O
Orçamento Participativo de Lisboa está de volta e traz novidades
Para
“promover uma maior transparência e credibilidade”, quem quiser
votar numa proposta vai ter de indicar o nome e o número de cartão
de cidadão. A fase de apresentação de propostas começa hoje
Inês Boaventura /
18 abr 2016 / PÚBLICO
Tem um projecto para
Lisboa que gostaria de ver concretizado e que acredita que tem
interesse para a cidade e para o comum dos cidadãos? Então
prepare-se para o pôr por escrito e para o submeter à análise da
câmara e à votação popular: a 9.ª edição do Orçamento
Participativo de Lisboa (OPL) arranca hoje.
A fase de
apresentação de propostas decorre de hoje a 12 de Junho. As
votações serão entre 15 de Outubro e 20 de Novembro
Tal como aconteceu
nos últimos anos, a verba reservada pelo município para esta
iniciativa é de 2,5 milhões de euros. Desse valor, um milhão de
euros destina-se à concretização de projectos “estruturantes
e/ou transversais”, com um custo igual ou inferior a 500 mil euros,
e o restante a projectos cujo valor não vá além dos 150 mil euros.
É ao nível desses
últimos projectos que surge uma das novidades da edição deste ano.
Pela primeira vez, está definido que haverá 300 mil euros para cada
uma das cinco Unidades Territoriais de Lisboa — centro histórico;
zona centro; zona oriental; zona ocidental; e zona norte.
A intenção, como
explica ao PÚBLICO o vereador responsável pelos sistemas de
Informação e Relação com o Munícipe, é “aumentar a equidade
territorial” e acabar com “uma certa assimetria” que se vinha
observando em anos anteriores. A partir de agora, frisa Jorge Máximo,
fica garantido que haverá projectos vencedores em todas as áreas de
Lisboa.
Outra novidade
destacada pelo autarca é a “maior ênfase na participação das
juntas de freguesia”. Segundo Jorge Máximo, estas serão
envolvidas na “promoção do Orçamento Participativo nos seus
territórios” e na “avaliação das propostas” submetidas pelos
cidadãos.
Além disso, as 24
juntas de freguesia de Lisboa “serão convidadas a serem as
executantes dos projectos vencedores”, através da assinatura com a
câmara de protocolos de delegação de competências. O vereador
acredita que tal permitirá que as obras necessárias sejam “muito
mais rapidamente” executadas e que se estabeleça “uma interacção
mais próxima” com os proponentes.
Também ao nível da
votação vai haver alterações. Cada pessoa continua a ter direito
a dois votos (um para os projectos “estruturantes e/ou
transversais” e outro para os mais pequenos) e mantém-se a
possibilidade de voto por SMS, mas “serão introduzidas medidas
adicionais de controlo do voto”. Como? “Nomeadamente mediante
indicação de nome e n.º de cartão de cidadão”, lê-se nas
normas de participação, nas quais se acrescenta que o objectivo é
“promover uma maior transparência e credibilidade no processo de
votação”.
Essa ideia é também
frisada por Jorge Máximo, que diz que, apesar de não haver
“sistemas infalíveis”, é preciso fazer o que for possível para
“evitar a fraude”, sem “desmobilizar as pessoas pela
burocratização do processo de voto”.
Concretizadas 32
propostas
Quanto às oito
edições passadas do OPL, o vereador com o pelouro da Relação com
o Munícipe nota que já há mais de cinco mil propostas apresentadas
e quase 180 mil votos. “São números que mostram que este é um
processo de democracia participativa consolidado na cidade”,
avalia.
Em relação aos 88
projectos que venceram essas oito edições, Jorge Máximo constata
que, excluindo os 15 que foram eleitos em Novembro passado, há 32
que já foram concluídos. De acordo com o autarca, outros sete estão
em obra e 19 em fase de contratação.
“Isto mostra que a
execução não é tão negativa quanto muitas vezes é afirmado”,
diz, reconhecendo que “não é fácil implementar alguns projectos
nos tempos que as pessoas desejariam”. A fase de apresentação de
propostas decorre entre 18 de Abril e 12 de Junho, enquanto as
votações terão lugar entre 15 de Outubro e 20 de Novembro.
Hoje, o presidente
da câmara, Fernando Medina, e o vereador Jorge Máximo promovem uma
apresentação pública desta 9.ª edição do OPL. Na ocasião será
também lançada “uma nova plataforma do orçamento participativo”.
Jorge Máximo adianta que ela terá “muito mais informação acerca
do ponto de situação dos projectos” e que um dos seus propósitos
é “facilitar a interacção com os munícipes”.
Críticas do PCP
Depois de no ano
passado o OPL ter registado 42 mil votos, o vereador admite que nesta
edição esse número possa cair um pouco, até porque se vai exigir
aos votantes “mais informação”. Mas, mais do que preocupado com
os números, Jorge Máximo dizse empenhado em assegurar que este vai
ser “um bom orçamento participativo, que valorize a democracia
participativa” e através do qual “os munícipes cada vez mais se
aproximem do município”.
Na reunião de
câmara em que foram discutidas as normas de participação desta
edição e a verba a afectar-lhe, o PCP mostrou-se contra a forma
como o Orçamento Participativo é levado à prática em Lisboa. Ao
PÚBLICO o vereador Carlos Moura critica que se dedique a esta
iniciativa “uma fracção muito, muito pequena” do orçamento do
município e afirma que a capacidade de execução dos projectos “tem
sido bastante baixa”.
O vereador também
tem dúvidas quanto à forma como decorre a votação, por considerar
que esta “permite que pessoas que não têm qualquer ligação à
cidade possam ser chamadas a decidir sobre assuntos de Lisboa”,
além de possibilitar que “grupos organizados dominem as votações”.
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