domingo, 24 de março de 2013

Lisboa ganhou um novo passeio para peões e ciclistas à beira-Tejo."Gostamos dos contentores na cidade", diz António Costa".


Lisboa ganhou um novo passeio para peões e ciclistas à beira-Tejo
Por Inês Boaventura
24/03/2013 – in Público
Amanhã começa a segunda fase da requalificação da Ribeira das Naus, que vai permitir recuperar a memória industrial e marítima do local

A frente ribeirinha de Lisboa encheu-se ontem de notáveis e de populares que não quiseram perder a reabertura da Ribeira das Naus. Embora a segunda fase da requalificação deste espaço ainda esteja por concretizar, peões e ciclistas podem já usufruir de um novo passeio e de uma convidativa rampa que desce até ao Tejo, recriando uma praia que existiu no local.

O presidente da Câmara de Lisboa frisou que com a obra agora concluída fica restabelecido, "com dignidade", o percurso entre o Cais do Sodré e o Terreiro do Paço, permitindo a fruição deste espaço por peões e ciclistas. Mas, como fez questão de dizer António Costa, "todos têm direito à vida" e por isso os automóveis não foram esquecidos e podem agora circular numa nova avenida, paralela ao rio e com uma via em cada sentido.

"É uma obra que valoriza a cidade e certamente o papel da Marinha na cidade", defendeu o autarca, revelando que a próxima fase dos trabalhos arranca já amanhã. Essa empreitada vai incluir a reposição da Doca Seca (construída em 1790) e da Doca da Caldeirinha (que remonta a 1500), bem como a criação de uma área ajardinada a fazer lembrar as antigas rampas de varadouro, outrora utilizadas pelas embarcações. Acções que na opinião de António Costa "valorizarão todo este espaço do ponto de vista museológico e da recriação daquilo que foi o contributo único da Marinha Portuguesa para os Descobrimentos e para toda a gesta marítima portuguesa".

"Este lugar era uma área industrial e é importante mostrar esse uso que foi dado ao território e enfatizá-lo", disse por sua vez o vereador da Reabilitação Urbana e vice-presidente do município. "Será uma área de lazer onde ficarão marcadas, com a reposição a descoberto, as estruturas que estiveram na sua origem", explicou Manuel Salgado. A expectativa da autarquia é que pelo menos os novos espaços ajardinados possam abrir ao público até ao fim deste ano.

Para o vereador Manuel Salgado, a requalificação da Ribeira das Naus, da autoria dos arquitectos paisagistas João Nunes e João Gomes da Silva, deve ser vista como "mais uma peça do puzzle" que é a frente ribeirinha de Lisboa, com 19 quilómetros de extensão. O terminal de cruzeiros de Santa Apolónia e a requalificação do Campo das Cebolas, ambos projectados pelo arquitecto Carrilho da Graça, são outras das peças que a Câmara de Lisboa quer concluir. A esse propósito, Manuel Salgado deixou um aviso: "Projectos desta dimensão de transformação da cidade não são compatíveis com os ciclos políticos, tudo isto precisa de tempo para ser feito."

Na cerimónia de inauguração que se realizou ontem de manhã marcaram presença, além de vários vereadores da autarquia e da presidente da Assembleia Municipal, deputados socialistas como Ferro Rodrigues e Inês de Medeiros e os antigos administradores da sociedade Frente Tejo, extinta no fim de 2011. Presente esteve também o secretário de Estado do Mar, Manuel Pinto de Abreu, que destacou o "grande simbolismo" da requalificação da Ribeira das Naus, "numa fase em que Portugal está a procurar regressar ao mar".

Já o chefe do Estado-Maior da Armada lembrou que "a história da Ribeira das Naus e da Marinha são indissociáveis". O almirante José Saldanha Lopes garantiu que a Marinha "abraçou este desígnio" de requalificação deste espaço "desde o início", mas admitiu que para "não comprometer a solução arquitectónica" proposta foi preciso encontrar formas de "salvaguarda da segurança física e funcional das infra-estruturas militares".

Num texto ontem distribuído aos jornalistas dizia-se que no futuro será possível "ver a Doca Seca onde eram recuperadas as Naus das Descobertas, reencontrar o antigo Cais da Caldeirinha e as estruturas do Palácio Corte Real". Esse edifício, erguido em 1585 e onde viveu o infante D. Pedro, foi destruído com o terramoto de 1755, mas obras do Metropolitano de Lisboa realizadas na década de 90 do século passado revelaram vestígios do palácio que estavam soterrados.

Mas a intenção de pôr a descoberto as ruínas desse edifício ficou, como confirmou ao PÚBLICO Manuel Salgado, pelo caminho. O mesmo aconteceu com o polémico silo automóvel de três pisos pensado para a zona do Largo do Corpo Santo. Segundo o vereador, irão ser procuradas outras soluções para resolver a quest? ?o do estacionamento, "na Avenida 24 de Julho e no lado do Campo das Cebolas".


"Gostamos dos contentores na cidade", diz António Costa".
Numa altura em que o Governo se prepara para criar um novo terminal de contentores na Trafaria, no concelho de Almada, o presidente da Câmara de Lisboa fez ontem questão de frisar a importância de a capital não deixar de ter um porto de mercadorias. "Gostamos dos contentores na cidade. Há quem diga que são feios. São feios mas são cinco mil postos de trabalho que temos de defender", disse António Costa durante a cerimónia de abertura da Ribeira das Naus. "Gruas, pórticos, cargueiros e contentores", frisou o autarca, "fazem parte da paisagem" de uma cidade que "não pode passar a ser simplesmente um cenário para visitas". O presidente do município defendeu ainda que os 19 quilómetros de frente ribeirinha de Lisboa têm de ser utilizados "com inteligência". Algo que na opinião de António Costa implica apostar em "diversas actividades" para as várias parcelas de terreno em causa. Entre elas, enunciou, "actividades turísticas, de lazer, portuárias de mercadorias, portuárias para passageiros e funções essenciais à soberania nacional", como a Marinha.

Sem comentários: