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O
périplo de Merkel
TERESA DE SOUSA
28/08/2016 – PÚBLICO
A
chanceler aprendeu que os desafios que vai encontrar se quiser um
quarto mandato são muito mais difíceis do que simplesmente impor
disciplina financeira aos países do Sul da Europa.
1. Não vale a pena
preocuparmo-nos muito com o novo “directório” que se apresentou
na semana passada no deck de um porta-aviões italiano. Matteo Renzi
convidou Angela Merkel e François Hollande para uma “minicimeira
informal” com a intenção de mostrar que existe Europa para lá do
Brexit e que a Itália está preparada para desempenhar o seu papel
de “grande” europeu, deixado vago pelo Reino Unido. O líder
italiano escolheu cuidadosamente o cenário. Primeiro, a pequena ilha
rochosa onde estiveram presos durante a II Guerra alguns resistentes
italianos que, talvez por isso mesmo, imaginaram a melhor forma de
acabar com as trágicas “guerras civis” europeias, entre os quais
Altiero Spinelli. Mas também um dos dois porta-aviões italianos, o
Garibaldi, usado como símbolo de uma Europa que quer pôr a
segurança no topo da sua agenda política. O porta-aviões italiano
teve um papel muito importante como âncora das operações de
salvamento da Marinha italiana (e posteriormente europeia) nos
últimos anos, uma missão que Roma cumpriu exemplarmente, mesmo
quando não era apoiada por ninguém. Não significa, no entanto, que
os três líderes tenham qualquer plano para uma defesa europeia no
sentido hard da palavra. Berlim e Paris estão completamente em
desacordo sobre a matéria, mesmo que a chanceler tenha percebido que
o seu país vai ter de fazer muito mais nessa dimensão. A questão é
de enquadramento: na NATO ou fora da NATO. Não se espera que, nas
actuais circunstâncias, a chanceler tenha qualquer vontade de
afectar a aliança transatlântica. A Itália sempre foi uma base
sólida da presença dos Estados Unidos. Hollande, depois de ser ter
afirmado como um aliado fiel de Obama no Mediterrâneo e no Médio
Oriente, entrou na fase do vale tudo para ganhar votos, voltando a
tocar a melodia do antiamericanismo de que os franceses tanto gostam,
animado pela saída do cavalo de Tróia britânico. Entre os
porta-aviões, os refugiados, o terrorismo e as preocupações de
Renzi com o crescimento da economia, não há grande substância no
resultado desta minicimeira. Renzi joga o seu futuro (e o do seu
país) num referendo no Outono para aprovar uma reforma
constitucional essencial para desbloquear o sistema político
italiano, acabando com um regime parlamentar em que a Câmara Baixa e
o Senado têm praticamente as mesmas funções e os mesmos poderes,
transformando qualquer decisão legislativa num verdadeiro inferno.
Na conferência de imprensa a bordo do Garibaldi, a promessa de “mais
Europa” ou “mais integração” (Merkel prefere dizer
prudentemente “melhor”) já foi levada pelo vento. Basta pensar
que hoje, na maioria dos países europeus, a vontade de mais
integração é mais ou menos nula.
2. Para Merkel, este
encontro foi apenas um dos muitos que está a realizar com os seus
parceiros europeus de forma a tentar minorar da melhor forma possível
os danos políticos, económicos e estratégicos que o Brexit traz à
Europa e encontrar um caminho aceitável para o futuro. Já esteve
com os parceiros de Leste; está neste fim-de-semana com os parceiros
do Norte (Finlândia, Holanda, Suécia e Dinamarca) onde as
preocupações são outras. A neutralidade da Suécia e da Finlândia
já deixou de fazer sentido porque desapareceu um dos blocos em
confronto, mas ainda está muito enraizada na população dos dois
países, desaconselhando uma entrada imediata para a NATO. O problema
é que a Rússia, com a qual a Finlândia tem uma longa fronteira, se
transformou numa ameaça imprevisível. Seria mais fácil para os
dois países uma “defesa europeia” separada da NATO e dos EUA?
Dificilmente. Basta olhar para Helsínquia onde o Governo decidiu
negociar um tratado de defesa com os Estados Unidos, que quer
concluir antes de Obama sair da Casa Branca. O ministro da Defesa
(porventura para não dar pretextos a Moscovo) esclareceu que não há
nesse tratado um Artigo 5.º ao estilo da Aliança. Mas não é
preciso pensar muito para perceber que os finlandeses estão a jogar
pelo seguro. A invasão da Ucrânia alterou profundamente a situação
de segurança europeia. Putin criou um conflito que não tenciona
resolver. Congela-o ou descongela-o de acordo com a sua nova
estratégia de intimidação.
3. Voltando a
Merkel, a sua agenda europeia é vasta. Está preocupada com o novo
governo polaco, que regressou a uma linguagem virulenta contra a
Rússia, mas lhe acrescentou uma linguagem muito pouco amiga da
Alemanha. A chanceler passou muito tempo a tentar estabelecer uma boa
relação com a Polónia, que agora teme ver destruída. Na Hungria,
a Europa está confrontada com um problema ainda mais complexo:
Viktor Órban (um pró-ocidental e thatcherista convicto quando da
queda do Muro) está a construir aquilo que ele próprio designa por
“democracia iliberal” (ou seja, sem imprensa livre e sem
tribunais independentes) e a fazer de Putin um novo amigo, como de
resto fazem os movimentos nacionalistas que grassam na Europa
Ocidental. A tudo isto soma-se uma crise dos refugiados ainda muito
longe de estar resolvida, em que a Europa se dividiu profundamente e
em que Merkel (com a Itália, Grécia, Suécia e Portugal) tomou uma
posição corajosa e generosa, muito impopular no seu país, mas
cujas fundamentos ainda não rejeitou.
Agora, a sua maior
preocupação é o Brexit, que, ao contrário de outros grandes
países, ela leva muito a sério. Ainda ontem o Financial Times
chamava a atenção para as suas palavras em Varsóvia, avisando que
o Brexit “não é apena um acontecimento qualquer”. “É uma
quebra profunda na História da integração europeia e, por isso, é
necessário encontrar uma resposta cuidadosa”. Mais uma vez, não
tem "a culpa" de conseguir olhar para o Brexit de um ponto
de vista estratégico. Amainou a pressa de alguns governos (o francês
à cabeça) para iniciar negociações. Disse uma coisa óbvia mas
que só ela é que diz: que o Reino Unido vai ter de manter uma
ligação especial com a União. Ou seja, não estamos a falar da
Noruega, do Liechtenstein ou da Suíça. Fá-lo por interesse
próprio, evidentemente. O mercado britânico é um dos principais
destinos das exportações alemãs topo de gama. Mas também porque a
posição da Alemanha numa Europa sem o Reino Unido é mais
facilmente sentida como excessiva. A chanceler aprendeu nos últimos
tempos que os desafios que vai encontrar se quiser um quarto mandato
são muito mais difíceis do que simplesmente impor disciplina
financeira aos países do Sul da Europa. E também sabe que não pode
contar muito com Hollande, que já só tem um pensamento: passar à
segunda volta nas presidenciais de Abril. A triste história do
burkini é apenas um sintoma de total desorientação dos socialistas
e do seu Governo e uma lamentável tentativa de se mostrar tão firme
como a direita contra a comunidade muçulmana, num ambiente em que o
terrorismo alimenta toda a espécie de medos. Se isto já é mau, as
presidenciais de 2017 demonstram que a França não consegue
renovar-se politicamente. O regresso de Sarkozy à ribalta ou a
emergência dos dois mesmíssimos candidatos da esquerda radical de
há cinco ano, Arnauld de Montebourg e Jean-Luc Mélenchon, mostra
que a renovação da esquerda francesa (e também da direita) não
está para já. Esperemos por Bratislava mas não esperemos grandes
visões.
Jornalista
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Merkel,
Hollande, Renzi: Symbolism, but no substance
Leaders
take to deck of aircraft carrier to declare that everything will be
fine, post-Brexit.
By
Matthew Karnitschnig
and Jacopo Barigazzi
8/22/16, 10:55 PM
CET
Updated 8/22/16,
10:56 PM CET
BERLIN — Faced
with a fall political season clouded by the specter of Brexit,
terrorism and shaky financial markets, leaders of the EU’s dominant
powers declared their resolve to revive the flagging fortunes of a
Continent unnerved by a seemingly endless streak of crises — but
offered few clues about how they would do so.
Standing in the
afternoon sun on the deck of an Italian aircraft carrier, Europe’s
new club of three — Germany’s Angela Merkel, France’s François
Hollande and Italy’s Matteo Renzi — invoked Europe’s past
glories as they promised better times ahead.
“Many thought
after the Brexit decision that Europe was finished. That is not the
case,” Renzi, flanked by his two colleagues, said. “We will write
the next page of our future.”
For now, it remains
blank.
Monday’s meeting
was billed as a “consultation” ahead of an informal summit of 27
EU members in Bratislava next month to discuss a post-Brexit Europe.
Germany, sensitive to criticism from smaller countries who complain
of its dominance, has stressed the importance of including all member
countries in the debate. But Berlin would also like to have a broad
consensus on the key points with Paris and Rome before the summit.
German Chancellor
Angela Merkel, French President Francois Hollande and Italian Prime
Minister Matteo Renzi pay their respects at the tomb of Altiero
Spinelli | Carlo Hermann/AFP/Getty Images
German Chancellor
Angela Merkel, French President Francois Hollande and Italian Prime
Minister Matteo Renzi pay their respects at the tomb of Altiero
Spinelli | Carlo Hermann/AFP/Getty Images
Like the meeting the
trio held in Berlin just days after the Brexit vote in June, Monday’s
gathering offered more symbolism than substance. The leaders offered
no specifics on their strategy for dealing with the Brexit
negotiations, nor did they present new economic proposals or other
plans.
The naval backdrop
may have been unconventional for a discussion of the future of
Europe, where displays of military might are often viewed with
suspicion. Yet the choreography was no accident. The Italian aircraft
carrier, Giuseppe Garibaldi, has played a central role in the EU
effort to combat human smuggling in the Mediterranean.
Renzi rejected
the suggestion there could be a fresh parliamentary election
immediately after Italians vote
More important,
looming behind the leaders as they spoke was Ventotene, a speck of
rock off Naples where in 1941 a group of antifascist prisoners led by
Altiero Spinelli, considered one of the EU’s visionaries, secretly
penned a manifesto calling for a federal Europe.
Renzi, who faces a
referendum on constitutional reform in October that could determine
his political future, was keen to show his home audience that he is
taken seriously in Europe and that he has restored Italy’s position
of influence within the EU after the tumultuous Berlusconi era.
Merkel, eager to
forestall the rise of Italy’s anti-EU 5Star movement, appeared more
than happy to pose for the cameras and offer platitudes on European
unity.
“We paid tribute
to the roots of the European Union today and made clear with the
laying of flowers on Altiero Spinelli’s grave that we understand
where this EU comes from and that it was born in Europe’s darkest
hour,” Merkel said. “We also know that it is our mission in the
21st century to guarantee people security while also living Europe’s
values.”
In the wake of the
recent terrorist attacks in Germany and France, security appeared to
be the area where the three found the most common ground. They
repeated the need for closer coordination within the EU on border
protection and intelligence sharing to combat both terror and the
smuggling of migrants into the bloc.
Beneath the flowery
rhetoric, however, fundamental differences on Europe’s course
remain between the three. France and Italy continue to push for more
public investment to jumpstart their economies, a course that would
require laxer fiscal controls. Germany, Europe’s fiscal scourge,
emphasizes the need for improving members’ competitiveness, code
for the kind of austerity many economists blame for region’s
prolonged economic malaise.
With the French
election set for next spring and Germany’s in the fall of 2017, the
differences between the three capitals over how to reform Europe, and
particularly the eurozone, are unlikely to be resolved anytime soon.
Authors:
Matthew Karnitschnig
and
Jacopo Barigazzi
Germany
warns UK ‘you can’t keep the nice things’ after Brexit
'If
we organise Brexit in the wrong way, then we'll be in deep trouble'
Alexandra Sims
16 hours ago
German's economy
minister has said that Britain should no be allowed to keep the "nice
things" as it negotiates its departure from the European Union.
Sigmar Gabriel said
that the world was watching how Britain manages Brexit and that
Europe could go "down the drain" if things go badly.
"Brexit is bad
but it won't hurt us as much economically as some fear. It's more of
a psychological problem and it's a huge problem politically," Mr
Gabriel said, noting that the world was now looking at Europe as an
unstable continent.
"If we organise
Brexit in the wrong way, then we'll be in deep trouble. So now we
need to make sure that we don't allow Britain to keep the nice
things, so to speak, related to Europe while taking no
responsibility," he added.
His comments come
amid growing tensions on the continent and in the UK.
Mr Gabriel said
negotiations would be "very difficult" and that Britain
would not be able to have both full access to the single market and
limits on the freedom of movement of workers.
Theresa May has set
her stall out as a "Brexit means Brexit" leader. A
Eurosceptic who remained neutral during June's EU referendum, Ms May
says her government will abide by the results of the vote and intends
to open exit negotiations with EU colleagues next year.
But a meeting this
Wednesday, in which ministers will discuss with the Prime Minister
how to make a success of Brexit, comes in the face of opposition from
civil servants and growing tensions among the senior ministers in
charge of negotiations.
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