As grandes manobras do PS
Por Vasco Pulido Valente
24/03/2013 in Público
Com ou sem a influência das grandes personagens do partido, a partir do momento em que o Bloco e o PC resolveram apresentar uma moção de censura ao Governo, era inevitável que o PS os seguisse. Não o fazer era ficar definitivamente agarrado à direita e o PS sempre se esforçou e quase sempre conseguiu ser o ponto médio do regime à volta do qual toda gente se podia entender. E, por isso, apesar do ar imberbe e manso de Seguro e da sua retórica de catequista católico nunca houve a menor dúvida de que, tarde ou cedo, o PS viraria à esquerda: uma esquerda respeitosa, veneradora do euro e de Bruxelas, muito bem calculada para não assustar a "moderação" bem-pensante e conservar a uma distância decente o radicalismo que não entra no "arco governativo".
Claro que, mesmo assim, a "Europa" não gostou e não perdeu tempo a manifestar ao sr. Seguro o seu desprazer. Um funcionário anónimo veio logo dizer que Bruxelas preferia "um consenso político" (um "consenso" dos partidos ditos democráticos) para executar "as reformas" do memorando e outras que por aí apareçam em caso de necessidade. Mas, mesmo assim, Seguro persistiu. Porque, além do Bloco e do PC, tem de contar com a sua própria confusão interna. O PS está dividido em meia dúzia de facções, que se odeiam ou, pelo menos, desprezam: do dr. Alegre e Mário Soares aos fiéis devotos do dr. Costa, de "socratistas" sem memória ou emenda e até a um pequeno grupo que pretende modestamente e sem mais cerimónias mudar de cima abaixo a Constituição e a lei eleitoral.
O método clássico para tratar estas desordens consiste, como se sabe, em atiçar a canzoada a um inimigo comum, no caso ao Governo de Passos Coelho. Não sem garantir uma obediência humilde à sra. Merkel e lhe garantir que o PS não tocará em nada de essencial, como, aliás, nunca tocou ou tocará. Claro que a moção de censura equilibra as coisas cá dentro e, em última análise, favorece Passos Coelho, agora sustentado pelo CDS e por uma oposição inócua e, pior do que isso, obrigada a ir atrás do Governo pela triste realidade do país. Só que o sr. Seguro não se interessa por estes pormenores. Para ele chegam os meses de paz periclitante que lhe irá trazer a falsa unidade do partido. Até que a hipocrisia agora militante acabe com um sarilho qualquer, provocado por meia dúzia de militantes, que não gostam dele ou simplesmente se aborrecem.
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