Polémica. “Ai aguenta, aguenta”. Fernando Ulrich faz mea culpa
Banqueiro acredita que o governo negociou “de uma forma mais dura com a troika”, disse na SIC.
Fernando Ulrich, presidente executivo do BPI, fez ontem mea culpa à célebre e polémica declaração: “Se o país aguenta mais austeridade? Ai aguenta, aguenta!”
Por Sandra Almeida Simões, publicado em 15 Mar 2013 in (jornal) i online
“[A declaração] foi mal interpretada. Não consegui transmitir a mensagem que queria, problema meu”, desculpou-se o banqueiro, convidado especial do programa Quadratura do Círculo, transmitido ontem na SIC Notícias. "Essa frase foi dita numa intervenção de 15 minutos em o que eu fiz foi justificar o chamado 'Plano Merkel' para a Europa do Sul", explicou o presidente do BPI, acrescentando que "é fundamental que a economia cresça e se não o conseguirmos é inexorável que a situação da maioria da população piore". Ulrich acrescenta ainda que "um dos erros da troika foi pensar que uma austeridade indispensável num primeiro momento seria automaticamente encadeada num processo de crescimento económico virtuoso". Em causa estão as declarações polémicas proferidas nos últimos meses. Em Outubro do ano passado, quando questionado se o país aguenta mais austeridade, respondeu: “Ai aguenta, aguenta”. Com esta declaração Fernando Ulrich saltou para as primeiras páginas dos jornais, ao mesmo tempo que se multiplicaram as críticas, sobretudo, nas redes sociais. Já este ano, na apresentação das contas do BPI relativas a 2012, usou uma analogia com os sem-abrigo. “Se os gregos aguentam uma queda do Produto Interno Bruto de 25% os portugueses não aguentariam porquê? Somos todos iguais, ou não?”, questionou. «Se você andar aí na rua e infelizmente encontramos pessoas que são sem-abrigo, isso não lhe pode acontecer a si ou a mim porquê? Isso também nos pode acontecer», explicou, dirigindo-se a um dos jornalistas presentes. “E se aquelas pessoas que nós vemos ali na rua, naquela situação e sofrer tanto, aguentam, porque é que nós não aguentamos? Parece-me uma coisa absolutamente evidente.” Em Fevereiro, Ulrich foi chamado ao parlamento, no âmbito das audições sobre os planos de recapitalização da banca com recurso ao apoio estatal, recusando-se a apresentar um pedido de desculpas público por ter relativizado o esforço dos portugueses face à austeridade e ter usado a analogia com os sem-abrigo. “Não recebo lições de sensibilidade social de ninguém. Essas lições tive-as em casa, na escola e na religião católica”, afirmou em resposta à pressão do deputado socialista João Galamba para que apresentasse um pedido de desculpas. “Seria um gesto gratuito estar a pedir desculpa numa situação em que não sinto essa necessidade.” Fernando Ulrich tentou explicar as suas declarações: “É pior estar desempregado e estar desempregado há muito tempo do que suportar aumento de impostos. É a minha perspectiva. Penso que aquilo que eu tenho dito são afirmações absolutamente banais e não vejo por que é que alguém se choca com elas.” Ontem, Ulrich abordou ainda a questão do desemprego. “Se não pusermos economia a crescer, mesmo que o PIB fique a zero, não sei onde vai parar o desemprego [...] Não me passa pela cabeça que isso aconteça ou que isso seja bom”, explicou, acrescentando que “se pensasse isso devia ser internado”. Para o banqueiro, a solução não passa apenas por políticas macro económicas. “São necessárias actuações voluntaristas.” Fernando Ulrich disse ainda partilhar a visão de uma “sociedade entristecida, desmotivada”. Ainda assim, confessa, “a situação está a mudar”. “O governo negociou de uma forma mais dura com a troika, é a minha convicção.”
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