Olhe
que não, Dr.ª Canavilhas!
JOSÉ MARIA AMADOR
11/04/2016 - PÚBLICO
Foi
António Lamas, quando Presidente do Instituto do Património (IPPC),
que criou, em finais dos anos 80, a zona monumental Ajuda-Belém.
Vem este “desabafo”
a propósito da publicação de um artigo da autoria de Gabriela
Canavilhas, ex-ministra da Cultura, publicado neste jornal,
intitulado “António Lamas, uma demissão óbvia”. Se fosse tão
“óbvia” a demissão do Prof. António Lamas, certamente que não
haveria tanta polémica em torno da mesma. E não é “óbvia” por
duas questões: a primeira, na forma e nos termos em como foi
demitido; a segunda, nos fundamentos (a maioria falsos) que
justificaram a sua demissão.
Em relação à
primeira questão, praticamente tudo já foi dito: ninguém tem o
direito vir para a praça pública achincalhar um homem que tem um
trabalho, notável, realizado em nome do interesse público, quer
como Presidente do antigo IPPC, actual DGPC, quer como Presidente do
Conselho de Administração da Parques de Sintra-Monte da Lua,
empresa pública com a missão de reabilitar o imenso património
paisagístico e cultural, classificado de Património da Humanidade.
O Prof. Nunes Correia, então ministro do Ambiente do governo
socialista, teve o bom senso de nomear alguém com perfil adequado
para valorizar tão vasto património que estava em muito mau estado
e o resultado está à vista. Lá diz o ditado popular que “pior
que um cego é aquele que não quer ver.” A própria articulista
reconhece no seu artigo que António Lamas é “um homem com um
passado de inegável mérito na gestão patrimonial e cultural”.
Quando ministra da
Cultura, a Dr.ª Canavilhas teve que gerir várias áreas do seu
sector, algumas das quais pouco conhecia, nomeadamente a gestão do
património cultural, pelo que nomeou o actual Presidente do CCB
Secretário de Estado da Cultura, a fim de gerir a referida área.
Elísio Summavielle foi sempre um “homem do património” como o
próprio afirma. Então, por que razão foi nomeado Presidente do
CCB, um homem do património, tal como António Lamas que “nada
percebe de programação das artes performativas, de espectáculo”?
Se António Lamas reconhece que não percebe desta área, nomeia,
para a sua equipe, um especialista da mesma, tal como fez quando era
gestor da Parques de Sintra, Monte da Lua, e também como fez a Dr.ª
Canavilhas quando era Ministra da Cultura. Ou seja, este argumento
não colhe, não tem pés para andar, a não ser que a Dr.ª
Canavilhas considere ter o perfil adequado para Presidente do CCB.
A meu ver, a questão
é outra: António Lamas passou a ser um empecilho para o projecto de
requalificação do eixo Ajuda-Belém, reconhecido pelas entidades
envolvidas como necessário, pela simples razão que nunca se
deixaria subalternizar numa parceria entre o M.C. e a Câmara de
Lisboa. Ou seja, Lamas está a mais.
Quanto à comparação
que a articulista faz entre o Plano de Ajuda-Belém do ex-presidente
do CCB e a exposição do Mundo Português dos anos 40, que designa
por “revivalismo à António Ferro”, é bom que saiba que essa
exposição extraordinária, comemorativa dos 800 anos da
independência de Portugal, muito contribuiu para a requalificação
e a dignificação da zona monumental de Belém.
De referir ainda que
foi António Lamas, quando Presidente do Instituto do Património
(IPPC), que criou, em finais dos anos 80, a zona monumental
Ajuda-Belém, estabelecendo regulamentos de protecção em relação
ao património edificado situado na zona, bem como condicionantes em
relação a projectos de construção, alteração ou demolição.
Gestor do Património
Cultural, aposentado
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