“Shopping in a
Turkish bazaar is never wise for the novice.”
POLITICO
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Turquia
pede mais três mil milhões de euros à UE para travar fluxo de
refugiados
RITA SIZA 07/03/2016
- 14:15 / PÚBLICO
Primeiro-ministro
Ahmet Davutoglu chegou a Bruxelas com novas exigências, arrastando a
cimeira possivelmente para os próximos dias.
A União Europeia
está disponível para duplicar o pacote financeiro de três mil
milhões de euros atribuído à Turquia para o acolhimento no país
de refugiados sírios, se em contrapartida Ancara se comprometer a
reforçar as suas acções na fronteira para travar o fluxo
migratório com destino ao território europeu. Essa é a premissa
para um novo acordo entre os Vinte e Oito e o Governo de Ancara —
do qual depende o sucesso da cimeira entre a União Europeia e a
Turquia que deixou de ter prazo para terminar.
Os parceiros
reunidos em Bruxelas foram surpreendidos de manhã com a apresentação
de "novas ideias" pelo primeiro-ministro turco, Ahmet
Davutoglu, no âmbito do acordo que foi assinado no Verão para
responder à crise migratória e de refugiados. Perante o
recrudescimento da crise, as divisões políticas europeias e a
complicação da situação no terreno, a Turquia subiu a parada:
para garantir a sua colaboração, a Europa teria de rever os termos
da sua oferta, nomeadamente os financeiros. Antes de começar, a
cimeira extraordinária que se adivinhava difícil por causa da
tensão entre os vários Estados-membros ganhava uma nova camada de
incerteza e potencial desacordo entre os participantes.
Um novo documento de
trabalho, com as exigências turcas, foi rapidamente posto a circular
entre os 28 chefes de Estado e de governo da União Europeia, que
tiveram de rever o protocolo e o prazo da cimeira: o jantar que já
deveria ser solene tornou-se uma nova sessão de trabalho conjunta, e
a aprovação do comunicado final foi atirado para o dia seguinte —
talvez. "Vários países mostraram-se abertos às novas ideias,
mas não estão preparados para fechar um acordo sem ter mais tempo
para avaliar todas as implicações. Todos saúdam a maior ambição
do novo compromisso, mas são necessários mais esclarecimentos. Nada
será decidido esta noite, os trabalhos continuam nos próximos
dias", anunciou um porta-voz ao início da noite.
O rascunho em
discussão, que foi divulgado pela Reuters, assenta na duplicação
das verbas (três mil milhões de euros) que Bruxelas se propôs
transferir para o Governo turco garantir a instalação dos cerca de
dois milhões de refugiados sírios que fugiram para o país e
reforçar a sua vigilância da fronteira, de forma a travar à
partida o fluxo migratório para a Europa. Ancara pediu mais: como
sublinhava o Presidente Recep Tayyip Erdogan, numa declaração
televisiva à hora do almoço, "já gastámos 10 mil milhões de
euros para alojar três milhões de pessoas. Eles prometeram dar-nos
três mil milhões, passaram quatro meses e nada. Espero que o
primeiro-ministro traga mais dinheiro quando voltar de Bruxelas”,
afirmou.
As habituais fontes
diplomáticas citadas sob anonimato garantiam que a União Europeia
está disponível para duplicar as suas transferências, até aos
seis mil milhões de euros em 2018, se Ancara assumir a
responsabilidade de receber a população que está actualmente
retida nas ilhas e na fronteira da Grécia — refugiados sírios,
mas também migrantes vindos do Iraque, do Afeganistão ou do Norte
de África, num total que pode ascender a mais de 40 mil pessoas. Com
mais dinheiro, comprometeu-se Davutoglu, o Governo turco poderá
assegurar abrigo a outros candidatos a asilo na Europa, tanto aqueles
que são interceptados na fronteira, como aqueles que já viram os
seus pedidos recusados em países da UE, e são reenviados para a
Turquia.
"Vamos
esclarecer uma coisa. Os três mil milhões que a União Europeia
disponibilizou não são para a Turquia, são para os refugiados
sírios que se encontram na Turquia", sublinhou o porta-voz do
primeiro-ministro turco, Osman Sert, ao Politico. As propostas,
segundo o mesmo assessor, confirmam o interesse do seu país em
colaborar com a Europa para "pôr um fim à actual tragédia"
— na véspera da reunião dos chefes de Estado e de Governo, mais
25 migrantes, entre os quais dez crianças, naufragaram no mar Egeu.
O mesmo site dizia que, apesar de considerarem a proposta como
"credível", vários dirigentes da UE sentiam-se incapazes
de dar o seu aval ao desembolso de mais dinheiro, com alguns a pedir
para consultar os respectivos parlamentos antes de decidir matérias
com implicações orçamentais.
Como resumiu um
diplomata citado pela Reuters, Ancara “está a oferecer mais mas
também a pedir mais. A ambição é maior, em todos os aspectos”.
E os pedidos da Turquia não têm exclusivamente a ver com
refugiados: "Não viemos só falar de migrações, outras
questões são importantes para nós, como o processo de adesão da
Turquia e outras matérias regionais", referiu o porta-voz
governamental.
Davutoglu queria
aproveitar para, de uma penada, renegociar o fim das restrições de
entrada de cidadãos turcos no espaço europeu, adiantando já para o
próximo mês de Junho a liberalização do acesso e o fim dos
vistos, e ainda apressar o início das conversações formais para a
entrada do país na União Europeia. Duas exigências que mereceram
logo a objecção de vários líderes — muitos dos quais
tencionavam aproveitar a visita de Ahmet Davutoglu a Bruxelas para
lhe exprimir a sua preocupação com a deriva autoritária do Governo
de Ancara, e o desrespeito de vários direitos fundamentais, como da
liberdade de expressão e de imprensa no país.
O presidente do
Parlamento Europeu, Martin Schulz, deitou mais água fria nas
aspirações do líder turco, considerando que as questões relativas
ao acolhimento de refugiados e o processo de adesão não podem nem
devem ser abordados em simultâneo. “São matérias distintas e que
têm de ser discutidas separadamente”, declarou. “A adesão é um
processo assente no mérito. E nesse sentido, temos de olhar para o
cumprimento da lei, para a separação de poderes, para o respeito
pela imprensa e as instituições turcas. Há uma série de questões
delicadas que não podem ser ignoradas”, observou.
Antes de serem
conhecidas as novas ideias da Turquia, a principal discordância
entre os vários líderes dos Vinte e Oito tinha a ver com a proposta
de encerramento "oficial" da rota dos Balcãs aos
refugiados, vertida para o rascunho de comunicado a ser aprovado na
cimeira. A solução insere-se na redefinição do modelo de gestão
de chegada de refugiados e gestão das fronteiras do espaço
Schengen: reúne o apoio do bloco de Leste e da Áustria, mas conta
com a oposição da chanceler da Alemanha, Angela Merkel.
Entretanto, o
primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, garantiu numa
mensagem publicada no Twitter que o seu país não participará em
nenhuma agência comum para o processamento de pedidos de asilo e
redistribuição de refugiados, se Bruxelas avançar para essa
solução.
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