Mercado do Rato fecha no fim do mês com muitas críticas dos comerciantes
Por João Pedro Pincha in Público
Aviso da Câmara de Lisboa chegou com menos de um mês de antecedência e os vendedores discordam das indemnizações propostas
Os comerciantes do Mercado do Rato, em Lisboa, foram terça-feira informados verbalmente de que o espaço encerrará as suas portas no fim do mês de Março. Até lá, deverão optar por mudar-se para outro mercado ou por receber uma indemnização. A notícia do encerramento do velho mercado - escondido mesmo à entrada da Rua de Alexandre Herculano, por trás de um discreto pórtico - foi transmitida aos seis comerciantes que ainda lá exercem a sua actividade por um assessor do vereador José Sá Fernandes e apanhou-os de surpresa.
"Pensávamos que vinham com propostas aliciantes [de reabilitação do espaço], mas afinal querem mandar-nos para a rua a pontapé", diz José Saraiva, dono do restaurante Cantinho do Rato, onde está há 12 anos e onde, sublinha, gastou cerca de "12 mil contos" (60.000 euros) em equipamentos. "O valor da indemnização proposto é muito baixo para os anos que aqui estivemos e para o investimento que foi feito."
A mesma crítica faz Maria de Lurdes, proprietária do Snack-bar do Mercado, situado um pouco mais acima: "Há 14 anos que aqui estamos e oferecem-nos 4500 euros para nos irmos embora." A alternativa seria mudarem-se para outro mercado municipal, mas, para já, apenas José Barata, proprietário da banca de venda de bacalhau, admite essa hipótese.
Aberto ao público desde 1927, o Mercado do Rato está actualmente reduzido a seis espaços comerciais: dois restaurantes, uma padaria, uma banca de fruta, uma de roupa e uma de bacalhau. A 31 de Dezembro do ano passado, Fernando Sarabando, talhante naquele espaço desde 1969, abandonou o local, juntamente com outro comerciante que explorava um talho especializado em frangos e as duas últimas peixeiras. "Já não ganhávamos para a renda", conta, atribuindo a decadência do mercado à abertura de um Pingo Doce no Largo do Rato em 2011.
Maria de Fátima Rebelo, que ali vende fruta, "queria que as coisas corressem a bem" e acha que o processo de encerramento está a ser incorrecto. "Estou aqui desde antes do 25 de Abril, mas eles [os responsáveis camarários] dizem que é só desde 2000." Também ela não quer partir para outro lado, devido à clientela que foi criando ao longo dos anos. "Fazem o que querem da gente, aqui já há clientes, noutro sítio transtorna mais", acusa, pelo que prefere receber a indemnização. Contactado pelo PÚBLICO, o porta-voz do vereador Sá Fernandes, João Camolas, assegura que o processo está a decorrer de acordo com os regulamentos municipais.
Para José Barata, a câmara "não diz a verdade toda e quer fazer um condomínio de luxo" nos terrenos do mercado - uma opinião que é partilhada pelos restantes vendedores. O porta-voz camarário garante, todavia, que o encerramento do mercado ocorre apenas por motivos de segurança, dado o avançado estado de degradação das instalações.
Maria de Lurdes pensa que tudo não passou de uma estratégia. "Deixaram o mercado bater no fundo para fazerem isto", diz, apoiada por José Saraiva, do Cantinho do Rato: "Deixaram isto degradar-se propositadamente, estão a agir de má-fé".
O Plano de Urbanização da Avenida da Liberdade e Zona Envolvente prevê a criação de um parque de estacionamento com 600 lugares no espaço actualmente ocupado pelo Mercado do Rato e nos terrenos anexos, bem como a "instalação de actividades de comércio, serviços e equipamentos de utilização colectiva". Para já, garante a câmara, não está prevista a concretização de qualquer destes projectos.
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