Chefes
do fisco terão criado despesas falsas para beneficiar empresários
MARIANA OLIVEIRA ,
PEDRO SALES DIAS e PEDRO CRISÓSTOMO 13/04/2016 - PÚBLICO
Megaoperação
da PJ leva à detenção de três chefes de finanças, um inspector
tributário, três técnicos e um advogado, membro do Centro de
Estudos Fiscais e Aduaneiros. Detidos ainda quatro técnicos de
contas.
Os funcionários do
fisco detidos por suspeita de corrupção, recebimento indevido e
falsidade informática ofereceriam uma panóplia de serviços aos
empresários e outros contribuintes que lhes pagassem avultadas
quantias em dinheiro. Desde criarem despesas falsas para diminuir o
imposto a pagar, a passarem falsas declarações de regularização
de dívidas ao fisco ou a elaborarem requerimentos a pedir a
devolução de coimas, divulgarem informação fiscal e patrimonial
de terceiros e até a prestarem serviços de consultadoria fiscal.
Com a atribuição
de benefícios ilegais, os suspeitos terão lesado o erário em
vários milhões de euros, não tendo ainda os investigadores feito a
contabilidade detalhada do prejuízo. As falsas declarações de
regularização de dívidas ao fisco terão permitido, por exemplo, a
empresários participar em concursos públicos, que lhes deveriam
estar vedados.
Entre os 15 detidos
ontem pela Polícia Judiciária numa megaoperação levada a cabo
pela Unidade Nacional de Combate à Corrupção na zona da Grande
Lisboa estão, além de três técnicos das finanças, três chefes
de repartição e um inspector tributário. Todos integravam a
Direcção de Finanças de Lisboa. Duas são chefes de finanças das
repartição de Lisboa 8, no bairro de Alvalade, e de Lisboa 6, no
bairro da Encarnação, e um outro é chefe adjunto da repartição
de Finanças de Lisboa 4, em Arroios. Nas 120 buscas realizadas nesta
operação, designada Tax Free, foram visitados os serviços onde
estes responsáveis trabalham e alguns onde os mesmos já tinham
estado anteriormente.
São interrogados
esta quarta-feira
Foi ainda detido um
advogado, membro do Centro de Estudos Fiscais e Aduaneiros da
Autoridade Tributária, quatro técnicos oficiais de contas, dois
empresários e um consultor fiscal. Todos foram transportados para o
estabelecimento prisional anexo à sede da PJ, em Lisboa, onde vão
passar a noite desta terça-feira. Já esta quarta-feira serão
identificados e começarão a ser ouvidos por um juiz de instrução
que posteriormente lhes aplicará as respectivas medidas de coacção
a que ficarão sujeitos durante o desenrolar da investigação.
Esta terça-feira, à
hora do almoço, a PJ anunciava que tinha detido 15 pessoas, “entre
as quais se encontram funcionários, advogados, empresários e
técnicos oficiais de contas, pela presumível prática dos crimes de
corrupção activa e corrupção passiva para acto ilícito,
recebimento indevido de vantagem e falsidade informática”. Não
foram constituídos mais arguidos.
Antes, já a
Procuradoria-Geral da República (PGR) divulgara que entre os
suspeitos havia “um director de serviços da Autoridade Tributária
(AT), um director de finanças adjunto, um membro do Centro de
Estudos Fiscais e Aduaneiros da Autoridade Tributária”. Só o
último se confirmou. O PÚBLICO não conseguiu esclarecer porque é
que entre os suspeitos detidos, os únicos arguidos no inquérito,
não estão afinal detentores daqueles cargos anunciados pela PGR.
Em reacção à
notícia das buscas nos serviços da AT, que estão na alçada do
Ministério das Finanças, a tutela limitou-se a confirmar que “a
operação em curso foi feita com a colaboração” da própria AT,
“que coadjuvou” a PJ. Para o presidente do Sindicato dos
Trabalhadores dos Impostos (STI), Paulo Ralha, “não está em causa
a idoneidade da maioria dos trabalhadores” da máquina fiscal.
“Perante os dados conhecidos, estamos a falar de pessoas com cargos
dirigentes, em lugares de chefia ou direcção, que poderão ter
estabelecido relações com membros da sociedade civil —
fiscalistas, advogados, técnicos oficiais de contas”, afirmou.
Também a Associação
Sindical dos Profissionais da Inspecção Tributária e Aduaneira
defendeu que a competência profissional dos funcionários da AT não
pode ser posta em causa.
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