É claro que o
efeito inflacionário no preço das casas em Setúbal vai ser o mesmo
que em Lisboa.
Portugal à venda
para estrangeiros em idade de reforma e que usufruem de um Paraíso
também FISCAL …
OVOODOCORVO
( …) “O enorme
diferencial criado entre os preços médios, o potencial de
valorização financeira e simbólica dos investimentos no
imobiliário, e as elevadas isenções para os investidores externos,
transformaram o centro histórico de Lisboa num paraíso fiscal. O
que é uma imoralidade em si mesma. Mas, igualmente grave, este é um
paraíso fiscal que não está a transmitir razoável retorno à sua
sociedade e aos seus residentes. Pelo contrário. As saídas e as
incapacidades de entrada no mercado imobiliário provocadas pelo
abismo entre investidores externos com amplas capacidades e
benefícios fiscais, e os que pretendem residir e trabalhar na
cidade, conduzem a uma segunda imoralidade. Investimento externo,
claro que deve ser promovido; temos excelentes condições para
propiciar boas rentabilidades. Mas que seja com ética e com
moralidade. E que a comunidade sinta que é beneficiada.”
João Seixas
Casas
velhas de Setúbal são autênticos paraísos para construtor francês
Setúbal
15 DE AGOSTO DE 2016
00:05
Rute Coelho
Laurent Maugé já
recuperou e vendeu 47 imóveis antigos na capital do Sado e tem cada
vez mais estrangeiros interessados
Comprar casas
antigas nas ruas mais típicas do centro de Setúbal, mesmo que
estejam em ruínas, recuperá-las respeitando a traça de outros
tempos e voltar a vendê-las. Eis o negócio de Laurent Maugé, um
construtor francês amante de barcos à vela, que há cinco anos se
instalou com a família na capital sadina para estar próximo do mar.
Já lá vão 47 imóveis transacionados. A maioria dos clientes são
portugueses, mas acentua-se a procura entre estrangeiros, sobretudo
em idade de reforma. É de França que estão a chegar mais
interessados.
O que leva um
francês que trabalha há mais de 30 anos na construção civil a
investir nas casas degradadas de Setúbal? Laurent Maugé, hoje com
59 anos, tem a resposta na ponta da língua: "Não se encontra
nada assim na Europa." Alude ao bom tempo, muito sol, praias,
comida, vinho e um custo de vida "muito mais barato" face a
França, por exemplo. "Uma casa custa metade do preço, um café
custa 60 cêntimos e lá é um euro e meio", explica o gestor da
empresa Elegante Critério, que conta com um sócio português
conhecedor da região, descrevendo ainda a autenticidade que
encontrou pelas ruas da baixa sadina como "incrível",
tratando-se de um dos maiores argumentos na hora de convencer a
clientela.
"Sobretudo os
estrangeiros ficam encantados com as fachadas das casas e com a forma
como as gentes de cá os recebem. Percebem que há aqui algo muito
típico na arquitetura, coisas com mais de cem anos e isso é
decisivo", explica o empresário. Admite que se deixa
impressionar, sobretudo, com moradias a cair de velhas, cujas
fachadas têm cerca de quatro metros de largura, com uma porta
pequena que dá acesso a uma escadaria íngreme, mas que permite
descobrir "autênticos paraísos. Parece mentira como é que ali
dentro estão pátios tão bonitos e casas que dá para fazer tanta
coisa. É de ficar de boca aberta", diz.
Revela que quem está
a comprar no centro da cidade nem procura casas com grandes áreas.
"Um T2 com 70 ou 80 metros quadrados já é suficiente",
admite, perspetivando que o negócio cresça em breve. Isto numa
altura em que, segundo diz, o passa-palavra sobre as vantagens
portuguesas já funciona em França, de onde está a receber cada vez
mais contactos de interessados em viver por cá. "Nem preciso de
promover lá as casas. Trabalho com agências imobiliárias que
tratam disso. Já há associações francesas criadas por bancos que
ajudam os reformados a abrir contas em Portugal."
Laurent Maugé
estima, perante a experiência dos últimos tempos, que "entre
2% e 3% dos turistas franceses" que visitem Setúbal decidam
ficar aqui a viver. "Depois, ou compram ou alugam a casa",
sublinha, associando o aumento da procura ao recente anúncio que
transforma a zona ribeirinha num resort de luxo com marina e dois
hotéis, através de um investimento na ordem dos 250 milhões de
euros. Também por isto admite vir a intensificar a sua presença no
mercado, mesmo enfrentando o obstáculo da "burocracia" que
caracteriza os imóveis mais antigos e já bastante degradados da
baixa sadina. "Há casas tão antigas que custa muitos entrar em
contacto com os proprietários. Há herdeiros que já nem estão em
Portugal, enquanto algumas casas só já mantêm as fachadas e são
perigosas para a via pública", alerta.
Aliás, uma vistoria
realizada pelos serviços camarários em 2011 apurou que o centro de
Setúbal tem cerca de 400 imóveis cujos proprietários não eram
conhecidos. "É uma pena, porque há coisas lindas que têm
muita procura." Laurent tem um especialista para tratar dos
casos mais bicudos, mas há processos que são morosos e caros, pelo
que acabam por não justificar o investimento. "Há pessoas que
receberam casas há 50 anos e que nunca fizeram nada", diz,
havendo também quem tenha prédios antigos e quase a cair, mas que
reclame valores proibitivos. "Alguém disse a essas pessoas que
têm ali palácios", ironiza, antes de partir para a visita de
um apartamento que se perfila como possível negócio. Se avançar
será mais um para reformar, da canalização às janelas e à
eletricidade. Demora cerca de dois meses, se correr pelo normal.
"Gostava de ter capacidade económica para ficar com os imóveis
e arrendar, mas ainda não consigo. Talvez um dia."
Já bateu a pé
todas a ruas do centro de Setúbal, estando de olhos postos num
edifício ali para os lados do Largo do Bocage que depois de
restaurado vai permitir disponibilizar vários quartos para o
turismo. Com calma, que neste ramo de atividade é preciso apostar no
jogo da paciência.
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