sábado, 2 de março de 2013

Moçambique. Oposição vai questionar quem pagou viagem de Isaltino.




Moçambique. Oposição vai questionar quem pagou viagem de Isaltino
Por Sílvia Caneco, publicado em 2 Mar 2013 in (jornal) i online
Autarca de Oeiras intentou acções em tribunal contra construtor que agora se tornou seu sócio num dos novos negócios em Maputo


O presidente da Câmara de Oeiras, Isaltino Morais, escolheu para sócio de uma empresa que constituiu em Moçambique um construtor contra quem interpôs duas acções em tribunal em Maio por causa das Parcerias Público-Privadas (PPP) do concelho: Fernando Rodrigues Gouveia, dono da construtora MRG.
Apesar das alegadas divergências, em Outubro, o autarca escolheu-o como um dos quatro sócios da empresa Messa Energia, que constituiu na capital moçambicana, Maputo. E no final do ano, quando ainda esse dado não era conhecido, disse numa reunião de câmara ter chegado a um acordo para pagar ao construtor civil uma indemnização de 37 milhões de euros.
A juntar a estes dados, sabe-se que, no final deste mês, o autarca esteve em visita oficial, precisamente a Moçambique. O representante do Bloco de Esquerda na Assembleia Municipal de Oeiras, Miguel Almeida Pinto, vai apresentar um requerimento na Câmara de Oeiras a questionar a coincidência dos negócios privados de Isaltino em Moçambique e a visita oficial do autarca àquele país. Miguel Pinto quer saber quem pagou a viagem e a estada e quem integrava a delegação que seguiu na visita oficial. Mas também quem pagou outras viagens do autarca: uma anterior, com destino a Moçambique, e outra a Cabo Verde. Miguel Pinto reclama que o erário público não pode pagar viagens que incidam sobre negócios privados do autarca.
O i avançou a 19 de Fevereiro que Isaltino tinha ido para Moçambique sem conhecimento do tribunal que o condenou. Ao contrário do que manda a lei, o autarca não avisou a juíza de Oeiras que tem em mãos o processo em que foi condenado de que iria sair do país. À data, o i tentou saber qual a agenda da alegada “visita de trabalho” a Moçambique, mas não obteve qualquer informação da autarquia. Ontem o “Público” apontava para uma coincidência: antes da visita oficial, Isaltino criou, em Setembro e Outubro, duas empresas naquele país: a Magoco, dedicada ao turismo e à caça, e a Messa Energia, de comercialização de material eléctrico.
Um autarca não pode exercer outras funções, mas a lei não o impede de ser sócio de empresas. Só estarão em causa ilegalidades se essas sociedades vierem a prestar serviços aos municípios ou a empresas municipais.
A construtora MRG é sócia da autarquia em duas PPP - a Oeiras Expo e a Oeiras Primus - que foram visadas num relatório do Tribunal de Contas que apontava para uma série de infracções financeiras. E ainda suspeitas de corrupção nos contratos entre a MRG e várias autarquias estão a ser investigadas pelo Ministério Público.
Em Maio, a câmara interpôs duas acções em tribunal porque a construtora não teria pago o direito de superfície, previsto nos contratos. No final do ano, Isaltino Morais disse numa reunião de câmara terem chegado finalmente a um acordo sobre uma das parcerias: a autarquia estava disposta a pagar 37 milhões de euros. Como percebeu que teria uma forte oposição - apurou o i -, o autarca retirou essa proposta da ordem de trabalhos. Uma das obras em curso no concelho - o Centro de Saúde de Algés - foi adjudicada à MRG.

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