Editorial / PÚBLICO
Um
homem sério
Direcção Editorial
30/08/2016 – 19:38
Todos
tínhamos percebido menos Pedro Santana Lopes. Agora, o Tribunal
Europeu dos Direitos Humanos veio explicar: era apenas ironia.
Um dos piores males
humanos, não circunscrito a Portugal, mas abundante q.b. entre nós,
é a auto-consideração. Os portugueses levam-se muito a sério, têm
demasiadas certezas absolutas e ofendem-se por pouco. A história dos
duelos não é mais do que a história dos homens com excesso de
auto-consideração. De todas as figuras retóricas, a ironia é a
mais incompreendida. Em 2004 Santana Lopes teve essa dificuldade. Viu
numa ironia um insulto capaz de pôr em causa, “de forma grave e
séria”, o seu bom nome pessoal e profissional e, além disso, a
sua capacidade para ser primeiro-ministro. Esta era a frase: “Será
um delírio provocado por consumo de drogas duras, uma nova
originalidade nacional ou apenas um disparate sem nome?” Santana
Lopes é um homem sério e com homens assim não se brinca. Pediu 150
mil euros. O tribunal deu-lhe razão, mas baixou para 30 mil. Doze
anos depois, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos veio dizer o
contrário e lembrar que o jornalista quis, “como é evidente”,
ser irónico. E apenas isso.
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