaza, em Lisboa, deixando algumas palavras de descontentamento. A causa do protesto, 100% pacífico, era o livro de Henrique Raposo, “Alentejo Prometido” (Fundação Francisco Manuel dos Santos).

Foi o único incidente numa noite de casa cheia na livraria lisboeta, onde decorreu a apresentação oficial do livro. Havia seguranças privados e alguns agentes da PSP, dentro e à porta da Bertrand. Tudo para prevenir eventuais manifestações mais físicas. Não as houve.

“Tudo calmo. Tranquilo”, disse Henrique Raposo ao Expresso minutos antes do início da cerimónia. O autor discursou uns poucos minutos, tocando só ao de leve na polémica que incendiou as redes sociais nos últimos dias. “As coisas têm a sua importância relativa”. E explicou a frase. Nas últimas semanas sofreu com a morte de duas tias que lhe eram queridas. Arrumou assim o folclore em torno dos seus comentários no programa da SIC Radical, e de algumas ideias do livro onde fala sem rodeios do suicídio, ou da violência no Alentejo.

Uma dezena de homens fez ouvir o cante alentejano na sala. Depois de três minutos de protesto 100% pacífico foram-se embora

“Sobre o livro falarei muito pouco. E para se falar dele é preciso lê-lo”, o recado estava dado.

Ao seu lado estavam o escritor José Rentes de Carvalho, um transmontano, e o jornalista Henrique Monteiro, um beirão. E foi sobre raízes que mais falou: “O dilema do livro não é o Alentejo mas o do complexo do desenraizado. É triste não ter um sítio que é o da minha terra. Sinto inveja pelos que a têm”.

A plateia, onde se encontrava Alexandre Soares dos Santos, na primeira fila, Zita Seabra, Pedro Mexia ou Ricardo Araújo Pereira, estava presa nas palavras do jovem escritor e cronista do Expresso. “Estão aqui pessoas de esquerda e de direita. Do Norte e do Sul do país. Era bom que o país fosse mais parecido com esta sala”, desabafou.

Não faltou a crítica a um certo Portugal. Um país, que para Henrique Raposo, foge da violência a sete pés. “Onde estão os filmes sobre a PIDE? Sobre as FP25? Sobre a Guerra Colonial, que pesou mais aos portugueses do que a do Vietname aos norte-americanos”.

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