Candidato
da extrema-direita austríaca é o mais votado nas presidenciais
FRANCISCA GORJÃO
HENRIQUES 24/04/2016 - PÚBLICO
Hofer
vai à segunda volta, mas esta vitória prova a capacidade de a crise
dos refugiados "provocar ondas de choque a toda a Europa".
O candidato da
extrema-direita é o claro vencedor das presidenciais deste domingo
na Áustria, segundo indicam as primeiras projecções. Norbert Hofer
não está, no entanto, dispensado de uma segunda volta, marcada para
22 de Maio.
Hofer, do Partido da
Liberdade da Áustia (FPÖ), candidatou-se com uma agenda
anti-imigração e anti-Europa. Terá conseguido 36% dos votos,
segundo a projecção do canal ORF, com base em sondagens à boca das
urnas. Este é o melhor resultado do partido numas eleições
nacionais desde a II Guerra Mundial, e é bastante mais elevado do
que previam os estudos de opinião. O jornal Financial Times escreve
que esta "vitória poderosa" vem mostrar a capacidade de a
crise dos refugiados "provocar ondas de choque a toda a Europa".
Ainda não é
totalmente claro se Hofer irá concorrer contra o veterano do Partido
dos Verdes, Alexander van der Bellen (a quem as primeiras sondagens
dão 19,7%), ou o antigo juiz do Supremo Tribunal, o independente
Irmgard Griss (com 18,8%).
Os dois grandes
partidos que têm ocupado o poder desde 1945 ficaram eliminados nesta
primeira votação. Os candidatos social-democrata Rudolf Hundstorfer
e o conservador Andreas Khol foram excluídos com cerca de 11% dos
votos cada um.
Este é um resultado
inédito para os partidos que governam o país em coligação desde
2007. E ainda que o cargo de Presidente seja sobretudo honorífico, o
resultado é um revés para o chanceler Werner Faymann (do SPÖ) e o
seu vice Reinhold Mitterlehner (do ÖVP).
Cerca de 6,4 milhões
de eleitores foram chamados às urnas para escolher o sucessor do
social-democrata Heinz Fischer, que termina agora o seu segundo
mandato. Segundo os politólogos, era previsível que fossem
penalizar o Governo, desgastado pela crise dos refugiados e por uma
subida do desemprego.
Norbert Hofer, de 45
anos, é vice-presidente do Parlamento e representa a ala “liberal”
do seu partido – terá beneficiado ainda de um recentramento da
imagem do FPÖ, que nas eleições locais do ano passado conseguiu
30% dos votos.
Na Áustria, o
Presidente é o chefe das Forças Armadas e pode, em certas
circunstâncias, dissolver o Parlamento. Foi isso que Hofer ameaçou
fazer no decorrer da sua campanha, caso a maioria não seguisse as
suas recomendações sobre como responder à crise dos migrantes.
Hofer afirmou em comícios que a Áustria, que recebeu centenas de
milhares de refugiados, "não é o departamento social do
mundo", e que o islão não pode fazer parte da cultura
austríaca.
O analista Franz
Schellorn, director do think tank Agenda Austria, comenta ao
Financial Times que a questão dos refugiados se tornou central. "Não
podemos simplesmente dizer que vamos lidar com isto, que não há
problema. Esta é uma lição que nos dá a Áustria".
O mesmo diário
prevê que uma vitória de Hofer vá abrir uma crise política no
país, especialmente se tentar dissolver o Parlamento. Para já, fica
provada a desconfiança dos austríacos nos partidos do
establishment. "O sistema, tal como o conhecemos, chegou ao
fim", comenta o analista político Thomas Hofer. "Há uma
enorme frustração como se vê com estes resultados".
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